Música

Sem festa presencial, celebrações juninas e forrozeiros se reinventam

No segundo ano seguido sem festas juninas, os artistas forrozeiros se reinventam e lutam para garantir que a música chegue aos apreciadores da cultura popular

Fernanda Gouveia*
postado em 24/06/2021 06:00
Com a pandemia, a artista Carol Carneiro, que trabalha com forró pé de serra, participa de lives e projetos parceiros -  (crédito: Joanna Hoffman/Divulgação)
Com a pandemia, a artista Carol Carneiro, que trabalha com forró pé de serra, participa de lives e projetos parceiros - (crédito: Joanna Hoffman/Divulgação)

Enquanto o mundo passa pelo segundo ano de pandemia de covid-19, festas tradicionais do Brasil continuam prejudicadas e interrompidas. Uma delas é o clássico Dia de São João, comemorado hoje, mas representado durante todo o mês por meio das festas juninas. Com lugar especial na cultura popular brasileira e originário do Nordeste, o forró é um dos ritmos mais tocados nas festas juninas ao redor do país, época em que costuma garantir destaque e ganha-pão para os artistas do gênero.

A necessidade do distanciamento social, desde o ano passado, colocou os artistas forrozeiros em uma posição vulnerável e, por isso, muitos tiveram que buscar outras soluções para se manterem. Artistas de forró necessitam do apoio do público para divulgar os trabalhos por meio das plataformas digitais e garantir a fidelidade dos apreciadores desse estilo tão importante.

“Nós fomos muito prejudicados, principalmente os forrozeiros, porque o forró pé de serra está relacionado aos meses de junho e julho, que é quando aparecem mais oportunidades para gente trabalhar. Então, quando não tem isso, nós passamos por uma dificuldade”, explica Dadá Nunes, músico que possui uma história longa com o forró, vinda de outras gerações da família. “Meu pai queria que eu tocasse sanfona e realizei o sonho dele, estou aqui tocando até hoje”, relata Dadá.

Para Luizão do Forró, sanfoneiro, compositor e intérprete paraibano que vive em Brasília desde 1979, o público do Distrito Federal que consome forró é fiel e a música agrada várias faixas etárias. “Todo o DF gostaria mesmo era de dançar muito forró junto de nós. Mas, mesmo sem shows, o público contribui muito compartilhando nossos trabalhos nas redes sociais, isso já é um grande feito”, declara Luizão. O artista procura participar de várias ações com outros músicos nesse momento, como lives e gravações em estúdio. “Ainda tudo bem limitado. Vamos levando e seguindo sempre na fé!”, diz.

Durante esse período complicado, as lives e os financiamentos coletivos são alternativas utilizadas por artistas de diversas áreas da música. “A gente vem atuando no formato de lives semanalmente para conquistar o público que gosta de ouvir as músicas e também porque a gente interage bem nas lives. Acreditamos que só vamos voltar a fazer bailes e forrós depois de uma vacinação ampla, apesar de já acontecer eventos clandestinos, a gente se preserva e acredita que temos que preservar o público para que a gente possa voltar com segurança”, conta Cacai Nunes, músico de forró desde o início dos anos 2000 e que hoje atua como DJ com um repertório que retrata “o povo nordestino na sua essência, a partir de discos de vinil, de artistas mais consagrados, mas também de artistas que não tiveram tanta exposição midiática, apesar de terem muito talento”.

As lives também foram uma alternativa para Carol Carneiro, que trabalha com o forró pé de serra e costuma fazer experimentações com novos atrativos para o estilo, como o reggae, o brega e o forró caribenho. “Eu tenho sido chamada para participar de lives e de projetos, isso segurou muito a minha onda e eu sempre acreditei em chamar muitos parceiros para os meus trabalhos. Juntos, conseguimos mais”, diz a artista, que estará presente no evento online Segunda Cultural, promovido pelo açougue T-Bone, no dia 28, às 20h, pelo canal do YouTube da casa de carnes brasiliense.

A forrozeira Maísa Arantes encontrou nas aulas de música um complemento para garantir a renda além das lives e outros projetos. “Eu mesma passei a dar aulas, porque se for para depender das lives, a gente não consegue. Eu sou uma artista independente, então eu promovo os meus próprios trabalhos. Nesse sentido, optei por fazer uma transição mais forte para essa área da educação”, conta Maísa, que no momento realiza um financiamento coletivo para lançar o primeiro disco da carreira solo Peripécia brasileira. “O desejo das pessoas por forró é uma coisa que continua firme e forte, não tenho dúvidas. Eu, enquanto artista, estou realizando atividades online e as pessoas têm curtido muito e dizem que estão com muita saudade, então isso é muito positivo para o movimento do forró”, aponta.

Unidos pela paixão à música, todos esses artistas acreditam na potência da cena do estilo na capital. “O forró tem o seu cantinho aqui em Brasília e nunca vai acabar, até porque tem muitos nordestinos na região”, opina Dadá Nunes. O artista também acredita que “quando acabar tudo isso, os músicos vão voltar ao normal para trazer felicidade para o povo e tocar música. Acho que estamos vivos para dar música ao povo, então, isso é o que importa”.

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

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