No ano em que a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (ARUC) completa 60 anos, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) inaugurou um totem na sede da associação, localizada no Cruzeiro Velho. Criada em 21 de outubro de 1961, a Aruc é a maior vencedora dos desfiles das escolas de samba do DF, com 31 títulos e octacampeã consecutiva entre 1986 e 1993. Além disso, a associação apresenta atuação nos esportes, com equipes de futebol, futsal, handebol e futebol de areia.
A cerimônia de inauguração do totem-monumento foi realizada nesta terça-feira (25/5) às 10 horas da manhã e contou com uma apresentação da bateria, dos passistas e do casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Aruc, além da presença de alguns atletas das equipes esportivas. O evento ocorreu ao ar livre com o uso de máscaras obrigatório. O totem foi inaugurado pelo administrador do Cruzeiro, Luiz Eduardo Gomes, com o secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues. “A Aruc é parte indissociável da nossa cultura”, diz o secretário em entrevista ao Correio.
Registrada como Patrimônio Cultural Imaterial do DF desde março de 2009, a Aruc sofre um problema com a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), que declarou a inconstitucionalidade das leis que amparam o Termo de Cessão de Uso da área pela Aruc, assinado em 17 de janeiro de 2017. A associação está localizada na sede do Cruzeiro desde 1974. “Ainda não é uma decisão final, cabe recurso, e nós estamos tentando junto ao GDF, já tivemos contato com o vice-governador e com o secretário de Cultura, para tentar encontrar uma solução, alguma saída legal, para que a gente possa refazer o Termo de Cessão sem estar amparado nas leis que foram declaradas inconstitucionais e garantir a nossa permanência ali”, explica Moacyr Oliveira Filho, ex-presidente da Aruc, em entrevista. Assim, ao comparecer à cerimônia de inauguração do totem, Bartolomeu Rodrigues reafirmou o apoio à associação. “Minha presença física nesse ato de instalação do totem foi para dizer que estou me pondo na linha de luta para que a Aruc permaneça onde está”, declara o secretário.
Além disso, a Aruc enfrenta uma ação na Justiça, solicitada por um morador do Cruzeiro Velho, com base na Lei do Silêncio que, na prática, impede qualquer atividade da entidade que exceda o limite de emissão sonora de 50 dB, o que representa o som de uma conversação normal. “Entramos com um recurso que não foi acatado e agora aguardamos o juiz convocar uma audiência para que possamos dialogar com este morador, e também com a comunidade, para encontrar uma solução que atenda os parâmetros dessa lei, mas não impeça nossas atividades”, conta Rafael Fernandes, atual presidente da Aruc, em entrevista. “Nós temos vários moradores que dão depoimento a nosso favor, que são parceiros e gostam da Aruc. A gente espera que o bom senso prevaleça e estamos abertos ao diálogo com este morador”, complementa Moacyr Oliveira Filho.
Em 60 anos de atividade, a Aruc passou por diversos momentos marcantes para a cultura brasiliense e nacional. Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Alcione e outros grandes nomes do samba brasileiro passaram pelos palcos da associação, que foi batizada pela Portela. No ano de comemoração dos 50 anos, em 2011, a associação foi convidada para participar no desfile oficial de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios, evento que representou um marco na história da Aruc.
Com a pandemia de covid-19, a associação enfrenta tempos difíceis e procura soluções para a manutenção do clube. “Reduzimos consideravelmente as atividades, mas temos recebido uma ou outra, dentro da flexibilização. Em outubro, por exemplo, fizemos nossa primeira live para a escolha de samba-enredo”, relata Rafael Fernandes. O secretário de Cultura se manifesta ao dizer que, mesmo com o esforço da Secretaria de Cultura e Economia de lançar projetos e programas de ajuda emergencial, muitos estão sofrendo. “Agora mesmo está em curso o maior edital do Fundo de Apoio a Cultura (FAC) já lançado no DF, no valor de R$ 53 milhões. Hoje, na Aruc, fiquei feliz quando o passista me informou que um daqueles adereços apresentados foram adquiridos com recursos da Lei Aldir Blanc, que executamos em quase sua totalidade”, conta Bartolomeu Rodrigues. “Estamos, neste momento, preparando outros projetos, independentemente do FAC, para que setor cultural do DF não fique a ver navios nessa crise”.