Dentre as muitas produções compactadas na mostra De Portugal para o Mundo — em exibição até o dia 15 de agosto no Centro Cultural Banco do Brasil — a principal marca impressa pela curadoria de Pedro Henrique Ferreira é a busca pela difusão do cinema autoral português. Um manancial que pode ser conferido gratuitamente pelo público de Brasília.
Pesquisador em cinema, Pedro reuniu 28 títulos, entre curtas e longas-metragens. Uma seleção de obras com caráter retrospectivo, mas buscando dialogar com a contemporaneidade e representando o melhor do cinema lusitano, em filmes premiados e com carreiras exitosas.
Programado para as 20h de hoje, o longa Understory imprime o olhar da diretora Margarida Cardoso em cima de questões coloniais que reverberam no Brasil. A mostra projeta, ainda, filmes de diretores como Pedro Costa, Miguel Gomes e Teresa Villaverde.
Dos livros para as telas
Referências literárias como António Lobo Antunes e Luís Vaz de Camões, junto com a figura de Dom Quixote (personagem do escritor espanhol Cervantes), podem até se instalar nas tramas de alguns filmes, mas a linguagem do cinema tem peso demarcado nas adaptações. “Podemos encontrar ecos da literatura portuguesa na forma epistolar de algumas das produções, mas me parece mais que esse conjunto de filmes procura se libertar dos cânones históricos da cultura portuguesa”, avalia o curador.
Literatura e cinema, por exemplo, estão casados no curta-metragem Como Fernando Pessoa salvou Portugal, que será exibido no dia 11, às 17h. A película revela o envolvimento do português com uma publicidade reservada a um refrigerante de consumo global. “O poeta representa uma concepção de arte sufocada entre a indústria capitalista e o estado autoritário”, adianta Pedro Ferreira.
Outras obras importantes como O corcunda e A fábrica de nada exploram temáticas derivadas de crises sociais portuguesas. “O cinema português contemporâneo é tão singular do ponto de vista estético, que às vezes esquecemos que, no plano temático, ele articula questões históricas fundamentais. Muitos filmes abordam os efeitos sentidos no país, integrantes do PIIGS — sigla para países de economias vulneráveis da Europa —, depois da crise econômica global de 2008. O desemprego, aliás, é um dos efeitos”, sublinha o curador.
Promessa de vida
Incertezas econômicas e a percepção da fragilidade da vida, que assolam momentaneamente a humanidade diante da pandemia, prometem aproximar o interesse pelo filme E agora? Lembra-me, assinado por Joaquim Pinto, que venceu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Locarno (Suíça). Amor e sobrevivência pontuam a trama, que tem caráter autobiográfico e revela a convivência do diretor com o HIV e a hepatite. “É um filme sobre padecer e sobreviver diante da doença. Ele aborda questões espirituais muito amplas, e é uma obra atemporal”, explica o curador. No longa, pelo que revela Pedro Ferreira, Joaquim Pinto indaga a si próprio sobre a vida e a morte.
Morto há seis anos, aos 106 anos, o mais importante e longevo diretor do cinema português, Manoel de Oliveira, como esperado, está contemplado na mostra do CCBB em: O estranho caso de Angélica e O velho do restelho. O primeiro se detém na vida de um fotógrafo encantado por uma modelo muito especial; o segundo é curta-metragem inspirado em Camões em que intelectuais discutem o porvir de Portugal. “A influência de Manoel de Oliveira, que constituiu uma verdadeira escola, é vasta sobre a nova geração, e podemos notá-la na adoção de encenações literárias e verborrágicas”, observa Pedro Henrique Ferreira.
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