FILME

Heranças indígenas: curta 'Brincadeiras Mehinako' será lançado nesta quinta

Feito com autorização da Funai e auxílio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), Brincadeiras Mehinako vai ter circulação de cópias de DVDs nas escolas públicas do DF

Ricardo Daehn
postado em 15/04/2021 06:00
 (crédito: Divulgacao)
(crédito: Divulgacao)

Falado na língua nativa do indígena Aiuruá Meinako, que há mais de 20 anos deixou a aldeia Utawana, o curta-metragem Brincadeiras Mehinako, será lançado hoje, às 10h30, em canal do YouTube. O trabalho retrata tanto um resgate ancestral quanto um aprendizado lúdico. Morador de Planaltina DF, Aiuruá, tirava férias, quando criança, junto a integrantes da etnia Mehinako (Mato Grosso), no Parque Nacional do Xingu, relembrava da infância. Quando entrava no mato, flechava, corria atrás de cigarras e via alguns amigos e primos perseguirem vaga-lumes.

“Como a aldeia é redonda, os meninos combinavam tudo no centro e depois vinha toda a agitação. Hoje, lá eles usam muitas coisas dos brancos, como celulares”, constata Aiuruá Meinako. Brincadeiras Mehinako, com direção de Aiuruá, e diversificada participação das parceiras Delvair Montagner e Elza Ramalho, mais do que reconecta o empregado da Casa do Indígena (próxima do Paranoá), hoje aos 51 anos, com a nostalgia: aponta ainda para um futuro, quem dera, promissor.

“Fui para a aldeia com um roteiro, mas os mais velhos de lá sabem mais do que eu. O cacique, quando soube da nossa vontade de filmar, preparou e organizou tudo para nos receber. Quando chegamos, vimos as crianças interessadas nas brincadeiras de antigamente; mesmo aqueles que tinham alguma resistência no começo”, conta o indígena.

Com uma autoridade natural e virtudes da organização, o cacique Mehinako rememorou do cotidiano e dos hábitos do cineasta, à época em que dava trabalho para os três irmãos mais velhos dele, que ficaram na aldeia. “Hoje eu tenho família aqui (em Brasília); não volto para lá. Em 2000, tentei levar a minha filha Lorena para um resgate de raízes, mas não eu certo”, conta ele, que ainda é pai do jovem Kanídeo. “Vim estudar em Brasília, aprender na escola, porque na aldeia não tinha colégio”, completa Aiuruá, que ainda tem arraigados hábitos como o de comer beiju (tapioca) com peixe e pimenta.

Autodidata

Em Brasília, Aiuruá teve aperfeiçoamento no audiovisual com a ajuda da doutora em antropologia da UnB Delvair Montagner e apoio de Elza Ramalho (coeditora e corroteirista do novo filme). Feito com autorização da Funai e auxílio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), Brincadeiras Mehinako vai ter circulação de cópias de DVDs nas escolas públicas do DF.

“Em 1994, na aldeia, ganhamos câmeras do Japão, quatro filmadoras e também uma mesa de edição. Eu disse: ‘Vou aprender isso’ e, sem treinamento, filmei um Quarup (no caso, uma homenagem ao avô dele que morreu), eu mesmo editei, sem pensar muito ou seguir modelos”, conta o diretor. Foi a semente para que ele alcançasse dois outros feitos: foi premiado por Mapulawache — A festa do pequi (DocTV feito com apoio de Elza) e, há 21 anos, ganhou menção no 21º Tokyo Video Festival, pelo filme Mehinako Ukayumai.

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