A arte e a memória negras brasileiras estarão em evidência no Distrito Federal durante duas semanas com o festival ODU - Festival de Arte Negra. O evento, idealizado por artistas locais, chega à segunda edição com programações entre os dias 8 e 18 de julho, sempre de quinta a domingo. Devido à pandemia, o festival de 2021 será completamente on-line, com transmissão pelo YouTube. A cerimônia de abertura acontece na quinta, dia 8, às 19h. Teatro, cinema, música, poesia, moda e literatura são expressões usadas para exaltar a arte negra por meio da reunião de artistas de todo o Brasil.
O momento também é um espaço de reflexão proposto ao público com programações como as duas mostras de cinema intituladas CEI e São Sebas. Na primeira, há o reconhecimento ao trabalho da professora Gina Vieira Ponte — educadora ceilandense que usa a arte para reflexões e debates acerca de questões de gênero, equidade e luta pelos direitos das mulheres. A segunda, destaca a atuação do artista Edvair Ribeiro, poeta, oleiro e griô muito ligado à memória e história de São Sebastião.
Além disso, o público pode conferir espetáculos teatrais, como o Nas encruzas — produção baiana que discute o pré-julgamento e o genocídio do povo preto no Brasil-, do ator Leno Sacramento, e a montagem Afeto — que discute os amores possíveis e os negados para duas mulheres pretas — com direção e texto de Fernanda Jacob e Tuanny Araujo.
Arte como transformação
“A arte negra sempre foi, e continua sendo, uma força de aglutinação, ativação da memória, debate e movimentação política”, afirma Ellen Oléria, artista brasiliense e uma das atrações do festival. “Algo que celebre nossas tradições e também contradições de uma herança colonial precisa ser reverenciado e prestigiado”, pontua a cantora sobre o ODU. Para ela, são três os pontos fundamentais dessa reunião artística para o DF: “mistura, memória e consciência”.
Para Victor Hugo Leite, também conhecido como Vhfro, diretor-geral e idealizador do festival, a proposta é gerar espaços de encontro, celebração, reconhecimento e afirmação positiva para artistas negros e negras e para o público. Ele conta que, inicialmente, a criação do evento veio com a vontade de trazer a peça En(Cruz)ilhada, do ator baiano Leno Sacramento, para Brasília. Porém o que era apenas um projeto pontual se desenvolveu, ganhou estrutura e chega à sua segunda edição três anos depois. “Tudo foi movido com muita força coletiva, precisávamos muito de um evento assim, de um grande encontro de espaço para artes, culturas, discursos e existências negras entre a cena local e nacional” acrescenta Vhfro.
O ODU busca se consolidar de vez na cena brasiliense e na nacional da arte. “Ao pensarmos numa estrutura social que sempre visou desumanizar corpos pretos, buscamos reafirmar nossa humanidade reconquistar nossos lugares que há muito vêm sendo privados de nós”, afirma Luisa L’Abbate, coordenadora técnica e produtora executiva do ODU. “O Festival é fundamental para ressaltar as qualidades artísticas dos negros da cidade, formar plateias e dar visibilidade ao teatro e aos artistas”, acrescenta Christiane Sobral, atriz, escritora, professora e embaixadora do ODU.
“ODU não luta por um espaço ao sol, ele é sol, é essencial”, exalta Leno Sacramento, ator do Bando de Teatro Olodum, embaixador do festival. “ODU se destaca por nascer na imensidão de um mar, já com a pretensão de ser grande”, destaca Leno. A curadora e produtora executiva da programação, Rayane Soares, vê um futuro para o trabalho. “Eu o vejo como um festival de referência para outras ações voltadas para a cena artística negra”.
Arte e energia virtuais
A opção por um evento 100% on-line trouxe muitos desafios. “Apesar das dificuldades de produzir um festival dessa dimensão de maneira não presencial, entendemos que precisamos cuidar da saúde de todos que sonham juntos com esse festival”, avalia a produtora executiva e coordenadora de comunicação do evento, Cinthia Santos.
Apesar de todos os desafios, organizadores e participantes apostam no sucesso do evento. “Queremos aumentar a rede, ampliar o acesso e poder ir com esse festival lindo para o máximo de periferias possíveis. Dialogar com artistas locais e realizar esse intercâmbio de saberes”, espera Isabella Baroz, atriz e diretora do filme Quanto mais o tempo passa, mais eu vejo minha mãe em mim.
“Neste período de pandemia, e em vários momentos críticos da história mundial, a arte se mantém resistente e fundamental para o desenvolvimento do pensamento crítico, posicionamento e luta”, reflete Fernanda Jacob, atriz do espetáculo Afeto, sobre como a arte teve papel crucial na pandemia. “Vejo que a arte continua nos surpreendendo com o poder de transformação que ela causa”, conclui.
*Estagiário sob a supervisão de Juliana Oliveira
Serviço
A cerimônia de abertura do Festival ODU acontece na quinta, dia 8, às 19h, e será transmitida pelo canal do YouTube: https://www.youtube.com/c/ODUFESTIVALDEARTENEGRA/, assim como todas as apresentações. A íntegra da programação está disponível no Instagram do evento @odufestivaldeartenegra
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