CINEMA

Filme sobre história de Chorão estreia nesta quinta nos cinemas e na internet

Trajetória do líder da Charlie Brown Jr, uma das principais bandas de rock dos anos 1990, é contada em documentário carregado de emoções. Estreia ocorre nos cinemas e nas plataformas digitais de aluguel

“Percebi, muito de cara, que o Chorão não era muito diferente de todos nós”, afirma Felipe Novaes, diretor do filme Chorão: Marginal alado. O documentário, que conta a história repleta de extremos do vocalista da banda Charlie Brown Jr, estreia, nesta quinta-feira (8/4), nos cinemas e nas plataformas digitais de aluguel como NOW, Google Play, Apple TV, Vivo Play, Looke e YouTube.

“Claro, por ele ser um rockstar, prestávamos atenção em cada passo dele, mas o Chorão era gente. As polêmicas também mexiam com ele. Então, queríamos mostrar que aquele cara enfrentava questões como todos nós, mas, por ser uma pessoa muito intensa, muito talentosa, se via com dificuldades de lidar com essa massa de sentimentos”, completa Novaes.

Foi justamente dessa vontade de entender o maniqueísmo que envolvia o músico, e o que estava por trás disso, que nasceu o projeto. “Por ter crescido em Santos (SP), sempre tive o Chorão muito presente na minha memória afetiva. Mas, o momento definidor foi depois da morte dele. Primeiro, ficamos todos muito tocados com a forma pela qual ele morreu, de maneira muito precoce. Depois, o que me chamou a atenção foi essa morte mexer com as pessoas pelos extremos. Ou elas endeusavam ou o demonizavam. Então, fiquei instigado a entender quem era aquela pessoa, a trajetória, as contradições. Ele era uma figura muito controversa e percebi que valia um retrato mais aprofundado”, destaca o diretor.

Chorão, nome artístico do paulista Alexandre Magno Abrão, morreu em março de 2013, vítima de uma overdose de cocaína. Ele foi o vocalista, principal letrista e fundador da banda Charlie Brown Jr., formada em 1992, ao lado de Renato Pelado, Marcão, Champignon e Thiago Castanho, sendo o único a participar de todas as formações. No mês em que Chorão celebraria 51 anos, a produção traz a intensidade com que o músico levava a vida, as ideias fortes que influenciaram uma geração, a enorme profusão de criações e letras, bem como o lado humano e social que poucos conheciam. “Eu tenho uma alma feita de sonhos”, falava o artista.

Sem seguir uma ordem cronológica, o documentário percorre a trajetória de Chorão do menino skatista de Santos até ser conhecido como um dos maiores astros do rock nacional e apresenta entrevistas de familiares, amigos, parceiros de banda, do skate e influentes do mercado fonográfico. Participam do documentário personalidades como Serginho Groisman, João Gordo, Marcelo Nova, Zeca Baleiro, Digão do Raimundos, além da companheira do músico, Graziela Gonçalves. Os depoimentos abordam a relação conturbada com o amigo Champignon, companheiro de banda — que morreu uma semana após a gravação do documentário —, a paternidade, o amor, a relação com os fãs, os trabalhos sociais, o perfil businessman e o vício, que acabou levando o artista a uma morte precoce.

Além de imagens de arquivos de emissoras de tevê, a produção ganha um caráter ainda mais íntimo ao compartilhar gravações inéditas do dia a dia de Chorão feitas pelo cinegrafista Jerri Rossato. Novaes reuniu mais de duas mil horas de material audiovisual. “Fundamental para humanizar o personagem é esclarecer as polêmicas e os fatos. Por trás de um ídolo desse tamanho tem muita fragilidade, muito sofrimento. Isso constrói o caráter e a obra da pessoa, o Chorão era muito rico nesse aspecto”, pontua Hugo Prata, produtor do projeto ao lado de Fabio Zavala, e que também assina o roteiro com Novaes e Matias Lovro.

Para construir a narrativa, Prata, também responsável pela cinebiografia de Elis Regina, afirma que aplicou regras da dramaturgia diante da riqueza de nuances da personalidade e da vida de Chorão. “Acho que conseguimos fazer o filme para o nicho do Chorão, mas também para todo o mundo pela escolha dos assuntos, o que era prioritário, o que era relevante, a gênesis da banda e dele como artista, o primeiro sucesso, o fato dele ser um songwriter, a personalidade e a fragilidade emocional que se acometeu nele. Construindo a trama assim entendemos que conseguiríamos falar de um cara independente da música dele, é a jornada de uma pessoa”, descreve.

Chorão: Marginal alado é uma produção da Bravura Cinematográfica, com coprodução da MTV e distribuição da O2 Play. O filme foi eleito Melhor Documentário Nacional no Voto Popular na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2019, e, no mesmo ano, também participou do Festival do Rio. “É importante trazê-lo neste momento, porque o mundo está transformado. O momento do país mudou. E o Chorão sempre foi um farol, atento e combativo com a hipocrisia da sociedade e isso é e sempre será muito importante. É preciso chacoalhar essa árvore, a cultura, a perseguição, os valores”, avalia Prata. “Acho que ele ia gostar do que fizemos, porque a gente não pegou leve com ele. Mostramos os defeitos e as qualidades, os dois lados”, completa.