“Um bioma que tem cerca de 70 milhões de anos está indo embora apenas nas últimas poucas décadas”, alerta de Nicolas von Behr, ambientalista e nome conhecido da cena literária de Brasília. Nascido em Cuiabá, o poeta mora na capital desde a década de 1970, quando também começou a se interessar por temas relacionados ao meio ambiente.
A natureza é uma presença marcante na obra de Nicolas Behr, e o cerrado do Planalto Central, uma de suas musas. No livro Aves, cores e flores do cerrado, o autor reforça a luta para levar ao leitor informações científicas com uma linguagem acessível e poética sobre o nosso bioma, que é um dos mais ameaçados do planeta.
Com belas ilustrações em aquarela de Therese von Behr, a mãe do escritor, o livro elenca 27 espécies vegetais nativas e aves típicas da região com a maior biodiversidade do mundo. Sem a dureza do linguajar científico e os termos em latim, a obra é adequada até mesmo para educação ambiental de crianças e adolescentes nas escolas. “Só preservamos aquilo que conhecemos”, pontua Nicolas.
O lançamento está marcado para hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, no viveiro Pau Brasília, comandado pelo artista e localizado na saída norte do Plano Piloto. O evento, no qual o público poderá adquirir um exemplar do livro por R$ 40, vai ocorrer em horário estendido, entre 9h e 17h, para que não haja aglomeração. Uso de máscara, álcool em gel e distanciamento são obrigatórios.
Biodiversidade
“Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado”, diz um dos poemas mais famosos de Nicolas. Ele lembra que por muito tempo o Cerrado foi o “patinho feio” dos biomas brasileiros, devido à vegetação de menor porte, mais arbustiva, árvores com troncos retorcidos e paisagens “monótonas”. “O cerrado é o berço das águas do Brasil. É aqui onde nascem algumas das mais importantes bacias hidrográficas do país e onde temos uma biodiversidade impressionante”, assinala.
O cerrado pode não ter a vegetação imponente da Amazônia ou da Mata Atlântica, mas esconde muitas belezas e segredos que podem desaparecer com o avanço da destruição do bioma. Maracanã, tico-tico, ema, seriema e gavião-caboclo são algumas das aves listadas no Aves, cores e flores do cerrado.
O tesourinha, nome dado pelo formato da cauda, chama atenção pelo grande percurso que a ave faz para chegar ao cerrado todos os anos. “Eles saem da região da Venezuela e vêm para cá só para se reproduzir, em meados de julho, e depois voltam para o norte do continente. Ainda não se sabe como eles se orientam, para todos os anos fazerem um caminho tão longo sem se perder”, explica Nicolas.
Entre as espécies vegetais, existem a diversidade de cores dos ipês, palmeiras como o buriti, “a árvore da vida do sertanejo” e a canela-de-ema, que se destaca pela longevidade e pelo potencial ornamental. O escritor é categórico ao afirmar que “o cerrado vale muito mais em pé do que destruído. Existem muitas espécies alimentícias e medicinais que ainda são desconhecidas da sociedade. Para evitar que tudo isso desapareça, defendo o desmatamento zero. Que sejam utilizadas para o agronegócio apenas áreas degradadas e abandonadas, que podem ser recuperadas”.
Ilustrações
Therese von Behr, 90, percorreu um longo caminho até se estabelecer no Planalto Central. Nascida na Lituânia, passou por países como Alemanha e Canadá, até chegar ao Brasil, na década de 1950. Antes de Brasília, morou no Mato Grosso e em Minas Gerais, sempre em fazendas. “As pessoas do interior são muito autênticas. Foi com elas que aprendi a amar a natureza e a plantar”, lembra a pintora.
O talento para a aquarela herdou da mãe, a renomada artista polonesa Anna de Römmer. Desde a infância, gostava de pintar a natureza e ruínas do país onde nasceu, palco para vários conflitos bélicos no passado. O Aves, cores e flores do cerrado é a terceira publicação de Therese. Entre os demais, está o A flora do Planalto Central do Brasil, recheado de aquarelas de espécies vegetais da região.
Aves, cores e flores do cerrado
De Nicolas Behr, com ilustrações de Therese von Behr
Lançamento, neste sábado (5/6), das 9h às 17h, no viveiro Pau Brasília
Área Especial Para Indústria 2 - Lote Viveiro, Sobradinho
Arte que conscientiza
O Dia Mundial do Meio Ambiente tem como objetivo principal chamar a atenção para os problemas ambientais e para a importância da conservação dos recursos naturais. Há diversas maneiras de trazer a pauta ambiental à tona para sensibilizar a população, uma delas é por meio da arte. No Distrito Federal, diferentes artistas, cada um da sua própria forma, utilizam a arte para arrecadar fundos e realizar doações para instituições ambientais ou abordam o meio ambiente nas obras com a intenção de incentivar a conservação ambiental.
» Ayana Saito
Estudante da Universidade de Brasília (UnB), Ayana Saito possui o próprio estúdio, chamado Zushi Ushi, para trabalhar com ilustração e design em projetos autorais e como profissional autônoma. Recentemente, Ayana criou o projeto Pôsteres ativistas, com a ideia de realizar artes para vender e doar parte do ganho para algumas instituições ligas à ecologia, como a Cerrado de Pé, uma associação sem fins lucrativos que tem como missão contribuir para a conservação e recuperação do cerrado. O trabalho da associação é por meio da coleta de sementes de gramíneas, ervas, arbustos e árvores de espécies nativas do Cerrado para recuperar as áreas degradadas do bioma.
» Pedro Sangeon
“O artista também se faz pela sua posição no mundo”, diz Pedro Sangeon, o criador do projeto Gurulino, que explora temas reflexivos sobre a vida por meio da arte urbana e de tirinhas publicadas no jornal e nas redes sociais. Para o artista, se envolver com as questões ambientais para promover mudanças e conservar o futuro é responsabilidade de todos, por isso, ele se preocupa em abordar a temática nas artes muralistas e nos quadrinhos. “As questões com o meio ambiente estão sempre relacionadas ao meu trabalho a partir do momento em que, sendo artista, me reconheço como agente cultural e político”.
O Gurulino está presente em várias partes da cidade, seja em muros, painéis, ou dentro de estabelecimentos. Um exemplo é o outdoor no Parque Olhos D’Água. “O Gurulino está sempre à disposição de projetos que tenham esse cunho de defender as questões ambientais, por exemplo o veganismo e o vegetarianismo. Eu tento levar isso para as minhas tirinhas, para os muros e para as histórias que eu conto. Isso é uma forma de se aliar”, afirma Pedro Sangeon.
*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira