Pergaminho bíblico de 2 mil anos

Em escavações no Deserto da Judeia, israelenses encontram fragmentos, com escrita em grego, que tornaram possível a reconstrução de passagens dos livros de Zacarias e Naum. É a mais importante descoberta desde a localização do Manuscrito do Mar Morto, há 70 anoos


Numa das mais importantes descobertas desde os Manuscritos do Mar Morto, há 70 anos, Israel anunciou, ontem, ter localizado fragmentos de um pergaminho bíblico de 2 mil anos de antiguidade. Escrita em grego, a relíquia foi encontrada no Deserto da Judeia, no sul do país. “Pela primeira vez em quase 60 anos, as escavações arqueológicas revelaram fragmentos de um pergaminho bíblico”, anunciou a Autoridade de Antiguidades de Israel (AAI), em um comunicado.
Segundo os pesquisadores israelenses, a junção dos fragmentos possibilitou reconstruir passagens dos livros de Zacarias e Naum, que fazem parte do livro dos 12 profetas menores da Bíblia. De acordo com o pesquisador Oren Ableman, da AAI, foi detectada na leitura do pergaminho “uma mudança textual completamente inesperada, que ainda não explicamos totalmente”.
Em uma passagem, por exemplo, no lugar da “palavra ‘portais’ encontrada nas outras versões, o termo ‘ruas’ aparece”. Os arqueólogos tentam, agora, descobrir o significado dessa variação.
A descoberta, classificada como “histórica” pelos especialistas, foi efetuada durante escavações em uma caverna em um penhasco na reserva natural Nahal Hever, numa iniciativa que faz parte de uma campanha para combater o saque de patrimônio.
Para realizar a operação, que se estendeu pela parte do Deserto da Judeia localizada na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967, a AAI forneceu aos arqueólogos drones e equipamentos de montanha, incluindo cordas para descida de rapel.
Nas décadas de 1950 e 1960, fragmentos foram descobertos por beduínos na chamada “caverna dos horrores”, assim classificada por causa dos muitos esqueletos encontrados lá, explicou Oren Ableman, da AAI.
Múmia

Nas novas escavações, os arqueólogos encontraram um grandioso tesouro. Além dos fragmentos de pergaminho, eles desenterraram objetos que remontam à revolta judaica de Bar Kokhba contra os romanos (132-136 DC), assim como um esqueleto de criança mumificado de 6 mil anos de antiguidade envolto em tecido. Descobriram ainda uma cesta de 10,5 mil anos, provavelmente a mais antiga do mundo, apostam os pesquisadores da AAI.
Desde a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, há mais de 70 anos, nas cavernas de Qumran, as grutas do Deserto da Judeia se tornaram alvo de saqueadores de antiguidades, o que motivou a mobilização para proteção da área
Compostos por 930 pergaminhos e papiros, os Manuscritos do Mar Morto são considerados uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos. Redigidos em hebraico, aramaico e grego, incluem textos religiosos e a versão mais antiga conhecida do Antigo Testamento.

Cobiça

A campanha de combate aos saques na região foi lançada em 2017. “Para salvar essas raras e importantes peças patrimoniais das garras dos ladrões”, destacou Israel Hasson, diretor da AAI, que expõe as peças em seu laboratório do Museu de Israel, em Jerusalém.
Os arqueólogos israelenses acreditam que as cavernas de Qumran serviram como refúgio para os judeus na época da destruição do Segundo Templo em Jerusalém pelos romanos em 70 d.C e durante a revolta de Bar Kokhba, cerca de 65 anos depois.
De acordo com Avi Cohen, diretor do Ministério de Jerusalém e Patrimônio, que financiou a recente escavação, o pergaminho encontrado testemunha a história judaica da região e o “elo inseparável entre as atividades culturais judaicas e nosso lugar nesta terra”.
As descobertas arqueológicas são tema de disputas entre palestinos e israelenses, que, às vezes, são acusados de querer justificar reivindicações territoriais na Cisjordânia.