Cinema

'Nomadland' triunfa e Chloé Zhao faz história em Oscar marcado pela pandemia

Nascida em Pequim, Zhao é a primeira asiática contemplada como diretora e a segunda mulher a fazê-lo depois de Kathryn Bigelow, que recebeu a estatueta dourada em 2010 por "Guerra ao Terror"

Hollywood, Estados Unidos - "Nomadland" ganhou o Oscar de melhor filme neste domingo (25) e Chloé Zhao fez história ao ser reconhecida por sua direção, em uma edição peculiar da noite mais importante de Hollywood, que celebrou a diversidade e foi marcada pela pandemia.

O drama sobre as pessoas de poucos recursos que percorrem o território americano em caminhonetes triunfou na principal premiação do cinema dos Estados Unidos, mas o êxito de Zhao desapareceu na rede social Weibo, o Twitter chinês.

Nascida em Pequim, Zhao é a primeira asiática contemplada como diretora e a segunda mulher a fazê-lo depois de Kathryn Bigelow, que recebeu a estatueta dourada em 2010 por "Guerra ao Terror".

Zhao agradeceu à comunidade nômade que inspirou "Nomadland".

"Obrigada por nos ensinar o poder da resiliência da esperança. E por nos lembrar como é a verdadeira bondade", disse a cineasta no palco, ao lado da atriz Frances McDormand e de vários "nômades", que interpretaram versões ficcionais de si mesmos.

McDormand, protagonista de "Nomadland", venceu o seu terceiro Oscar de melhor atriz. Ela se tornou a quarta mulher a ganhar três prêmios da Academia, depois de Meryl Streep, Ingrid Bergman e Katharine Hepburn (a recordista com quatro).

Ela também recebeu um Oscar como produtora de "Nomadland".

"Não tenho palavras. Minha voz está nas minhas costas", disse a atriz, citando um personagem de Shakespeare ao receber o prêmio.

"Sabemos que a espada é o nosso trabalho. E gosto do trabalho. Obrigado por saberem. E obrigado por isto", completou.

Anthony Hopkins surpreendeu ao triunfar como melhor ator por "Meu Pai", um prêmio que se esperava que fosse para o falecido Chadwick Boseman.

Hopkins tornou-se, aos 83 anos, o ator de mais idade a ganhar um Oscar competitivo na história da premiação. O ator não viajou a Los Angeles, nem foi a um centro habilitado em Londres para aceitar o prêmio.

O filme, adaptado pelo dramaturgo francês Florian Zeller, também ganhou o prêmio de melhor roteiro adaptado. O escritor e diretor recebeu o prêmio em Paris.

A cerimônia heterodoxa foi celebrada sobretudo de forma presencial e ao vivo na estação ferroviária do centro histórico de Los Angeles, para poder respeitar os protocolos sanitários da pandemia, e reuniu as estrelas de Hollywood pela primeira vez em mais de um ano.

Botas de caminhada

O prêmio de atriz coadjuvante foi, como se esperava, para a sul-coreana Youn Yuh-jung, pelo retrato da avó em "Minari", um drama autobiográfico sobre uma família coreana que migra para os Estados Unidos.

Em um apreciado discurso, ela disse que não acreditava nas competições e que não fazia sentido vencer Glenn Close, que voltou a perder o prêmio da Academia após ter sido indicada oito vezes.

"Interpretamos papéis diferentes, não podemos competir uma com a outra. Esta noite tive um pouco de sorte", acrescentou.

Close encarou com leveza sua mais recente derrota por "Era uma vez um sonho", ao participar de uma seção aparentemente improvisada sobre seus conhecimentos de música e rir às gargalhadas após fazer um passo incomum em uma festa tão sóbria.

Daniel Kaluuya ganhou como ator coadjuvante pela interpretação do líder dos Panteras Negras nos anos 1960 em "Judas e o Messias Negro". O filme também ganhou o Oscar de melhor canção para H.E.R, que já coleciona vários Grammys.

Referências ao racismo e à violência policial pontuaram a noite, começando pelo monólogo de abertura da atriz e diretora Regina King, que mencionou a recente condenação de um ex-policial pelo assassinato do afro-americano George Floyd.

"Se as coisas tivessem ocorrido de forma diferente na semana passada em Minneapolis", disse, "eu teria trocado meus sapatos de salto alto por botas de caminhada".

Enquanto isso, "Bela Vingança" ganhou o prêmio de melhor roteiro original. A diretora, Emerald Fennell, que estava grávida de sete meses quando rodou o thriller de vingança #MeToo, agradeceu ao filho por "não chegar até algumas semanas depois das filmagens".

O filme da Netflix "Mank", que começou a noite como a mais indicada (em 10 categorias), levou dois prêmios em categorias técnicas, assim como "A Voz Suprema do Blues" e "Som do Silêncio", uma poderosa descrição da experiência da perda da audição da Amazon.

"Em carne e osso"

O diretor dinamarquês Thomas Vinterberg recebeu o Oscar de melhor filme internacional por "Druk - Mais uma rodada", com uma homenagem emocionante à filha, Ida, morta em um acidente de carro pouco depois do início das filmagens, em maio de 2019.

"Acabamos fazendo este filme para ela, como um monumento para ela", disse, com lágrimas nos olhos, o diretor desta comédia dramática sobre os altos e baixos do alcoolismo.

O filme "Soul", da Pixar, que explora o sentido da vida, levou a estatueta de melhor filme de animação, enquanto "Professor Polvo", da Netflix, ganhou o de melhor documentário.

A atriz e diretora Regina King marcou o início da cerimônia heterodoxa dizendo que os convidados, a maioria dos quais não usava máscaras, "haviam sido vacinados, testados, testados de novo, estão socialmente distanciados e seguem protocolos rigorosos".

"Estamos de luto pela perda de muitos", afirmou.

Antes do início do show, os artistas pararam rapidamente para se deixar fotografar e dar entrevistas rápidas e distanciadas, no que os organizadores chamaram de "tapete vermelho diminuto".

As atrizes Carey Mulligan e Andra Day deslumbraram com o glamour habitual do Oscar, mas a multidão comum de fotógrafos foi muito reduzida devido à pandemia e até os executivos dos estúdios devem assistir à cerimônia pela TV.

"Estamos aqui, não é uma loucura? Seres humanos de carne e osso", disse Riz Ahmed, indicado a melhor ator por "O som do silêncio".