LANÇAMENTO

Trauma na vida de Lady Gaga, estupro é contado em série documental

'Em 'The me you can’t see', que trata de temas como saúde mental, cantora compartilha as dificuldades de superar o estupro

» Isabela Berrogain*
» Fernanda Gouveia*
postado em 22/05/2021 06:00
 (crédito: Jim Watson/AFP)
(crédito: Jim Watson/AFP)

A cantora Lady Gaga revelou que engravidou após ter sido estuprada aos 19 anos. A declaração foi dada no primeiro episódio da série documental sobre saúde mental The me you can’t see, cocriada por Oprah Winfrey e Príncipe Harry, lançada, ontem, na Apple TV+. No depoimento, a cantora abordou a violência e as ameaças que sofreu de um produtor musical. Ela preferiu não revelar a identidade do agressor.

“Eu tinha 19 anos, trabalhava no ramo, e um produtor me disse: “Tire a roupa”. E eu disse não. Saí, e eles me disseram que queimariam todas as minhas músicas. E não pararam. Eles não pararam de me perguntar, e eu simplesmente congelei e eu... Eu não consigo nem lembrar. Primeiro senti uma dor total, depois fiquei paralisada”, contou Lady Gaga, no primeiro episódio de The me you can’t see, que tem a cantora como destaque.

A artista descobriu a gravidez após sentir dores abdominais e ir ao hospital. “A pessoa que me estuprou, me deixou grávida em uma esquina da casa dos meus pais, porque eu estava vomitando e enjoando. Porque fui abusada. Fiquei trancada em um estúdio por meses”, disse. Além disso, Lady Gaga revelou que passou por um surto psicótico e entrou em estado de paranoia, como consequência do trauma.

“Tive um surto psicótico total e, por alguns anos, não fui a mesma garota. A maneira como me sinto quando sinto dor é como me senti depois de ser estuprada. Já fiz tantas ressonâncias magnéticas e exames, não encontraram nada. Mas o corpo se lembra”, relatou a cantora.

Depois do episódio traumático, a artista precisou se submeter a um aborto e afirmou na série documental que “o processo de cura e a minha saúde mental têm tido progressos lentos. Mesmo se eu tiver seis meses brilhantes, tudo que é necessário é que um gatilho seja acionado uma vez, para eu me sentir mal”. Além disso, ela explicou que nunca falaria o nome do agressor. “Entendo o movimento #MeToo, entendo que algumas pessoas se sintam realmente confortáveis com isso, mas eu não. Eu não quero nunca mais encarar essa pessoa novamente”, afirmou.

Lady Gaga já havia falado sobre o abuso em outras ocasiões, mas sem dar muitos detalhes. Em 2014, a artista fez a revelação em entrevista ao apresentador americano Howard Stern, e apenas disse que o agressor era 20 anos mais velho. Um ano depois, em 2015, durante um evento de divulgação do documentário The hunting ground, a cantora detalhou a situação ao dizer que, por muito tempo, ela se sentiu culpada pelo estupro e que não havia contado para ninguém por sete anos. “Por causa da maneira como eu me visto, e o jeito que sou provocativa como pessoa, eu achava que eu tinha atraído isso para mim de alguma forma, que isso era minha culpa”, declarou à imprensa ao longo do evento.

Durante uma entrevista dada em 2018, Gaga aproveitou para denunciar a cultura do assédio sexual existente na indústria musical. “Quando comecei no mundo da música, quando tinha cerca de 19 anos, (assédio) era a regra, não a exceção. (Era a regra) Que você entrasse em um estúdio de gravação e fosse assediada. Eu gostaria de ter falado mais cedo”, lamentou a cantora para a revista estadunidense Hollywood Reporter.

Apoio à causa

Mesmo antes da revelação, Lady Gaga havia demonstrado apoio a vítimas de assédios em diversas situações, sendo considerada uma espécie de porta-voz do assunto. No Oscar de 2016, a cantora protagonizou um dos principais momentos da cerimônia ao realizar uma performance de Til it happens to you, faixa contra o abuso sexual de mulheres. Na performance, Gaga se apresentou rodeada por um grupo de mulheres que mostravam mensagens de apoio às vítimas, como “Não é culpa sua”, “Também aconteceu comigo” e “Sobrevivente”.

Em 2019, a artista havia se posicionado contra R. Kelly, rapper com quem realizou uma parceria musical em 2013. O cantor foi alvo de diversas acusações de estupro e assédio, além de relatos que ele teria usado mulheres como escravas sexuais. Nas redes sociais, Gaga defendeu as vítimas de Kelly. “Eu apoio qualquer pessoa que tenha sido vítima de abuso sexual. Fico ao lado dessas mulheres 1.000%, acredito nelas, sei que estão sofrendo e sinto que estas vozes devem ser ouvidas e levadas a sério”, escreveu a artista.

Repercussão

A notícia foi recebida com muita comoção pelos fãs de Lady Gaga, que fizeram questão de demonstrar apoio à cantora ao promoverem a hashtag “Nós te amamos, Gaga” no Twitter. Além de enviarem manifestações de carinho para a artista, os admiradores relembraram uma teoria que havia sido criada em torno do videoclipe de Marry the night, em que Gaga supostamente retrata a interrupção da gravidez.

Em 2011, ano de lançamento do clipe, a cantora chegou a revelar que o vídeo narra um dos piores dias da vida dela. Inicialmente, Marry the night mostra Gaga numa clínica feminina, sendo atendida por uma obstetra que lhe recomenda não ter relações íntimas por duas semanas. Esse tipo de procedimento é padrão para mulheres que realizam abortos.

As cenas são acompanhadas por um monólogo feito pela cantora, em que Gaga explica a forma com que lida com traumas do passado. “Quando eu olho para a minha vida, não é como se eu não quisesse ver as coisas exatamente do jeito que elas aconteceram, é só que eu prefiro lembrar delas de uma forma artística”. Ao longo do clipe, a cantora relata a trajetória da própria carreira, desde o pequeno apartamento em que morava na juventude até a consagração como uma das artistas pop mais famosas do mundo. Com isso, Gaga cumpre o que promete no fim do discurso: “Eu me tornarei uma estrela, porque eu não tenho mais nada a perder”.

*Estagiárias sob a supervisão de José Carlos Vieira


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