O centenário de Dona Ivone Lara começa a ser celebrado este ano com uma série de atividades. Uma das personagens mais emblemáticas da história do samba, a cantora, compositora e instrumentista nasceu em 13 de abril de 1922. Entre as homenagens está o lançamento de um EP que traz seis canções, entre elas quatro inéditas. O disco, com a participação de Gilberto Gil, Maria Rita, Xande de Pilares, Dudu Nobre, Pretinho da Serrinha, Dandara Mariana e Fundo de Quintal está disponível nas plataformas digitais.
Produtor e responsável pela garimpagem das faixas do EP, Bruno Castro integrou por vários anos o grupo que acompanhava a sambista, de quem foi parceiro. Ele assinou também a produção de O Baú de Dona Ivone, último título da discografia dela, gravado em estúdio, do qual tomaram parte nomes consagrados da MPB, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Beth Carvalho, Áurea Martins, Monarco e Nelson Sargento. Em depoimento, à época, o cantor e compositor mangueirense afirmou: “Se a música tivesse forma humana, seria Dona Ivone”.
Este EP complementa o álbum Baú de Dona Ivone, lançado originalmente em 2012, pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, com finalidade educacional, sendo distribuída para escolas e bibliotecas municipais, com suplemento pedagógico que exalta a obra dessa gigantesca artista carioca, amada pelo Brasil. Agora, todo o baú também está disponibilizado nas plataformas digitais.
Dois corações abrindo a manhã (Dona Ivone Lara, Bruno Castro e Rildo Hora) é uma das quatro músicas inéditas do EP, que tem Maria Rita como intérprete. As outras são Já é hora (Dona Ivone Lara. Bruno Castro e Serginho Procópio), na voz de Xande de Pilares; 15 anos após o centenário (Dona Ivone Lara, Bruno Castro e Zé Luiz do Império); gravada em duo por Dudu Nobre e Pretinho da Serrinha; e Os espaços para sonhar (Dona Ivone Lara e Bruno Castro), com o Fundo de Quintal.
Complementam o repertório, Nas escritas da vida (Dona Ivone Lara e Bruno Castro), que, em vida, a autora de Sonho meu fez registro com Gilberto Gil; Silêncio da passarada (Bruno Castro e Siraninho), por Dandara Mariana, cantora que deu vida a homenageada no musical Dona Ivone Lara — Um sorriso negro, que esteve em cartaz, com grande sucesso, há dois anos em teatros do Rio de Janeiro e São Paulo.
“Sempre foi e continua sendo inspiração para a mulher que compõe, para quem acredita no samba. Dona Ivone Lara, como já diz o samba, é uma joia rara”.
Xande de Pilares, sambista
Baú de Done Ivone
EP com seis faixas em homenagem ao centenário da cantora e compositora carioca, disponíveis nas plataformas digitais.
» Depoimentos
“Conheci Dona Ivone Lara no início da década de 1990. Trabalhamos 20 anos juntos, primeiramente como músico e depois como parceiro musical. Essa fase ao lado da primeira-dama do samba representou um período inigualável de aprendizagem com muito crescimento pessoal e artístico para mim. Dona Ivone era uma pessoa rara em todos os sentidos. Sou um privilegiado por ter ficado ao seu lado em parte de sua carreira. O projeto Baú da Dona Ivone, tem cumprido a função de destacar parte da obra inédita da artista. Essa produção muito me honra, pois conseguimos levar o legado da artista para os fãs já existentes, mas também mostrar o acervo para quem ainda não teve oportunidade de ouvir suas criações. Em se tratando de Dona Ivone Lara, o meio artístico sempre recebe com muito carinho e deferência. Isso torna o álbum atemporal e livre de barreiras comerciais e estéticas”.
Bruno Castro, produtor
Dudu Nobre (D) ao lado de Pretinho da Serrinha: “Revolucionária”
“Dona. Ivone Lara foi uma revolucionária no mundo do samba e, muito antes de alguém falar em feminismo ou dos direitos da mulher, já lutava pelos seus direitos. Ela foi, com certeza, um dos maiores ícones do nosso samba. Tinha talento, carisma e muito carinho com todos. A gente sente muita falta da D. Ivone e é uma obrigação nossa manter sua obra sempre em alta pra que as novas gerações possam ter contato com o que ela compôs e interpretou.”
Dudu Nobre, sambista
Dandara Mariana: “Vida poetizada”
“Dona Ivone foi uma mulher extremamente consciente, corajosa e inteligente; porque ser mulher, negra e sambista, para época, era uma exceção, diante de uma sociedade machista e racista. Dona Ivone brilhantemente poetizou a vida, musicou a alegria e a dor e eternizou a voz feminina do samba. Hoje eu canto porque Dona Ivone abriu os caminhos”.
Dandara Mariana, sambista
“Sou suspeito pra falar, por ser neto, mas convicto que foi e é uma pessoa que me inspira em todos os sentidos. Tive o prazer de conviver, aprender e beber da fonte de uma das mulheres mais importantes do nosso país... Mulher, mãe, tia, avó e bisavô que nunca deixou de lado a família; enfermeira e assistente social dedicada, que se prestou a ajudar com maestria os enfermos da saúde mental. Nada mais que nossa rainha do samba: cantava, dançava, tocava e era dona da melodia. Inspiração para todos nós. Obrigado por tudo vó”
André Lara, sambista
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