A Ilha da Caveira é um ambiente familiar aos cinéfilos desde 1933, quando King Kong foi apresentado ao mundo como a primeira atração monstruosa de gigante nas telas de cinema que saiu justamente desta ilha, que tem um quê das terras de Jurassic Park, o clássico sob o controle do mago Steven Spielberg.
É justamente do berço de Kong, um dos vários ecossistemas paralelos representados na mais nova superprodução de Hollywood — Godzilla vs. Kong (nas salas de cinema) —, que o espectador toma conhecimento de uma das estratégias que colocará o enorme gorila em confronto com Godzilla, o monstro que saiu do Oceano Pacífico para aterrorizar, pela primeira vez, os cinéfilos japoneses, em 1954, quando ainda abalados pela devastação das bombas atômicas que arrasaram parte daquele país.
Com direção a cargo de Adam Wingard, o filme se serve das aventuras e expedições rumo ao desconhecido, para desembocar em uma teoria de que não existe espaço no mundo para a convivência entre dois titãs alfa. Várias são as frentes de personagens humanos, cuja existência se dimensiona ínfima, à medida que surge cada embate entre os enormes monstros. Há risível frente de embasamento científico para as teorias desenvolvidas no roteiro, situações catastróficas, a cada segundo no enredo, e um grafismo em computador, que fica a meio caminho entre o sofisticado e o mero esboço. Hong Kong, como cenário, absorve muito da pancadaria.
Como de hábito, uma grande corporação (chamada Apex) tem lá seus segredos e pretende obter vantagem com o ajuste de contas entre os chamados titãs. Entre bugigangas e armamentos, desponta uma galeria exagerada (em número) de personagens humanos, com a trama incapaz de grandes desenvolvimentos para cada um. Praticamente todas as personagens femininas têm frente de domínio e liderança. A doutora Ilene Andrews (Rebecca Hall) aparece como tutora da pequena Jia (Kaylee Hottle) que, por sua vez, tem, por meio de Libras, domínio de comunicação junto a King Kong. Numa das missões que pretende colocar o primata como escudo da humanidade, contraposto às furiosas investidas de Godzilla, ambas personagens ganham o reforço do pesquisador Nathan Lind (Alexander Skarsgard).
Em outra trincheira
Num grupo mais jovial, Bernie Hayes (Brian Tyree Henry) se afirma como digital influencer, antecipando fatos, dada a habilidade de se infiltrar nos planos de uma maléfica corporação. A tiracolo, leva consigo a voluntariosa Madison Russell (Millie Bobby Brown) e o nerd estabanado Josh Valentine (Julian Dennison). Do lado oposto a todos os mencionados, há o contraste maquiavélico dos parentes Walter Simmons (Deminán Bichir) e Maia (Elza González).
Também da distribuidora Warner, o recente embate Batman vs. Superman parece modular o novo filme de monstros. Avanços cibernéticos que ameaçam colocar em campo o robótico Mechagodzilla pairam, numa tensão constante. Um primeiro confronto transcorre no Mar da Tasmânia, antes de King Kong seguir para a Antártica (içado de helicópteros) para se ver preservado, no que os humanos chamam de Terra Oca, que acomodaria antepassados do gigante primata.
Como reforça a doutora e preceptora de Kong, “ele não se curva a ninguém”. Isso seria um dos embriões para a peleja contra Godzilla. A grande identificação entre Kong e o público transparece nas cenas em que ele se vê sedado (para viajar entre os humanos) e quando, no rescaldo de um quebra-quebra, ele tem o coração parado, e fica a meio-caminho da morte. Com o poder de fogo das rajadas radioativas, e muito menor personalidade, Godzilla bem desvia da bateria de mísseis, enquanto insistentemente tenta ferir o macaco. Cabe aos humanos, entre o caos, buscar abrigos antinucleares, e torcer pelos heróis metidos em aparatos modernosos como as aeronaves com propulsores que revertem a gravidade.
» Um milagre
Numa estreia bem mais discreta e menos estrondosa do que Godzilla vs. Kong, o terror Rogai por nós, que remete ao passado colonial dos Estados Unidos (na Nova Inglaterra), traz enredo centrado em suposto milagre envolvendo a Virgem Maria, a ser explorado em parte pelo repórter interpretado por Jeffrey Dean Morgan. Também no elenco do filme está Cary Elwes (Jogos mortais), sob a direção de Evan Spiliotopoulos (responsável pelo roteiro de G.I. Joe: olhos de cobra).
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Pancadaria prévia
Morto há quase 30 anos, o ex-assistente de Akira Kurosawa (de Ran) Ishiro Honda foi quem, indiretamente, deu gás ao atual projeto da Warner que tem apoio do estúdio nipônico Toho.
Ainda que 1976 pareça um ano emblemático para Godzilla e Kong, que tiveram remakes na telona, quem deu o pontapé da partida rumo à aceitação estrondosa de público foi Honda. Ele assinou filmes como Godzilla (1954) e King Kong vs. Godzilla (1962), que vieram permeadas por obras de outros diretores como Godzilla ataca novamente (1955) e Godzilla vs. Hedorah (1971).
Reciclando o medo da devastação atômica, o lagarto agigantado impulsionou muitos dos filmes de animais incomuns (que no Japão ganham o título de kaiju). Associado aos reflexos da devastação causada pelo homem na natureza, Godzilla nem sempre protagonizou filmes expressivos, tomando parte em fitas como a de Jun Fukuda, em 1973, Godzilla vs. Megalon, muito criticada ao mostrá-lo numa batalha contra Megalon e Gigan.