Emprestando um olhar poético, próprio de sua expressão pessoal e profissional pela escrita, a autora Gracia Cantanhede conta uma história baseada em fatos reais em Cabra-cega, romance recém-lançado. A obra é um marco na carreira da escritora brasiliense, de origem mineira, por ser o primeiro romance adulto a integrar a extensa bibliografia de contos, crônicas e poesias. Anteriormente, só havia lançado neste formato, Madonna chegou (2017), que é dedicado ao público infanto-juvenil. Distribuído pela editora Patuá, o livro tem prefácio assinado pelo escritor e crítico literário Ronaldo Cagiano.
Com os sentidos atentos ao que há de literário no cotidiano, a autora encontrou e deu as próprias nuances a uma heroína forte e resiliente, tipicamente brasileira. Em um processo de emancipação, de resgate do próprio nome e da liberdade que lhe é de direito, Maria Divina Oliveira, ou Vina — como sempre foi chamada — narra uma trajetória de dor e luta por sobrevivência. “Escrevo muito sobre a vida de mulheres fortes. Meu mundo, desde a infância, sempre foi muito feminino. E essa história perpassa por questões que assolam a vida de uma retirante nordestina, de uma mãe e uma mulher, além de trazer temáticas atuais como o feminismo, racismo e a superação de diversos outros preconceitos”, explica.
Gracia diz que está feliz com a recepção do livro, leitores o descreveram como uma leitura fluida e que desperta interesse e reflexão. “As pessoas têm gostado, e contam que identificaram histórias parecidas ou reconheceram a personagem. Ela existe, não foi a primeira e não será a última a fugir da miséria, da violência, da incompreensão, da opressão e que deseja ter o ‘eu’ reconhecido. Mas, para muitas mulheres, essa fuga para a liberdade nem sempre é possível”, compartilha a autora. O romance também tem elementos pessoais, vivências, observações e leituras de Gracia na composição das entrelinhas. Um dos destaques é a forte ligação que tem com questões sociais e humanistas.
Males sociais
O próprio título, Cabra-cega, funciona como uma metáfora que conduz a essas questões na narrativa. ”Sobre a escolha do título, creio que a palavra ‘cabra’ está muito ligada ao Nordeste, às expressões orais usadas pelo povo nordestino, ao folclore e às tradições daquela região. Já a cabra-cega é uma brincadeira de olhos vendados, e eu quis remeter à cegueira da sociedade em relação aos nossos problemas sociais, raciais, ao preconceito, ao machismo e a outros males incrustados na sociedade brasileira”.
No texto, essa alusão é feita por reflexões em primeira pessoa da protagonista. “Os olhos vendados de alguém que tenta mudar o seu destino, mas sem saber o rumo. Como achar a saída de um labirinto?”, diz a personagem. Com o preciosismo de quem é aficionada e respeitosa com a literatura e pelo reflexo do repertório jurídico — também é advogada e procuradora federal aposentada — a autora conta que está aprimorando os detalhes da história para uma segunda tiragem, que deve chegar ao público em breve. A obra Cabra-cega pode ser adquirida no valor de R$ 40, por meio do site da editora Patuá.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira