CINEMA

Ao Correio, Alessandra Negrini apresenta novo trabalho e lembranças de Brasília

A atriz estrela no filme 'Acqua movie'; e para quem está com saudades de ver Alessandra na telinha, a notícia vem em boa hora: o canal Viva acaba de confirmar a reprise de 'Paraíso tropical', novela em que a paulistana tem papel duplo

Ricardo Daehn
postado em 13/06/2021 06:00
Cena do filme 'Acqua Movie', de Lírio Ferreira, com Alessandra Negrini -  (crédito: Fred Jordão/Divulgação)
Cena do filme 'Acqua Movie', de Lírio Ferreira, com Alessandra Negrini - (crédito: Fred Jordão/Divulgação)

À frente da personagem Duda, uma mãe instável na maternidade, a atriz Alessandra Negrini vem brilhando nos cinemas que exibem o mais recente filme do diretor Lírio Ferreira, Acqua movie. Na pele de uma ambientalista (no cinema), Negrini demarca, na vida real, que “a luta indígena é uma questão que deve ser de todos nós”, além de reforçar a necessidade de brasileiros recuperarem o senso de união. Com algumas cenas provocativas, Acqua movie avança no terreno da liberdade, ao que Negrini pontua: “Não dá pra fazer filmes só para os conservadores... O diretor tem liberdade de criar, e a gente cria. A gente fala, em cinema, de representações. A arte representa, simboliza. Isso é tão básico que não entendo que se precise ainda dizer”.

Na “peculiar” Brasília, Alessandra Negrini — trabalhou com cineastas como José Eduardo Belmonte (“um mestre”) e Karim Aïnouz (formado pela UnB). Ela só guarda referências positivas, que vão de Renato Russo ao céu da capital, em que gravou obras como JK (série de 2006) e cenas de Anjo mau (novela de 1997). Além disso, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no qual brilhou, premiada por Cleópatra (2007). Para quem está com saudades de ver Alessandra na telinha, a notícia vem em boa hora: o canal Viva acaba de confirmar a reprise de Paraíso tropical, novela em que a paulistana tem papel duplo.

» Entrevista / Alessandra Negrini

Você é muito assediada? Você percebe que tem poder, nas ideias que defende?

(Risos) Graças a Deus, e fico com muito feliz com o carinho do público. É isso que faz a gente persistir nessa jornada de ser artista no Brasil. Você vê que as pessoas gostam, precisam, amam, se sentem felizes e contempladas de alguma forma. Eu só tenho a agradecer. Quanto ao posicionamento, eu sou artista, e todo artista tem algo a dizer, senão não seria artista. Eu acredito na arte como grande força transformadora do mundo. Assim como no ativismo.

Do que gosta em Brasília; tendo filmado aqui, no passado, a série JK e a novela Anjo mau?

Brasília é demais! O Festival de Brasília é incrível, muito bom, sempre. Gosto demais, sempre fui muito feliz aí. Em Brasília, acho a luz tão bonita, é cinematográfica. Há aquela coisa plana, e o céu. O que mais me chama atenção em Brasília é o céu. Acho belíssimo. É uma cidade pela qual tenho muita simpatia. Ganhei o prêmio Candango com Cleópatra, uma rainha, uma política maravilhosa, uma mulher importantíssima. Uma mulher que conquistou os generais. Ela tinha muito poder, né?

O que ficou da experiência? Não houve unanimidade quanto a alguns prêmios...

O longa ganhou muitos prêmios, inclusive diretor e melhor filme. A gente saiu muito campeão de Brasília. O Festival de Brasília é sempre muito quente, muito aguçado. Eu acho incrível. Quando ganhei o Candango, eu estava na Europa, apresentando A gaivota. Meus amigos me deram, de brincadeira, eles me deram um troféu de brincadeirinha. Infelizmente, eu não estava. Mas tenho um grande orgulho deste prêmio no Festival de Brasília. Não pude ficar o evento inteiro, e, um dia antes de ir embora, estava no histórico Hotel Nacional, e sonhei que eu voava pelo hotel inteiro. Num voo rasante, eu voava por Brasília. Acho que foi premonitório. Foi um sonho meio Cleópatra. Foi muito legal.

Falando em cinema, como percebe o meio para as mulheres profissionais?

A gente vive muito ainda num mundo muito machista, mas as coisas estão melhorando muito. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer: mais mulheres têm que vir. Mais autoras, mais diretoras. Eu não tenho nada contra trabalhar com homens. Não sou este tipo de feminista, não (risos). A mulher tem que ocupar mais espaço, por trás da câmera: no texto, direção, produção, na área técnica. Mas isso já mudou: está realmente muito melhor. O assédio existe, num ambiente machista, e, para a mulher, sempre é mais difícil; tudo é mais difícil. A gente precisa muito mais de participação, e de mulher negra. A alta porcentagem das negras tem que estar refletida no cinema. Precisamos de temática mais femininas. A gente passou por um cinema muito masculino. A gente precisa amadurecer. Eu, como mulher, me sinto nessa luta, nesse compromisso.

Seu novo filme, Acqua movie, trata de maternidade, de tópicos indígenas e de degradação ambiental. Qual a dimensão disso, e já investiu em outras obras que tratavam de índios?

Acho que esse filme tem grande importância. Gostaria que muitas pessoas vissem porque ele fala de questões bem importantes: traz o Brasil; o Brasil de hoje. Acho bacana que ele pega pela emoção. Não fica num didatismo, numa coisa racional. O que conduz a narrativa é a relação mãe e filho. Dá para tratar dessas questões políticas e sociais e dos indígenas, mas é sempre pelo lado do íntimo. Isso é o diferencial do filme. Acho bem importante esse longa ser visto agora. Ele nos diz respeito, completamente, inteiramente. Já fiz outros trabalhos ligados a indígenas. Fiz A muralha (2000), aliás, um pouco de antropologia. Fiz dois anos de ciências sociais. Estudei na USP, com professores maravilhosos. Tive alguma formação, e, ao acaso, a vida foi me levando. Eu sempre me interessei, sempre foi uma questão que me tocava muito, se não fosse atriz, eu teria provavelmente seguido essa profissão. Quando fiz A muralha, contracenamos com várias etnias. A luta indígena é uma questão que deve ser de todos nós. Ao lado da luta pelo meio ambiente, trata-se de uma coisa só. A gente tem que se unir. Eu me sinto honrada de estar no Acqua movie.

A série Cidade invisível traz a identidade brasileira expressa e tem você em destaque. É difícil viver a Cuca?

A temporada foi uma coisa maravilhosa; foi um presente que recebi. Falar sobre as raízes brasileiras, levar isso para mais de 190 países, que é o caso do alcance da série, é um privilégio. Falar da gente, de quem nós somos. A Cuca é um personagem que faz parte do imaginário de todo mundo. É uma releitura, ela trata do medo, do inconsciente infantil. Foi muito legal e divertido. Terá uma continuidade esse trabalho. Foi um grande sucesso, surpreendente, e a gente vai filmar, logo.

Há ensinamento com a pandemia? O que aprendeu?

Ensinamento não é possível ter. Acho que a gente está vivendo momentos muito difíceis. Ainda estamos atravessando a pandemia. Ainda é muito cedo para falar de aprendizado. Acho que não tem ensinamento: a gente tem que é sair dessa. Temos que vacinar as pessoas. A pandemia é como se fosse um estado de guerra. A gente tem que sobreviver e salvar o maior número de pessoas. Temos que sair fortes, cuidando da saúde física e mental. Temos que recuperar o país. São momentos muito difíceis. Num país como o nosso, ainda é mais difícil.

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