Música

Grupo pernambucano Quinteto Violado, em atividade, completa 50 anos

Perpetuar a diversidade contemplada pela música nordestina sempre foi das altas qualidades dos herdeiros de Gonzagão

Luiz Gonzaga, a principal referência da música pernambucana, foi uma espécie de padrinho de Quinteto Violado. Ao ouvir o arranjo do grupo para o clássico Asa branca, afirmou que aquela era a melhor leitura de sua obra. Gilberto Gil, que acabara de chegar do exílio em Londres, determinado pela ditadura militar, chamou aquela sonoridade de “free nordestino”. Com uma trajetória marcada por trabalhos relevantes, 56 discos lançados, vários prêmios conquistados e incontáveis turnês pelo Brasil e países da America Latina, Europa e África, o Quinteto Violado chega aos 50 anos em franca atividade.

Para dar início à celebração da data, lançou recentemente nas plataformas digitais, pela gravadora Atração Fonográfica, o single Tempo, composição de Dudu Alves, tecladista e diretor musical do Quinteto, que tem como companheiros Marcelo Melo (voz, violão e único remanescente da formação original), Ciano Alves (flauta), Sandro Lins (baixo) e Roberto Medeiros (bateria). Com produção de Pedro Francisco de Souza, a música, uma espécie de repente moderno, que busca valorizar a cultura popular da região e a identidade nordestina. Trecho da letra diz: “Era apenas os cinco rapazes/ E os meninos brincando ali/ E gritavam pro mundo ouvir/ Lá vem os violados/ Lá vem os violados...”

O relançamento pela Companhia Editora Pernambucana (Cepe) do livro Lá vem os Violados, do jornalista José Teles, também faz parte da comemoração do centenário do grupo, que tem gravado lives. Uma delas foi a 50 Anos do Quinteto Violado, contemplada pela Lei Aldir Blanc do estado de Pernambuco, apresentada em 29 de janeiro último, disponível no YouTube. Há ainda a promessa da produção de mais três singles e de um álbum de composições inéditas até o final do ano.

Desde, praticamente, o começo da carreira, o Quinteto Violado tem feito shows em Brasília. O primeiro deles, Berra boi, ocorreu em 1973, no Teatro da Escola Parque. Um outro, A feira, no ano seguinte, ocupou o ginásio de esportes do Colégio Marista. Na oportunidade, a cantora Elba Remalho (ainda desconhecida) era a convidada. As últimas apresentações foram no palco do Clube do Choro.

Três perguntas // Marcelo Melo

Na sua avaliação, qual foi a contribuição do Quinteto Violado para a música nordestina e brasileira como um todo?
Eu considero que foi importante, no sentido do comportamento musical, na leitura que a gente fez da música regional nordestina. A gente trouxe uma contribuição porque apresentou um realce diferenciado nos arranjos e agregando influências que tínhamos da música erudita, dos folguedos populares, da música dos cancioneiros, dos gêneros musicais dos ciclos culturais nordestinos.


Que significado tem para o grupo a longevidade da trajetória artística?
Acho que a longevidade dessa trajetória aconteceu de forma natural, muito embora tenhamos perdido alguns dos integrantes. Inicialmente, Fernando, em 1985. Depois perdemos Toinho Alves, que partiu em 2008, vítima de um infarto fulminante. Mas mantivemos sempre o Quinteto seguindo a proposta que eu havia desenvolvido com Toinho. Agregamos dois Sobrinhos de Toinho, que são Ciano (flauta) e Roberto (bateria), além de Dudu Alves, filho de Toinho, e que hoje é o administrador da empresa que gere o grupo, e isso fez com que mantivéssemos a índole musical familiar, sem se deixar envelhecer, trazendo sempre dados novos, obedecendo sempre à proposta que trazemos desde o início da nossa formação, em 1971.

O que Luiz Gonzaga representou para vocês?
Somos discípulos de Luiz Gonzaga, que chamamos de nossa Estrela Guia, o grande representante da música nordestina. Os arranjos que fizemos pra obra dele definiram a sonoridade do Quinteto Violado. A nossa leitura para Asa branca, que ele considerou o mais belo arranjo para sua obra, chamou a atenção de Gilberto Gil, levando-o a chamar nossa sonoridade de “free nordestino”. Assim, o Quinteto chega aos 50 anos elogiado por Gonzagão, Gilberto Gil, Caetano Veloso e por críticos.

Três perguntas // Dudu Alves

A letra de Tempo pode ser vista como um retrato multifacetado dos Violados?
Sim, sempre multifacetados. Fazemos a música do mundo sem perdermos a nossa identidade nordestina. Tempo é um repente moderno, com a nossa roupagem. Durante a gravação, em estúdio, a emoção tomou conta de todos por nos fazer voltar a 1971, quando fomos batizados de Quinteto Violado. Foi, de fato, um momento marcante, e que vem com um estilo moderno de gravação, sob a coordenação do nosso produtor, Pedro Francisco de Souza.

Vai ser produzido um álbum comemorativo do cinquentenário ou a opção é o lançamento de singles?
Além de respeitarmos o momento, estamos antenados com o que está acontecendo com a música. CD não é mais usual, e a moda é lançar os singles. Nós e a nossa gravadora, a Atração Fonográfica, acordamos que, pelo menos neste momento, vamos seguir a onda e lançar singles a cada três meses. Mesmo sabendo do rumo que o lançamento das obras dos artistas seguiram, estamos incluindo uma proposta no Fundo de Cultura de Pernambuco para a realização de um álbum de inéditas e autorais do Quinteto. Se for aprovado, só será lançado no início do segundo semestre de 2022.

Como driblar os problemas causados pela pandemia para celebrar essa data tão importante para o Quinteto?
Fomos, em 2020, pegos de surpresa. Tudo parou. Paramos uma turnê nacional em parceria com a Banda de Pau e Corda, não tivemos São João, e foi aí que tivemos de nos reinventar. Partimos para a gravação de clipes, a exemplo o de Asa Branca – A Voz do Nordeste, lançado no São João do ano passado, e que contou com as participações de Sando (nosso primeiro flautista), Elba Ramalho, Chico César, Lenine, Zeca Baleiro, Geraldo Azevedo. Fizemos outra live em comemoração dos 100 Anos de Zé Dantas, parceiro de Gonzaga, patrocinada pela Prefeitura de Carnaíba, terra natal do homenageado.