A música brasileira está passando por um rápido período de mudanças. Uma nova geração está tomando a frente e conversando de forma atual com um novo público, que não se sentia representado pela cena musical e buscava opções. São jovens negros, talentosos, que misturam influências estrangeiras com referências brasileiras e fazem um som que transita entre hip-hop, jazz, blues, R&B e Lo-Fi, mas com uma cara própria e uma assinatura muito clara.
A Tuyo é um dos nomes proeminentes da cena, o trio de Curitiba acaba de lançar o segundo álbum de estúdio, Chegamos sozinhos em casa. Já consolidados, Lio, Lay e Machado apresentam uma música muito baseada nos beats e efeitos sintéticos de computador e que não perde a brasilidade, mas, sim, traz um caráter mais eletrônico aos ritmos brasileiros. “Tuyo é aquele restaurante que tem massa, churrasco, comida japonesa, tem tudo para todos os gostos”, brinca Lay, sobre a mistura de gêneros que a banda apresenta.
“A gente é guiado por um objetivo que ultrapassa a música, mas passa por ela. Então, vamos usar tudo que tem ao nosso redor para fazê-la”, afirma Lio. A cantora fala que o foco é se conectar e dialogar com o próprio público. “Nenhuma das nossas canções faz sentido cantando para a parede. Eu preciso falar com quem está escutando”, completa a musicista. E essa mistura fez sucesso, a banda tem milhões de reproduções tanto no Spotify quanto no YouTube e trabalhou com artistas como Baco Exu do Blues e Fresno.
Assim como a Tuyo, o duo do Rio de Janeiro Yoùn também acredita que a mistura de gêneros é uma realidade nessa nova geração da música brasileira. “A gente tenta misturar tudo que a gente ouve e trazer para uma linguagem universal. Conversar com um mundo que fale a linguagem da rua, e linguagem poética e mais artística”, explica Shuna, que divide o Yoùn com PG. Os dois começaram cantando em trens cariocas e, atualmente, são considerados promissores da cena musical do país.
“O Yoùn hoje, no cenário nacional, é aquela fofoca boa que todo mundo quer passar primeiro”, destaca Shuna. Os dois tiveram grande visibilidade, e os maiores sucessos da dupla foram compartilhados, principalmente, via redes sociais. Por conta disso, o duo ostenta grandes números de reproduções e visualizações no álbum de estreia, BXD IN JAZZ, lançado em maio deste ano.
“A gente fica feliz demais porque tudo acontece de forma orgânica. É natural, a coisa rola, desde que a gente ia para rua levar nossa música até agora”, adiciona PG. “Hoje em dia o jovem que quer viver do próprio sonho, não precisa mais de uma instituição muito grande para fazer o sucesso que quer, hoje a gente tem plataformas que possibilitam a gente estar se virando e fazendo nossa música”, completa Shuna.
“É muito bom que, no momento em que vou lançar essas coisas só minhas, eu estou em um ambiente cercado de pessoas em quem eu me inspiro e que têm a minha cara, a minha cor e o som que eu me interesso”, afirma Preto Nuvem, pseudônimo do baterista, de Brasília, Pedro Barbosa, que faz parte das bandas Tiju e Enação e está lançando carreira solo ainda em 2021, com álbum previsto para estrear até o fim do ano. “É muito massa ver uma cena na qual eu me encaixo”, apresenta o músico que afirma tocar o que o toca emocionalmente. “As minhas músicas são coisas que eu queria dizer, mas não sabia como, e dei um jeito de me expressar pelo som”, adiciona.
Shuna e PG concordam com Preto Nuvem nesse sentido, eles acreditam em um movimento de mudança. “Essa cena está literalmente se formando, e, daqui há uns 15 anos, a gente vai poder falar que fez parte do início de tudo. Isso é legal pra caramba”, pontua Shuna. “Tenho a noção de que somos pioneiros de uma nova linguagem de música, não somos os primeiros a fazer, mas nós estamos fazendo de forma atual, com a vivência da rua, a internet, conversamos com outro público”, complementa o cantor.
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Cantando vivências
“Em toda favela tem um prêmio Nobel que a polícia caça e mata”, canta Edgar na música Prêmio Nobel. O rapper paulista afirma que poderia ter sido uma dessas pessoas mortas pela polícia e que todas essas experiências o levaram a fazer o rap crítico que apresenta em Ultraleve, segundo disco da carreira, lançado em maio de 2021. “Eu escrevo o que eu vivo, por isso que minha música é bem plural. São várias coisas que eu vou assimilando”, adiciona.
Apesar de fazer rap, um gênero popular no Brasil, Edgar se destaca pela forma como faz. Para o novo álbum, ele reciclou e criou instrumentos que tivessem os sons que queria, assim, não produziu lixo e se manteve fiel às críticas de como o ser humano tem destruído o meio ambiente que propôs na poesia que cantava.
“É pensar o agora, pensar o que eu preciso. Se é emergência ambiental que eu tô cantando, vou reciclar um instrumento”, aponta o artista. “O rap e o hip-hop sempre estiveram na essência do som. É mais pensar na roupagem o que eu queria”, acrescenta.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira