Artes cênicas

O humor e a poesia de Drummond embalam o espetáculo 'Não se mate'

Com Leonardo Miggiorin, o espetáculo faz referência a poesias de Carlos Drummond de Andrade em uma dramaturgia cheia de humor

Com humor e poesia, o espetáculo Não se mate une o existencialismo de Carlos Drummond de Andrade à encenação de Leonardo Miggiorin para falar sobre luto e perdas. A produção estreia hoje, com transmissão gratuita pelo Sympla, e vai até 11 de abril, de sexta a domingo, às 20h.

Com texto e direção de Giovani Tozi, o trabalho apresenta ao público o artista plástico Carlos, de 35 anos. “É uma peça que traz bastante humor. Uma situação patética de um cara que está em crise e não encontra uma saída para vencer na vida, para superar os próprios obstáculos e decide, no auge da sua crise, dar cabo da sua vida, quando recebe uma mensagem misteriosa”, descreve Miggiorin. O ano é 2019 e o personagem perdeu a mãe, terminou o namoro e foi dispensado do trabalho.

O título faz referência ao poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade lançado em 1962 e os textos do escritor mineiro costuram a história, entre eles Poema das sete faces, E agora José e Uma pedra. “É um personagem contemporâneo, mas, pelo contato com a arte, por ser romântico e lírico, se identifica com esses poemas e eles aparecem na peça costurados no meio, bem delineados, simbolizando algumas passagens do personagem que está em crise”, comenta o ator. “Drummod é universal, ao mesmo tempo que fala de cada um de nós”, acrescenta.

No decorrer dos 70 minutos de espetáculo, o erudito e o popular se equilibram em cena entre os poemas de Drummond e a dramaturgia de Tozi. Mesmo partindo de um tom humorado, no qual o personagem ainda consegue rir de si próprio, o texto propõe um mergulho psicológico, amparado pelos poemas e pela noção de autonomia proposta pelo existencialismo de Drummond, para o qual o ser humano é diretamente responsável pelas perdas que coleciona. “Penso que somos responsáveis pelas nossas escolhas, mas é um processo dialético: ao mesmo tempo que estamos inseridos em um meio, também causamos um impacto nele com as nossas escolhas”, pondera Miggiorin.

Para o ator, o espetáculo ganha força diante do contexto no qual estamos inseridos. “É um jeito bem-humorado de falar sobre os nossos lutos, as nossas perdas, as muitas mudanças que estamos passando, então dialoga com esse momento da pandemia em que a gente precisou se adaptar tanto, mudar comportamentos, hábitos e posturas e até perspectivas. Estamos precisando superar muitas questões emocionais e práticas da vida”, afirma.

 

Não se mate
Até 11 de abril, de sexta a domingo, às 20h. Acesso pelo Espaço Cultural Bricabraque no Sympla ( https://www.sympla.com.br/espacoculturalbricabraque). Não recomendado para menores de 10 anos. Gratuito