OBITUÁRIO

O samba se despede de Dominguinhos

Domingos do Estácio morreu na madrugada dessa segunda-feira (31/5), aos 79 anos, após passar por cirurgia em hospital de Niterói (RJ). Sambista era referência na composição de sambas-enredos

Conhecido como Dominguinhos do Estácio, o mestre de samba Domingos da Costa Ferreira, de 79 anos, morreu na madrugada de ontem, no Rio de Janeiro, por complicações de uma hemorragia cerebral. O cantor, compositor e intérprete de samba-enredo estava internado desde 11 de maio no Hospital Azevedo Lima, em Niterói, após passar por cirurgia. Como nota de pesar, o anúncio foi publicado no perfil do músico no Instagram: “É com muita tristeza que viemos, por meio dessa rede social, comunicar o falecimento do nosso querido mestre, Dominguinhos do Estácio”. Ele deixa cinco filhos e a esposa, Heloísa Helena, além de fãs e amigos.

No início de 2020, o sambista precisou ser internado por conta de um infarto que sofreu logo após o desfile pela G.R.E.S Unidos do Viradouro, última escola de samba que representou na avenida, e que venceu o carnaval do ano passado. Na publicação, a escola prestou homenagem declarando que “o mundo do samba se despede de um dos maiores nomes da história. Obrigado, mestre. Estará sempre em nossos corações. Nós te amamos”. Em 2017, a escola o homenageou como destaque.

Nascido no Morro São Carlos, no bairro carioca do Estácio — vem daí o apelido e nome artístico — região central da cidade, o sambista citava Jamelão como uma de suas principais referências. Começou a carreira na década de 1960, pela Unidos de São Carlos, que em 1983 passou a se chamar Estácio de Sá. O legado deixado por Dominguinhos será marcado pelo espírito de alegria e de vitória no samba, já que o compositor foi multicampeão no carnaval carioca, vencendo cinco vezes. Ele também teve passagens pela escola Acadêmicos do Grande Rio, ajudando-a a ser promovida, pela primeira vez, ao Grupo Especial e pela Inocentes de Belford Roxo, além de diversas outras.

Canções

Os destaques no samba-enredo ficam por conta das canções Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós, de 1989, que embalou o desfile da Imperatriz Leopoldinense e também foi tema de abertura da novela Lado a lado, de narrativa e protagonismo negros. Em 1997, com a Unidos do Viradouro, entoou os versos de outra vencedora: Trevas! Luz! A explosão do universo. No carnaval 2010, voltou como intérprete oficial da Imperatriz e levantou a Sapucaí com o enredo O Brasil de todos os deuses. Fora do carnaval, Dominguinhos lançou quatro discos e participou da formação de um grupo denominado Puxadores do Samba, composto também por Jackson Martins, Preto Jóia, Serginho do Porto e Wantuir.

Em nota do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), o sambista deixou de herança para a cultura do samba 73 músicas de sua autoria e 229 gravações cadastradas no banco de dados do escritório. O levantamento mostrou que a música interpretada por Dominguinhos mais executada nos últimos cinco anos foi Boêmio de verdade, de autoria de Djalma Falcão e Bicudo.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

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