Amor, respeito e leveza, essas três palavras regem toda a carreira de Péricles. O cantor conhecido pelos belos sambas, pela potente voz, além de ser uma pessoa divertida e de ótima convivência, busca levar toda a alegria de viver para o lançamento do single O melhor do mundo, em parceria com a cantora Liniker. A música faz parte do projeto YouTube Black Voices, em que artistas negros do mundo inteiro apresentarão suas novidades e terão um espaço exclusivo na plataforma.
Péricles escolheu essa música porque acredita que traz leveza e destaca um tema importante. “(A canção) Fala de amor de uma maneira muito leve, uma maneira despretensiosa de tratar de amor. Neste momento em que vivemos (de pandemia), uma música como essa não podia faltar”, afirma o sambista.
O músico também aproveitou para elogiar Liniker no processo. “Ela realmente é fora do comum, é fantástica”, exalta Péricles. “Eu descobri que ela é uma força muito maior do que eu imaginava, o trabalho dela, inclusive internacionalmente, tem uma potência muito grande. Convidá-la foi um presente para mim”, adiciona o sambista.
Vozes negras importam
Contudo, para o cantor, essa música é muito mais do que apenas um lançamento, ela possui importância social. “A canção vira pano de fundo de algo bem maior, que é a gente poder mostrar, por meio do YouTube, que a gente está batalhando por condições melhores para artistas negros do mundo todo”, explica o ex-Exaltasamba. “A partir dessas ‘black voices’, a gente tem uma visão melhor de mundo. A gente sabe quem a gente é, de onde nós viemos e para onde vamos”, pontua Péricles. O artista é um dos brasileiros que faz parte da iniciativa, que terá nomes como Evandro Fióti e Rael.
“Vivemos em um país e em um mundo que se acostumaram a ver o negro como inferior, e isso não cabe”, analisa o músico. Péricles vê o projeto importante para esses tempos em que discursos de ódio estão em alta. “Esse projeto vem para fazer que a gente não se esqueça tudo que foi conquistado até agora”, reflete, e ainda prevê que há um caminho longo para trilhar até chegar ao mundo que vê como ideal, no que diz respeito à forma como os negros devem ser tratados. “Nós, no mundo todo, só seremos seres humanos melhores se respeitarmos uns aos outros, se passarmos a sentir a dor do outro e estarmos no lugar dele”, acrescenta.
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Conexões sonoras
“Eu procuro levar para minha música o que eu sou na minha vida normal, com muita leveza e muito respeito”, conta o cantor, que entende que essas duas palavras-chave moldaram a forma como ele fez música durante toda a carreira. “É importante a gente falar de amor, mas não dá para ser um discurso truculento, não dá para bater de frente com ninguém. E a maneira que a gente tem de fazer isso é a partir do respeito e da leveza”, comenta o artista.
“Se eu respeitar meu semelhante, ele também vai me respeitar e vai ouvir com mais clareza aquilo que eu tenho a dizer. Isso foi sempre uma constante no meu trabalho”, apresenta Péricles, como mantra da forma como faz música. “Eu quero que boa parte da leveza que eu tenho seja divulgada por meio da minha música. Quero que muita gente se espelhe no exemplo que eu estou dando”, completa.
Com a leveza que Péricles acredita, o músico viu o próprio samba se misturar com diversos tipos de música recentemente. Além de Liniker, ele colaborou com artistas de funk como Papatinho e MC Hariel e também se aventurou na nova MPB, em um lançamento do Dia dos Namorados, com a banda As Baías. O cantor vê essas misturas de gêneros como ideais. “Eu sempre sonhei com um cenário assim, acredito na música somente dessa maneira”, enfatiza.
“Antigamente, digo há 50 ou 60 anos, seria impensável você ter as junções que temos hoje”, ressalta o compositor, que acredita que isso significa o crescimento de uma união pouco vista na história da música brasileira. “Eram tribos, e cada um defendia a própria verdade. Porém hoje vemos que a verdade é algo muito maior, sou eu que junto com você, junto com outro vamos todos fazer um mundo melhor”, conclui.
De acordo com o ex-Exalta, foi um trabalho muito longo e que envolveu muitas pessoas para que o pagode e o samba permeassem tantos gêneros atualmente. “Nós, principalmente do pagode 1990, nos deparamos com uma porta muito grande e muito pesada que não abria de jeito nenhum. Um belo dia, de tanto empurrarmos, abriu uma frestinha e um de nós entrou e ajudou a abrir mais um dedinho, então botamos dois para dentro. Abrimos mais e gritamos “vem!”, e onde passava um, passaram vários. Hoje somos a realidade de uma luta de mais de 30 anos”, explica Péricles.
“Eu me considero um vencedor, porque eu, por meio da minha música, consegui movimentar e elevar a vida de muitas outras pessoas. Eu me sinto realmente muito feliz em ver o resultado que a música na qual acredito alcançou em todo o mundo”, considera o artista. Contudo, para Péricles, ainda não é o suficiente. “A batalha está só no começo. Tem que estar bom não só para mim, tem que estar bom para todos nós”, diz.