Um grupo de meninos joga bola em uma rua de Thila, no Yemen, enquanto uma multidão se reúne para uma celebração religiosa na Índia. Próximo a um monastério isolado no Tibet, crianças brincam em um acampamento e um festival embala uma quantidade significativa de pessoas no Iran. As fotos do esloveno Matja Krivic vêm de lugares distantes e remotos, nem sempre muito acessíveis, seja pela condição geográfica, seja pela situação social e política dos territórios. Desse mundo, que para a maior parte do planeta permanece em silêncio, o fotógrafo traz Urbanistan, exposição em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Krivic expõe imagens captadas em 16 países ao longo de anos de viagens que antecederam a era da pandemia. Não havia covid-19 quando ele registrou os festivais religiosos protagonizados por multidões ou quando desembarcou nas montanhas remotas do Tibet. “Apesar de ter sido criado antes da crise da pandemia, acredito que esse projeto é uma lembrança perfeita do que podemos perder com a maior facilidade, as coisas que damos por garantidas”, conta o fotógrafo, em entrevista ao Correio. “Seja a ausência de interações livres de proteções como máscaras, seja a oportunidade de compartilhar momentos importantes com nossas pessoas amadas, nossas vidas, inevitavelmente, mudaram nos tempos de covid-19.”
Krivic conta que busca retratar momentos de beleza e emoção nas interações humanas e com o meio no qual vivem as sociedades. Frequentemente, esses momentos, no caso das imagens do esloveno, são repletos da ideia de silêncio e grandeza. “Nossas vidas são rodeadas de uma quantidade cada vez maior de barulhos, níveis de estresse e mais e mais comunicação. Nós sobrevivemos estando em vários lugares ao mesmo tempo. Ser multitarefas é uma demanda normal. Com tudo isso, nos distanciamos da natureza, de nós mesmos. Mais do que nunca, as pessoas precisam de espaço, tempo, silêncio. Logo, a importância do silêncio e de espaço apenas cresce, lugares onde possamos olhar para dentro, em vez de olhar para fora”, explica. Essa ideia de encontro entre o homem e a terra pauta boa parte das imagens.
O desejo de Krivic é conseguir capturar o sentimento de gratidão e adoração pela vida na terra. “Tento criar uma história que fala do espírito indestrutível e da busca de inspiração que rondam a sobrevivência”, diz. Nas imagens, histórias individuais e de grupos sociais entram em primeiro plano para se sobrepor ao que o fotógrafo classifica como uma "raiva urbana generalizada". “É uma busca da essência da existência em um espaço e um tempo diferentes”, avisa. “É uma história de sobrevivência por meio do jogo, da oração, da tradição e dos rituais.”
Urbanistan: A história de uma sonoridade silenciosa
Exposição de Matja Krivic. Visitação até 30 de maio, de terça a sexta, das 9h15 às 19h30, na Galeria 4 do Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB Brasília. Entrada gratuita, mediante a retirada de ingressos pelo site
https://www.eventim.com.br/artist/urbanistan/
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