Indicados para a festa

Talentos femininos, negros e asiáticos dominam a cena nas escolhas do 93º Oscar. Nove anos depois de O artista, o filme em preto e branco Mank, com 10 indicações, ganha força para enfrentar o favoritismo de Nomadland

Poucos foram os impactos sentidos na previsível lista de indicados ao próximo Oscar, com cerimônia marcada para o próximo dia 25 de abril: o maior deles, histórico, veio com a dupla indicação de mulheres diretoras: concorrerão na categoria, Emerald Fennell (Bela vingança) e a chinesa Chloé Zhao (Nomadland). Até hoje, em ocasiões pontuais, apenas cinco diretoras competiram, e uma venceu — Kathryn Bigelow (Guerra ao terror).
Além da projeção do filme dinamarquês Druk — Mais uma rodada, que referendou o nome de Thomas Vinterberg (para melhor diretor), houve justiçamento para o longa Minari, feito pelo americano Lee Isaac Chung, e tratado como filme internacional em muitas disputas prévias ao Oscar. Ramin Bahrani, diretor de origem iraniana, emplacou crédito para O tigre branco (cotado para roteiro adaptado), enquanto o longa O som do silêncio entra na disputa com Riz Ahmed, ator inglês de origem paquistanesa, e Paul Raci (esse, intérprete de um ex-combatente surdo). O filme, inesperadamente, concorre ainda em outras quatro categorias, incluindo a de melhor filme.
O maior número de indicações ao Oscar 2021 coube ao longa Mank, que ostenta 10 (feito de longas como Roma, Cabaret e Mad Max: Estrada da fúria). O filme em preto e branco assinado por David Fincher (candidato à direção pela terceira vez) destrincha parte dos bastidores da feitura do clássico Cidadão
Kane. Pela excelência, as atuações de Gary Oldman e de Amanda Seyfried também entraram no rol de disputa pela estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (que vota o Oscar).
Curiosamente, entre os oito longas destacados como melhor filme, apenas três estrearam direto em streaming. Além da equilibrada disputa entre mulheres, os afro-americanos se viram identificados com as indicações. Um destaque está em Judas e o Messias negro (com indicações para os atores coadjuvantes Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield), cotado ainda para melhor filme e canção e roteiro originais, além de melhor fotografia. Artistas engajados na luta contra o racismo, como Regina King e Spike Lee, entretanto, não despontaram com a força esperada para Uma noite em Miami... (destacado por roteiro e canção originais, além de render candidatura para o coadjuvante Leslie Odom Jr.) e Destacamento Blood (lembrado apenas pela trilha original).
Mesmo com a festa presencial prevista para ser abrigada na Union Station (Los Angeles), edificação de 1939 que, pelas dimensões, assegurará o distanciamento social entre astros e estrelas, o Oscar não abandonará o palco do tradicional Dolby Theatre. Uma comoção na festa está demarcada, dada a indicação como melhor ator para Chadwick Boseman (o sétimo caso de póstuma concorrência no Oscar). Ele competirá por A voz suprema do blues, filme que pode render o segundo Oscar para a atriz Viola Davis.

Fazendo história

Recordes e curiosidades estão presentes nas listas dos escolhidos pelas melhores atuações. Glenn Close (coadjuvante por Era uma vez um sonho) pode se tornar a maior perdedora de prêmio, equiparada a oito derrotas de Peter O´Toole (consolado com um prêmio honorário). Anthony Hopkins, na sexta indicação por Meu pai, pode, aos 83 anos, se tornar o mais idoso vencedor da estatueta. Sacha Baron Cohen, o famoso Borat, chega com força no Oscar pela performance em Os 7 de Chicago e ainda pelo roteiro adaptado de Borat: Fita de cinema seguinte (estrelado por Maria Bakalova, listada entre as atrizes coadjuvantes). Ainda entre os intérpretes, de origem asiática, Steven Yeun e Yuh-Jung Youn chamaram a atenção por Minari.
Além da valorização das diretoras Chloé Zhao e Emerald Fennell, que, juntas, acumulam mais cinco indicações em diferentes áreas (produtoras e roteiristas) do Oscar 2021, a diversificação temática abriu flancos em Hollywood: na nona indicação, o recordista Pete Docter emplacou Soul como favorito a melhor animação, trazendo o primeiro protagonista negro da Pixar, e a Tunísia se viu como o quinto representante africano na disputa, pelo reconhecimento de a O homem que vendeu sua pele, sobre um sírio que escapa da guerra. Mulheres fortes e combativas, muitas protagonistas vividas, entre outras, por Carrey Mulligan (Bela vingança), Andra Day (Estados Unidos vs. Billie Holiday) e Frances McDormand (Nomadland) engrossarão o tom feminista na futura festa do Oscar.
Na breve apresentação dos indicados, feita em Londres pelos atores Priyanka Copra Jonas e Nick Jonas, houve ainda um espaço promocional e institucional do Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a ser inaugurado em outubro, com propostas imersivas para os fãs da sétima arte. Enquanto se aguarda, há como mergulhar nos universos igualmente absorvedores de candidatos ao Oscar como Mulan, Tenet e Pinóquio (a surpresa italiana, na lista), além de Os 7 de Chicago, um denso drama de tribunal que consagra o talento de Aaron Sorkin.


» Confira alguns
indicados

Melhor filme

» Meu pai
» Judas e o Messias negro
» Mank
» Minari
» Nomadland
» Bela vingança
» O som do silêncio
» Os 7 de Chicago

Melhor direção

» Thomas Vinterberg, por Druk — Mais uma rodada
» David Fincher, por Mank
» Lee Isaac Chung, por Minari
» Chloé Zhao, por Nomadland
» Emerald Fennell, por
Bela vingança

Melhor atriz

» Viola Davis, por
A voz suprema do blues
» Andra Day, por Estados Unidos vs Billie Holiday
» Vanessa Kirby, por
Pieces of a woman
» Frances McDormand, por Nomadland
» Carey Mulligan,
por Bela vingança

Melhor ator

» Riz Ahmed, por O som do silêncio
» Chadwick Boseman, por
A voz suprema do blues
» Anthony Hopkins, por Meu pai
» Gary Oldman, por Mank
» Steve Yeun, por Minari

Lisa O’Connor/AFP - Emerald Fennell: presença marcante na direção de Bela vingança
Charly Triballeau/AFP - Chloé Zhao é a primeira mulher indicada ao Oscar em quatro categorias no mesmo ano
AFP - Daniel Kaluuya, premiado no Globo de Ouro, ganhará o Oscar?