Aldir Blanc, um dos mais celebrados letristas da música popular brasileira, deixou vácuo gigantesco na cultura do país, ao falecer em 4 de maio de 2020. Algumas homenagens foram prestadas ao poeta carioca, entre as quais a criação, meses depois, de lei com seu nome, que garante auxílio emergencial a trabalhadores do setor da cultura, em razão da pandemia.
Outro tributo, ele acaba de receber com o projeto Como canções e epidemias, álbum de Augusto Martins. Acompanhado pelo pianista Paulo Pauleira Malaguti, um dos integrantes da atual formação do grupo MPB-4, o cantor recria canções em que Aldir tem como parceiros João Bosco, Guinga, Ivan Lins, Moacyr Luz e Sueli Costa. O título do CD vem da letra de Caça à raposa, nome também do segundo disco de João, lançado em 1975.
“Pouco depois de começarmos a formatar o projeto, Aldir adoeceu, contaminado pela covid-19. No momento da pesquisa das músicas, me deparei com a incrível atualidade de Caça à raposa, que trazia em um dos versos a frase ‘Recomeçar como canções e epidemia’. A partir dali, nunca tive tanta certeza e inquietude ao fazer um trabalho”, ressalta Martins. “Como critério para construir o repertório, tínhamos em mente escolher músicas muito especiais, para o que propúnhamos. Poderia ser rara ou de sucesso dessa obra tão vasta e multifacetada”, acrescenta.
Quando Martins e Malaguti deram início ao processo de escolha, já havia definição sobre Altos e baixos (Aldir Blanc e Sueli Costa), que eles gravaram há 15 anos, sendo a primeira faixa do CD a chegar às plataformas digitais. No último 16 de abril, foi a vez de Caça à raposa. Por favor é o single a ser lançado, uma parceria do poeta tijucano com Ivan Lins, companheiros no Movimento Artístico Universitário (MAU), na década de 1970.
Filho de Núbia e Nilo (com a participação de Zé Renato) e Muito além do jardim, composições de Aldir e Moacyr Luz; e Odalisca, feita com Guinga, já mixadas e remasterizadas, são as canções a serem lançadas posteriormente. O CD completo estará disponível nas plataformas digitais no segundo semestre. “Mergulhar nessa obra é uma tarefa hercúlea, mas também uma festa, para a qual qualquer músico brasileiro gostaria de ser convidado”, resume Paulo Malaguti. Ele havia trabalhado com Augusto Martins em disco que reverenciou Tom Jobim.
Sobre o álbum que reverencia seu parceiro em mais de 100 músicas e vários clássicos da MPB, João Bosco deixa claro sua aprovação. “Gostei da forma como foram abordadas essas músicas. O duo de voz e piano partiu de uma concepção original para buscar um registro de muita personalidade e novos caminhos para cada canção. Tudo o que o compositor deseja é que haja um outro olhar sobre sua obra”.