A cantora e compositora carioca Cecília Beraba lançou, nesta sexta-feira (19/3), o álbum Eterno meio-dia, com canções em tributo ao multiartista e conterrâneo Jorge Mautner, selando a parceria de anos entre os dois. O importante músico e poeta completou 80 anos em janeiro e tem sucessos musicais gravados por Gal Costa, Lulu Santos, Caetano Veloso e Gilberto Gil. O álbum está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Amazon e YouTube.
Cecília consagrou o primeiro disco autoral com a proposta de traduzir em melodia e emprestar a voz aos escritos e poemas de Mautner, autor que só foi gravado em raros momentos. São 11 músicas neste formato, mais a faixa-final Eremita erê, que recebe apenas a assinatura de Cecília na melodia e na letra, sem deixar de também ser uma homenagem ao ídolo, que virou amigo.
As referências literárias são inúmeras. Entre elas, estão versos extraídos do primeiro livro de Mautner, Deus da chuva e da morte (1962), na canção Teresa e a tristeza, até a dura realidade de hoje, com a pandemia do novo coronavírus, relatada em Verdadeira realeza, corona. Em Esquadrão da morte, uma crônica poética, fruto de uma notícia de jornal dos anos 1970, também traz atualidade se associada a exemplos como um Rio de Janeiro dominado pelas milícias. O disco também homenageia o grande parceiro de Mautner, que o acompanhou por mais de 40 anos, o violonista Nelson Jacobina.
O disco conta ainda com músicos como Marcelo Callado (bateria e percussões), Marcos Campello (guitarra e sintetizadores), Thomas Harres (tamborim), Antônio Guerra (piano), Rodrigo Sestrem (flauta e backing vocal), com participação especial de Léo Pinheiro e outros. Com masterização e mixagem de Léo Moreira, o álbum foi gravado no extinto estudio Maravilha 8, no Rio de Janeiro.
A artista conta que o álbum estava 80% gravado quando a produção adentrou e precisou adaptar-se aos tempos de pandemia. Ainda assim, muitas referências do disco parecem que foram feitas para falar sobre o momento atual.
Estética e conceito
A capa do disco foi criada a partir da imagem do fotógrafo Custódio Coimbra intitulada Carnaval em madureira. Os designers João Tolentino e Bruna Vieira incorporam à foto o símbolo do Kaos, movimento ideológico-cultural criado por Mautner a partir de 1956.
"Eterno meio-dia é para mim uma grande catarse. O resultado de um mergulho intenso que reflete o imenso amor que sinto por meu ofício, a admiração que tenho pelos meus colegas de profissão, e a força do sonho de viver a canção brasileira, que me acompanha desde que existo no tempo. É um rito iniciático que cumpri cercada por maravilhosas companhias que, assim como eu, têm fé nos laços e na poesia”, afirma Cecília, em material de divulgação.
*Estagiária sob supervisão de Roberta Pinheiro