Críticas feita por Rick Bonadio nas redes sociais causou indignação em artistas e fãs do funk, nesta segunda-feira (15/3) pós-Grammy. Isso porque, em apresentação no importante evento, a rapper Cardi B usou um trecho de alguns segundos de um remix de funk produzido por Pedro Sampaio. A internet comemorou a participação brasileira na grande premiação. Já Rick, entendeu que não havia por que comemorar, criticando a letra e a batida do trecho. Em resposta, a cantora Anitta Iniciou o debate e se posicionou contra a fala do músico, sendo seguida por diversos outros expoentes do gênero e usuários que pediram por respeito a um dos principais gêneros musicais do país na atualidade.
Entenda a polêmica
Bonadio usou a conta do Twitter para comentar o 63º Grammy, que ocorreu, neste domingo (14/3), em formato híbrido. Entre as críticas e os elogios aos artistas da premiação, o produtor escreveu: “Já exportamos bossa nova, já exportamos samba rock, Jobim, Ben Jor. Até Roberto Carlos. Mas o barulho que fazem por causa de 15 segundos de funk na apresentação da Cardi B, me deixa com vergonha. Precisamos exportar música boa e não esse ‘fica de quatro''', disse Bonadio, que se referiu a apresentação de Cardi B e Megan Thee Stallion, da música hit WAP, que contou com um trecho em remix feito pelo brasileiro Pedro Sampaio. Na parte reproduzida, a letra dizia em português “fica de quatro” acompanhada da batida característica do funk. Confira:
Com palavras mais duras, e que desencadearam a polêmica, Bonadio se posicionou dizendo que “ontem, no Grammy, a Cardi B mostrou o pior tipo de música produzida no país, e a galera tá comemorando? Vamos valorizar o que deve ser valorizado! O Brasil tem muita música boa de verdade”. A partir deste comentário, os usuários do Twitter, entre eles a cantora Anitta, rebateram a fala, que consideraram preconceituosa e elitista, em defesa ao funk.
"Rick Bonadio, tenho uma sugestão top para você também. Escolhe um ritmo brasileiro a sua altura, faz uma música e exporta pro mundo. É 'facin'... e rápido... e de uma hora para outra, claro, não dá para começar com míseros segundos no Grammy", começou a cantora, que completou: "quando você chegar lá a gente comemora com você. Ahhhh e sozinho também... Não vale chamar um amiguinho para unir forças e nem comemorar, quando tem vitória de outro amiguinho. Aí, você conseguindo, eu faço uma campanha para deixarem de ser meus fãs e serem seus", escreveu Anitta, uma das grandes responsáveis por popularizar o ritmo no exterior.
Rick continuou dizendo não desejar competir com a artista, mas que seu papel é criticar para forçar a evolução [do ritmo]. Ele ainda disse que “não dá para aceitar as mesmas batidas e as mesmas letras”. “Mesma batida? Você deve ter parado de pesquisar desde seu último álbum de sucesso. Mesmas letras? Aceito. Porém infelizmente cada um canta uma letra compatível com o nível educacional e cultural que lhe é oferecido. Nesse caso, pelo governo brasileiro para com suas comunidades", completou Anitta.
Live
Respondendo às críticas, agora por meio do Instagram, Bonadio decidiu promover uma live, realizada na tarde desta segunda-feira (15) para explicar o ponto de vista e convidar alguns expoentes do gênero para conversar. Entre os convidados, estavam MC WM (que mediou grande parte do debate), MC Zaac e Gabily. Luck Muzik (um dos filhos do MC Catra) e MC Dricka também fizeram uma breve participação questionando o produtor de forma mais incisiva sobre o posicionamento polêmico.
Em resumo, apesar de Bonadio reforçar que mantém a ideia de que o funk pode ser mais do que letras explícitas e “batidas pobres”, os artistas pontuaram que o gênero é composto hoje por muitas vertentes, crossovers e tem diferentes tipos de letras e sonoridades, que o produtor não conhece por não estar tão envolvido no meio. Eles também destacaram que apesar de concordarem que o funk pode explorar outras linguagens, o gênero precisa de espaço, estrutura e apoio do público e de grandes nomes da música como Bonadio. Por fim, destacaram que opiniões mal expressadas (como alegou Rick ao se desculpar e explicar que não estava se referindo ao trabalho de todos os artistas do funk), dá abertura para fragilizar o movimento, criar limitações, e reforçar o preconceito que o ritmo vem enfrentando ao longo dos anos.
Finalizando a live, o produtor decidiu então apagar as postagens escritas, em que, segundo ele, expressou a opinião de forma equivocada. No entanto, fez uma nova publicação em que se lê: “Quem entendeu, entendeu. Quem não entendeu, não vai entender porque não quer entender.... sendo assim: assunto encerrado”. A discussão fomentou novamente debates sobre o papel social e artístico do funk no cenário cultural brasileiro.
Confira quem também falou sobre o assunto: