Criado há quase 30 anos, o jogo Mortal Kombat virou filmes de artes marciais e invadiu fliperamas e consoles de videogames, a partir das ideias do programador Ed Boon e do designer John Tobias. No campo dos jogos, MK Armaggedon (2006) demarcou o fim de uma das fases cronológicas da saga que, nos três mais recentes jogos, teve a linha do tempo realinhada.
Coroado como o terceiro, na sequência de games despontados em 2009, Mortal Kombat 11 rende as bases para mais um desfilar de aventura e pancadaria, nas salas de cinema da cidade, agora sob o comando do diretor estreante Simon McQuoid.
Coproduzido, entre outros por E. Bennet Walsh (MIB — Homens de preto — Internacional) e James Wan (da vitoriosa franquia Invocação do mal), o novo longa-metragem teve o roteiro assinado por Greg Russo e Dave Callaham, a mesma dupla de Mulher-Maravilha 1984.
Numa trama em que a paz do universo fica depositada no confronto entre personagens da Terra e da Exoterra, o deus ancião e defensor de um sagrado templo, Lorde Raiden (o ator Tadanobu Asano, de Midway — Batalha em alto-mar), receberá, a partir da orientação do major das Forças Especiais Jax (Mehrcad Brooks), o confuso lutador de MMA Cole Young (Lewis Tan, visto em Deadpool 2).
Protetor do Reino da Terra, Raiden recebe Cole, no momento em que este se tornou, involuntariamente, alvo do Imperador de Exoterra Shang Tsung (Chin Hang). Com a família posta em risco, Cole passa a ser perseguido pelo guerreiro Sub-Zero (Joe Taslim), que, sendo criomancer (poderoso manipulador de forças glaciais), tem por missão liquidar o protagonista.
Outra oponente de peso, em Mortal Kombat, é Mileena (Susi Stringer), uma vilã que teve trajetória iniciada no segundo jogo da série. Movida por inveja, a espécie de deusa demoníaca, que traz características vampirescas, Mileena será uma das ameaças para Sonya (Jessica McNamee), uma aliada de Cole.
Como em toda a saga, o princípio de libertar a arcana (uma corrente de poder atrelado à alma dos personagens), Cole é intimado à tarefa, nos sistemáticos treinos dos quais toma parte. Unido a Jax pela coincidente a mesma marca de nascença (no formato de um dragão), Cole, ao lado do obscuro mercenário Kano (Josh Lowson), enfrentará um rigoroso treino junto com os futuros parceiros Lui Kang (Ludi Lin, de Aquaman) e Kung Lao (Max Huang).
Assim como no primeiro filme de Mortal Kombat (1995), Sub-Zero e o personagem saído de clã de ninjas Scorpion (Hiroyuki Sanada, o Musashi da série Westworld) se mostram decisivos, no novo filme, a exemplo de Kung Lao, que aplica um golpe especial, reconhecível entre os fãs dos filmes e dos jogos.
Para além das músicas de Benjamin Wallfisch (It — A coisa), a nova aventura de Mortal Kombat contou com rigorosos artistas visuais, entre eles, o diretor de fotografia Germain McMicking (True detective) e o supervisor de efeitos especiais Chris Godfrey (Até o último homem).
Distanciados da utopia
Convivendo com uma mistura das contradições de Smeágol (personagem de O Senhor dos anéis) e dos efeitos especiais próximos às explosões que anunciam o herói Noturno (nos filmes dos X-Men), o protagonista de Mundo em caos, uma aventura distópica em cartaz na cidade, deixa um rastro de ruídos para cada um dos pensamentos que ele emite. Todd (Tom Holland), durante a vida, viveu numa sociedade sem presença das mulheres, e dominada por figuras como o prefeito de Prentisstown (Mads Mikkelsen) e o religioso Aaron (David Oyelowo).
Despido do personagem que lhe deu notoriedade, o Homem-Aranha, Tom Holland estrela o longa de Doug Liman (que tratou igualmente de conspirações, em Mr. & Mrs. Smith e A identidade Bourne) junto com Daisy Ridley (Star wars: O despertar da força), que interpreta Viola, recém-chegada e desprotegida, após a queda de uma nave. Povoado por monstruosidades chamadas Spackle, numa coletividade na qual as mulheres foram extintas, Mundo em caos expõe trama derivada de uma série literária homônima assinada por Patrick Ness.
Festival
Também tratando de temas que alcançam a distopia, o 1º Festival de Cinema Brasileiro Fantástico (www.festivalfantastico.com) prossegue, on-line e de graça, até o próximo domingo, com opções de 23 curtas- metragens. Um dos destaques, na mostra retrospectiva, foi Chico (dos Irmãos Carvalho), produção carioca, ambientada em 2029, quando, sob efeito de um golpe de Estado, personagens da periferia têm a vida rastreada pelo governo.
No segmento Realizadores Fluminenses, da mostra, há exibição de O prazer de matar insetos (de Leonardo Martinelli), em que uma freira e um padre, passadas alterações no clima da Terra, comentam do sumiço dos insetos. Na seção Inéditos do Brasil (dentro do festival), dois outros filmes projetam distopias: Ditadura roxa (Matheus Moura) e Os últimos românticos do mundo (de Henrique Arruda). O último explora um conceito de eternidade, enquanto Ditadura roxa trata de uma sociedade conservadora, que tenta cooptar novos adeptos.
» Entrevista // Henrique Arruda, cineasta
O seu filme Os últimos românticos do mundo mostra distopia de que forma?
Ele conta as horas finais de um casal que segue junto até o fim do mundo, e que faz planos para estar junto ainda assim depois de tudo, em uma nova civilização, em um outro mundo que eles também esperam construir juntos. A narrativa bebe de várias fontes, não só distópicas, mas, principalmente da cultura pop, pra criar nosso próprio apocalipse cor-de-rosa.
O que traz singularidade em relação à lida estrangeira com o tema da distopia?
Acredito que a principal diferença esteja na assinatura de uma distopia bicha nordestina, de gays que se amam até o fim do mundo pelo interior de Pernambuco, de uma drag queen cantora de brega, e principalmente da nossa releitura e mergulho na estética camp.
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