PÓS-PANDEMIA

Aruc precisa cantar: campanha busca ajuda para escola de samba

Ação nas redes sociais tenta impedir que a escola de samba mais tradicional do DF não faça shows depois da pandemia

Irlam Rocha Lima
postado em 09/04/2021 06:00
 (crédito: Acervo da ARUC)
(crédito: Acervo da ARUC)

Instituição com relevante contribuição para a cultura brasiliense, a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro, a Aruc, completa, em outubro, 60 anos de existência. A celebração da data, que poderia ter iniciado em fevereiro último, com a realização de eventos relacionados ao carnaval, na sede no Cruzeiro Velho e nas ruas da cidade, teve de ser adiada por causa da pandemia. Mas, enquanto isso, questões administrativas ocupam parte do tempo de Rafael Fernandes de Souza, professor de história que, desde maio de 2020, ocupa a presidência da agremiação. Na agenda do presidente, faz parte algo que nada tem a ver com o samba, a razão de ser da entidade reconhecida no país inteiro. Desde outubro do ano passado, ele e seus companheiros de diretoria lidam com o problema surgido depois de uma ação na Justiça, movida por um morador do Cruzeiro Velho, relacionada com a Lei do Silêncio, a partir das 22h.

Liminar concedida em fevereiro deste ano determina que em ensaios, shows e algo similar, na sede da escola e adjacências, o volume de som não ultrapasse 50 decibéis (dB) — um ambiente em silêncio quase absoluto apresenta 0dB, uma conversa 60dB e um show com música em torno de 120dB.

“O nosso advogado apresentou um recurso propondo audiência de conciliação ao juiz que está à frente do processo”, conta Fernandes. À petição foram anexados vídeos com artistas brasilienses e sambistas consagrados do Rio de Janeiro e São Paulo, que têm como mote “Deixa a Aruc sambar”. O apelo foi feito por, entre outros, Paulinho da Viola, Neguinho da Beija-Flor, Moacyr Luz, Noca da Portela, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Quinho do Salgueiro, Renato Matos, maestro Jorge Antunes e Nicolas Behr.

Campeoníssima do carnaval brasiliense, com 31 títulos conquistados, a Aruc foi fundada um ano depois da inauguração da nova capital, mais precisamente em 21 de outubro de 1961, por servidores públicos cariocas — vários deles ligados à Imprensa Nacional. No ano seguinte a escola participou do desfile das escolas de samba, na área da Estação Rodoviária do Plano Piloto. Naquele mesmo ano, foi batizada pela Portela, representada pelo eterno presidente Natalino José Nascimento, o Natal da Portela, o compositor Candeia e porta-bandeira Vilma Nascimento, durante visita à Azul e Branco candanga.

Em 1965, a Aruc conquistou o primeiro título; e, em 1969, o pentacampeonato. Cinco anos após, passou a ocupar a área onde funcionava a Associação Esportiva Cruzeiro do Sul. O maior número de vitórias sequenciadas, no desfile das escolas de samba, ocorreu entre 1986 e 1993: oito campeonatos. Moacyr de Oliveira, presidente da entidade por cinco mandatos — o mais recente entre 2018 e 2020 — destaca a comemoração do cinquentenário. “Alguns acontecimentos foram marcantes, entre os quais o desfile na Esplanada dos Ministérios, na celebração da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro; a grande festa, com shows da Velha Guarda da Portela, Dorina e Marquinhos Diniz; e a sessão solene da Câmara Legislativa, em nossa sede”. Voltando ao tempo, Moa lembra que, em 2009, a Aruc foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Distrito Federal.

Há quatro anos, em evento festivo, foi assinado, pelo então governador Rodrigo Rollemberg, o termo de cessão de uso — por tempo indeterminado —, da área que a escola ocupa desde 1974, local onde antes funcionava a Associação Esportiva Cruzeiro do Sul.

Estrelas

Ali, ao longo dos anos, se apresentaram alguns dos mais destacados da história do samba, entre eles João Nogueira, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Jamelão, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Bet Carvalho, Dona Ivone Lara, Lecy Brandão e Jovelina Pérola Negra. Mas o palco esteve sempre aberto para sambistas da cidade, que têm participado de diferentes projetos. Na década de 1990, ocorreram três edições do Festival de Pagode. Num deles, Ivan Mendonça e Dinho da Cor do Som foram os vencedores com Overdose de cocada, gravada com sucesso por Bezerra da Silva.

“Além da escola de samba, a Aruc mantém equipes de diferentes modalidades esportivas, que obtiveram vários títulos em torneios e campeonatos, inclusive em competições nacionais”, acentua Rafael Fernandes, que é ligado à Aruc há 18 anos. Voltando à música, o atual presidente disse que, mesmo sabendo que não haveria desfile das escolas neste ano, promoveu o concurso para a escolha do samba-enredo. “O tema proposto foi Quem é maneiro, mora no Cruzeiro. O concurso teve como vencedora a Família Mendonça, que tem como componentes músicos da nossa bateria”, conta.

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