Série

Com formação no DF, ator Tulio Starling brilha em série do Canal Brasil

'Hit parade' tem o colorido e os excessos dos anos 80, ao retratar os bastidores da indústria fonográfica brasileira: pela frente sexo, drogas e MPB, além de rock

Foi na mesma capital Belo Horizonte, em que nasceu Tulio Starling, um dos mais brasilienses atores de teatro e cinema da atualidade, a sede para as gravações da série Hit parade, que, encabeçada por Starling, começou a ser exibida (sextas, às 22h30; com reprises aos sábados e segundas) tanto no Canal Brasil quanto nas plataformas da Globo e da Globoplay. Intérprete de Simão, um produtor musical que se afirma nos anos de 1980, Tulio, depois de imerso no cinema candango, abraça a telinha, tendo por parceira de cena Bárbara Colen, uma das estrelas de Bacurau.

"Nos afinamos muito bem, numa parceria orgânica impressa no casal de protagonistas. Simão traz uma rigidez ideológica e que serve quase como prisão; depois, no meio de ambições e conquistas, ele se esvazia de alguns valores importantes", observa Tulio Starling, que seguiu para São Paulo, saído de Brasília, há três anos. Nervoso, na hora das gravações da série, ele destaca: "Depois, não tem o que possa fazer (risos). Já assisti, e tenho a alegria de saber que a obra está muito boa".

Hit parade conta das artimanhas de produtores musicais, sem desprezar o submundo e ainda as imersões nas drogas atreladas à aspirações e inspirações musicais. Criada por André Barcinski, um nome de ponta (na cobertura jornalística atrelada à indústria musical e do entretenimento), a obra traz à tona estética e preâmbulos comuns em filmes consagrados no cinema oitentista de diretores como Chico Botelho, Sérgio Bianchi, José Antônio Garcia e Carlos Reichenbach. Na direção da obra está Marcelo Caetano, do premiado longa-metragem Corpo elétrico, que levou a assinatura no roteiro de Hilton Lacerda (Tatuagem). Confira o trailer:

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Hit papade examina os bastidores dos programas de auditório, trata de arriscadas fórmulas de sucesso para gravadoras e revela artifícios escusos de algumas empresas da indústria fonográfica. Competição, relações emaranhadas em amor e sexo, e o glamour retrô das boates em que personagens centrais circulam pipocam a cada um dos oito episódios da série. Oponentes iniciais de Missiêr Jack (Robert Frank), Simão (Starling) e Lídia (Bárbara Colen) tentam se afirmar, tendo por estandarte a gravadora que eles criam: a Sensacional Discos.

Para além do festival de neon e do brilho das luzes multicoloridas, o apuro visual da série deriva de ótimas direção de arte (Maíra Mesquita) e direção de fotografia (Wilssa Esser, premiada no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, pelo longa-metragem Temporada, em 2018). Iniciado no cinema, sob a direção do amigo Bruno Torres, em A noite por testemunha (2009), Tulio Starling, o protagonista de Hit parade percebeu um "equívoco político" de, à época de uma outra premiação no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (que ele partilhou em conjunto com atores do filme de Bruno Torres) não contemplar um colega do curta (o indígena Fidelis Baniwa). "Houve o equívoco, dado o período de debates a menos na questão da representatividade", opina, ao recordar da controversa entrega de troféus Candango.

Muito barulho por muito

Hit parade mostra o imbricar da indústria da música com populares programas de auditório e o universo kitsch das telenovelas. Junto com trama que acopla uma stalker e integra personagens de talentos sobressalentes, caso do cover Onésio (Luiz Rocha) e da experiente Silvana (Docy Moreira), a série apresenta nuances para Lobinho (Odilon Esteves), imprevisível apresentador de programa à la Chacrinha, atrelado aos núcleos como o dos nada promissores jovens do grupo Os Baunilhas e ainda ao galã de novel Duda Talagão (Bernardo Filaretti). No meio de festanças e carreiras (profissionais e de pó), um dos grandes destaques no elenco é a pernambucana Nash Laila (de Deserto feliz e Amor, plástico e barulho) na pele da assanhada dançarina e cantora Natasha. Encantadora.