Dois dos mais talentosos e produtivos cantores e compositores surgidos na década de 1990, o paraibano Chico César e o maranhense Zeca Baleiro retomaram a parceria iniciada no começo da carreira de ambos. Entre maio e agosto do ano passado, em pleno período da pandemia, eles compuseram algo em torno de 20 músicas. Dez delas foram reunidas num álbum, que tem lançamento previsto para este mês. Duas dessas canções, Respira e Lovers, foram reunidas num single duplo e já estão disponíveis nas plataformas digitais.
Trecho da letra de Respira, que remete aos tempos de agora, diz: “Não se entregue não/ Ainda tem chão, respira...”. Lovers, um reggae romântico, próprio para dançar de corpos colados, sugere: “Lovers para os haters”. Entre as composições que resultaram da parceria de Chico e Zeca há balada, reggae, rock e xote. Como os dois são letristas e melodistas, o processo de criação foi bem variado, com muitas experimentações. Tem letra de um e música do outro, mas também canções feitas em conjunto.
Produtor do disco, Swami Jr diz que conheceu Chico César e Zeca Baliro no início dos anos 1990. “Eram então dois jovens brilhantes e, sobretudo, corajosos artistas nordestinos enfrentando a cidade grande paulistana com a couraça do sonho inabalável. Conhecendo pouco a pouco o que eles criavam, tive a certeza de que logo estariam no ‘altar’ da música brasileira. Chico e Zeca são daquele seleto grupo de compositores em cuja música há o grito clandestino de haver alma. Em sua obra estão a voz do Nordeste, de Arari e Catolé do Rocha, a voz de todas as vozes da canção brasileira em uma visão generosa, plural e grandiosa da música popular brasileira”.
Três décadas
Chico comenta que esse projeto com Zeca caracteriza o encontro de três décadas. “Parece que demorou, mas tudo tem seu tempo, o período de maturação. A pandemia, de certo modo, veio nos dizer da necessidade de estar perto das pessoas com as quais nos identificamos e nos vinculamos em ética e estética. Claro que tematizamos a pandemia, mas também fizemos canções que poderiam ter sido geradas em qualquer momento e falam de outras coisas, assuntos perenes em nós”.
“Eu e Chico nos conhecemos desde 1991, ano em que cheguei a São Paulo. Nos tornamos amigos e parceiros desde então, mas, na real, nunca fizemos muitas músicas juntos. A parceria se dava mais num plano de troca de estética e admiração mútua”, lembra Zeca. “Com a pandemia e o isolamento, algo se deu, algum pavio criativo se acendeu em nós. Começamos a trocar ideias, pedaços de letras ou melodia e refrões à espera de estrofes e, desde maio do ano passado, compusemos duas dezenas de canções. Resolvemos gravá-las por reconhecer nessa produção uma longa história de amizades e afinidade musical”, complementa.