Por 18 anos, a apresentadora Ellen Degeneres esteve à frente do programa de auditório The Ellen DeGeneres Show, que chegará ao fim em 2022. A notícia foi anunciada pela própria artista ao The Hollywood Reporter, em entrevista divulgada nesta quarta-feira (12/5). Nesta quinta-feira (13/5), a apresentadora voltou a dar entrevista, agora ao programa matinal Today. Dessa vez, ela falou sobre os motivos de querer seguir em frente, e como as acusações de ambiente de trabalho tóxico, feitas por ex-funcionários do programa ao BuzzFeed News, em julho do ano passado, afetaram ou não a decisão.
“Se fosse esse o motivo da minha saída, eu não teria voltado este ano. [...] Quase impactou o programa. Foi muito doloroso para mim. Mas se eu tivesse desistido do programa por causa disso, eu não teria voltado nesta temporada. Então não é por isso que eu estou parando”, disse DeGeneres. Ellen afirmou que a decisão ocorreu ainda em 2018, quando renovou o contrato com a Warner por outros três anos.“Queriam por mais quatro anos e eu disse que aceitaria, talvez, por mais um. Chegamos ao acordo de mais três anos e eu sabia que seriam os últimos”, declarou a apresentadora, que disse também precisar de algo novo para desafiá-la criativamente.
Ainda na entrevista, Ellen reafirmou ter tomado conhecimento do que se passava nos bastidores do talk show só quando chegou aos noticiários. “Logo depois, eu li na imprensa que existia um espaço de trabalho tóxico, do qual eu não tinha ideia, e nunca vi nada que apontasse para isso”, disse. Ellen continuou, afirmando que gostaria de ter sabido antes sobre os casos. “Eu não sei como poderia ter tomado conhecimento, quando há 255 funcionários e diferentes prédios. A menos que eu literalmente fique aqui até que a última pessoa vá para casa à noite. É o meu nome no programa, então claramente isso me afeta e eu tenho que ser a pessoa a levantar e dizer que isso não pode ser tolerado. Mas eu gostaria que alguém tivesse vindo até mim e dito: 'Oi, tem algo acontecendo que você deveria saber”, destacou.
Apesar de pontuar que a polêmica não foi o estopim para a saída do programa, a apresentadora confessou ter ficado devastada, e disse ainda ter sido perseguida por quase quatro meses. Sobre a possibilidade de cancelamento, ela respondeu que não entende até hoje e que tudo pareceu orquestrado e 'coordenado demais. “Eu sou uma boa pessoa. Eu gosto de fazer as pessoas felizes”, defendeu-se. E por fim, após tudo isso, destacou que dá exemplo de força, perseverança e poder. “É realmente uma das razões de eu ter voltado. Eu trabalhei muito em mim mesma. E também tenho que dizer, se ninguém mais está dizendo, que foi muito interessante por eu ser uma mulher, pareceu misógino”.
Na última etapa do The Ellen DeGeneres Show, a veterana de 63 anos destacou que está participando mais das decisões por trás das câmeras. “Eu verifico agora o máximo que posso, em diferentes departamentos e me certifico de que as pessoas saibam que, se houver alguma dúvida, elas podem vir até mim. [...] Eu sou muito fácil de conversar. Então, todos nós aprendemos com coisas que não percebemos - ou eu não percebi - que estavam acontecendo. Só quero que as pessoas confiem e saibam que sou quem pareço ser. Eu sei quem eu sou”, concluiu.
Sobre o caso
Diversos funcionários e ex-funcionários do programa The Ellen DeGeneres show foram à imprensa, mais especificamente ao portal BuzzFeed News, para denunciar abusos profissionais nos bastidores. O primeiro caso ocorreu em julho de 2020 e, depois disso, sucessivas denúncias vieram a público. Os trabalhadores entrevistados foram demitidos após tirarem licenças médicas ou para funerais familiares. Outra funcionária pediu demissão ao ser advertida por reclamar sobre ter sofrido racismo. Eles também alegaram que foram instruídos pelos respectivos chefes de setor a não falarem com a apresentadora nos corredores do estúdio.
A maior parte das denúncias foi endereçada aos produtores executivos e gerentes seniores. No entanto, um deles criticou Ellen dizendo que a falta de controle dela deu abertura para que os casos ocorressem. “Se ela quer ter o próprio show e ter o nome dela no título, ela precisa se envolver mais com o que está acontecendo. Eu acho que os produtores que a cercam devem dizer: ‘As coisas estão ótimas, todo mundo está feliz’, e ela apenas acredita. É responsabilidade dela ir além”, declarou. Ellen também foi acusada de comandar a própria casa como um acampamento militar e de demitir funcionários com frequência pela grande exigência com os detalhes.
Somando às denúncias, uma matéria veiculada por outro portal publicou casos de assédio, abuso, e má conduta sexual contra os produtores Ed Glavin, Kevin Leman e Jonathan Norman, que foram demitidos. Além das investigações do estúdio, Ellen escreveu uma carta aberta aos funcionários, desculpando-se e assumindo responsabilidade por todo o caso.