MOSTRA

Exibição virtual apresenta projeto artístico desenvolvido durante obras no MAB

Exposição on-line reúne trabalhos de artistas que passaram cinco semanas nas obras de reforma do MAB para criar performances, fotografias, objetos, instalações e desenhos sobre o museu

Um museu fora de forma pode ser um prato cheio para um grupo de artistas com fome de história. Foi da junção dessas duas situações que nasceu o projeto Obra-Arquivo MAB, cujo resultado pode começar a ser visto na versão on-line. Idealizado em 2018 e concretizado com o financiamento de R$ 100 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o projeto reuniu 18 artistas de Brasília em uma residência muito particular.

Durante cinco semanas, em 2018, eles dividiram o espaço da reforma do Museu de Arte de Brasília (MAB) com operários e engenheiros para criar obras nos mais variados suportes e cujo conteúdo, de alguma forma, tivesse como referência a própria instituição. “Foi muito intenso”, conta uma das idealizadoras, Gisel Carriconde, que começou a pensar no projeto em 2017, ao lado da artista Suyan de Mattos. O MAB teve as obras concluídas e foi reinaugurado no último dia 21, mas, por enquanto, permanece fechado para exposições com público presencial por causa da pandemia.

Instalados no canteiro de obras do MAB, os artistas produziram performances e esculturas, fizeram vídeos, desenhos e fotografias, criaram instalações e site em um processo de integração e releitura da história do museu, mas também de questionamento sobre o futuro da instituição. “Os resultados são poéticas muito diferentes, mas todas amarradas por essa questão dos materiais que estavam disponíveis lá, pela ideia do espaço vazio, pois algumas partes ainda estavam em ruína”, explica Gisel.

Redes sociais

As obras começaram a ser expostas no Instagram (@obraarquivomab) no dia 21 para celebrar a reabertura do MAB e o aniversário de Brasília. Serão, no total, 140 postagens até 20 de maio. Durante a residência, cada artista também fez um diário com textos que estarão disponíveis na rede social. Um catálogo com curadoria de Cinara Barbosa foi idealizado em versão impressa e on-line. A intenção é realizar o lançamento físico com uma festa presencial assim que a pandemia permitir. “A gente priorizou nas redes sociais um material que não poderia estar disponível no livro-catálogo por questão de tamanho. Nas redes vai ter muita coisa do processo: cada artista fez um diário de campo, fotos de todas as obras e parte do processo”, diz Gisel.

Com a exposição on-line, foi possível, segundo a curadora, ampliar consideravelmente a quantidade de imagens e a variedade de textos em exposição. Uma série de mesas-redondas on-line com os 18 artistas tem início na próxima semana no canal do YouTube do projeto, e as transmissões ficarão disponíveis para o público.

Cinara Barbosa chama o projeto de “residência de jornada”. “Foi uma jornada de imersão no canteiro de obras em que os artistas tomaram contato com a história do MAB”, conta. O projeto reuniu diversas gerações. Há na lista artistas que viveram e conheceram o museu um pouco depois de sua abertura, nos anos 1980, artistas que vivenciaram a instituição num período mais próximo ao seu fechamento, em 2007, outros que só conheceram o museu fechado. “O esforço da curadoria foi fazer com que essas memórias e relações do museu se cruzassem na residência artística, mas também preservar a produção de cada artista na construção de uma nova memória”, explica Cinara.

Boneca

Entre as obras criadas durante a residência, o significado e a história do espaço aparecem de várias maneiras. Matias Mesquita criou uma maquete em concreto que foi inaugurada e enterrada para ser encontrada caso, algum dia, o MAB volte a entrar em reforma. Valéria Pena Costa fez uma reflexão sobre a infância com roupinhas de boneca embebidas em cimento e a própria boneca registrada em passeios pela obra.

Suyan de Mattos imprimiu cicatrizes nas paredes do museu para depois transformá-las em monotipias e Raísa Curty tomou cinco minutos do descanso dos operários que trabalhavam na obra para desenhá-los. Há também referências históricas como a instalação sonora de Yana Tamayo, que buscou os sambas da moda do tempo em que o prédio do MAB era conhecido como o casarão do samba. “As obras foram executadas lá, diretamente, algumas até de forma efêmera, outras para saírem de lá, mas, no geral, a grande opção foi pela execução no próprio espaço, são registros variados, performance, intervenção, vídeo, objetos, arte sonora, é bem múltiplo”, avisa Cinara.

Programe-se

Mesa-redonda 1
Com Adriana Vignoli, Igu Krieger, Krishna Passos, Lis Marina, Matias Mesquita e Hilan Bensusan. Dia 29 abril, às 19h30, no YouTube (shorturl.at/pvxDH)

Mesa-redonda 2
Com Luciana Ferreira, Mario Jardim, Mauricio Chades, Valéria Pena-Costa, Lino Valente e Yana Tamayo . Dia
6 de maio, às 19h30, no YouTube (shorturl.at/pvxDH)

Mesa-redonda 3
Com Suyan de Mattos, Leci Augusta, Cintia Falkenbach, Nivalda Assunção, Gisel Carriconde Azevedo e Raísa Curty. Dia 13 de maio, às 19h30, no YouTube (shorturl.at/pvxDH)