Breno Alves é um dos nomes de maior representatividade do samba feito em Brasília atualmente. Nascido em Valparaíso (GO), há 35 anos, mas criado na Candangolândia, onde voltou a morar recentemente, o cantor, compositor, pandeirista e uma espécie de líder do grupo 7 na Roda, ele é visto também como agregador — tem estabelecido parcerias com representantes de outros estilos musicais.
O Vai melhorar, primeiro álbum solo que Breno está lançando nas plataformas digitais, é uma prova disso. Há belas parcerias, como em Sou mais de cantar e Sem justiça não há paz (Dudu 7 Cordas), Beira mar (Marcus Lima e Pedro das Sortes), Sou mais pra mim (Vinicius de Oliveira) e Se você voltar (Diego Pedrigree) e Vai melhorar (Gerson da Banda). O disco tem também a assinatura de outros compositores: Até quando sambista (Sérgio Magalhães e Cacá Pereira) e Dos olhos verti lágrima (Beto Freire e Ceumar).
Para participar do trabalho, foram convidadas as cantoras Cris Pereira e Renata Jambeiro e MC Realleza; além dos instrumentistas Amilcar Paré, Jackson Delano e Thanise Silva, responsáveis pelos arranjos. “Breno é importante não só para o samba de Brasília, mas para o samba como um todo. É impressionante o conhecimento que ele tem desse gênero musical, do qual é uma autêntica enciclopédia; além de ser um artista que respeita muito a tradição, as matrizes do ritmo, que é patrimônio cultural imaterial do Brasil. Porém sem deixar de trabalhar com a diversidade sonora”, destaca Thanise, flautista ligada ao choro.
O samba feito e interpretado por Breno foi aplaudido também no Rio de Janeiro. Em 2005, ele venceu o festival Novo bamba do velho samba, promovido no Carioca da Gema, tradicional bar do bairro boêmio da Lapa, no centro do Rio. Há dois anos, com o 7 na Roda — o grupo tem dois CDs e DVD lançados — se apresentou na quadra da Portela, recebendo elogios dos mestres da Velha Guarda da Escola de Madureira.
Álbum eclético, Vai melhorar é um projeto acolhido pelo Instituto Rosa dos Ventos, que faz parte do Circuito Candango de Culturas Populares. “Breno cumpre o sensível papel de desenvolver um trabalho de valorização das tradições, mas que é colorido pela diversidade. É incrível ver essa obra gestada e parida em um momento tão delicado; ainda mais se tratando de um artista que levanta a bandeira da coletividade, repleto de vozes distintas”, ressalta Steffanie Oliveira, presidente da instituição.
Quando o samba entrou em sua vida?
Acredito que no início da adolescência, com a explosão do pagode anos 1990, que tocava em todas as rádios e estava em todos os canais. O pagode, na verdade, me apresentou o samba de raiz. Na época Exaltasamba, Art Popular, Negritude Jr, Raça Negra e outros grupos me tocaram e me levaram a conhecer o Fundo de Quintal.
Quais foram suas principais referências no samba, quando decidiu seguir a carreira musical?
Zeca Pagodinho, João Nogueira, Martinho da Vila, Fundo de Quintal, Roberto Ribeiro, Dona Ivone Lara e Mestre Monarco. Comecei, mais ou menos, aos 12 anos, quando montei o meu primeiro grupo, chamado Cria do Samba, junto de alguns amigos que residiam na Candangolândia. Acho que no ano de 1997.
Quem lhe ensinou a tocar pandeiro?
Lembro-me que todo mundo aprendia junto, naquela ânsia de querer tocar um instrumento e de fazer parte do grupo. O meu primeiro instrumento foi o repique de mão, criado pelo Mestre Ubirany, que recentemente nos deixou. Nesse grupo, eu toquei repique por um tempo, depois passei para o surdo. Paralelamente, iniciava meus estudos na escola de Choro Raphael Rabelo, com o professor Sandro Araújo. A partir desse momento, passei a pesquisar e ouvir muitos sambas antigos, Cartola, Nelson Cavaquinho, Cyro Monteiro, Velha Guarda da Portela, Candeia, Paulinho da Viola, Clementina e outros mestres.
Como um dos criadores do Adora Roda (hoje 7 na Roda), que importância atribui ao grupo para o samba em
Brasília?
O Adora Roda foi um encontro de jovens sambistas que estudavam esses mestres e que precisavam se encontrar para cantar esses sambas. Eu, Kadu Nascimento, Vinicius de Oliveira e Guto Martins somos os fundadores, mas acreditamos que fomos participantes de um movimento da nova guarda do samba brasiliense, como dizia o mestre Carlos Elias. Falamos isso com muito respeito a todos e entendendo que foi um processo que envolveu muitas pessoas do meio sambístico da cidade, não só o Adora Roda.
Como vê o samba brasiliense em relação ao feito no Rio de Janeiro?
A matriz do samba está em nosso coração e, evidentemente, o Rio de Janeiro é um marco na história do samba e da sua transformação na vida social do povo brasileiro. Aqui em Brasília, o samba chegou com os cariocas transferidos devido à criação de capital. Foram eles que trouxeram a primeira semente do samba brasiliense. Esse samba acabou bebendo das influências de todos os cantos do Brasil com seus sotaques e costumes.
A escolha de Vai melhorar, como título do álbum, tem a ver com o desejo que tem, relacionado ao fim da
pandemia ou com mudanças no Brasil?
Esse samba foi feito em 2015 com um parceiro de São Paulo chamado Gerson da Banda. Nessa época, tinha ganhado um festival no Rio e, toda semana, estava indo para lá me apresentar na Lapa. Foi um momento bem difícil e desgastante, mas pude contar com a ajuda de muitos amigos e familiares. Escolhendo o repertório para o disco, eu não podia deixar de trazer esse canto de esperança. O nosso país está precisando de esperança, essa situação tem bagunçado e levado a vida de tantas pessoas que a música acaba sendo o nosso grito de esperança.
Ter parceiro em algumas composições é algo ligado à ideia de agregar outros músicos ao seu trabalho?
Eu nunca fiz nada sozinho, as parcerias são essenciais na nossa construção como pessoas e compositores. Eu sempre fui agregador e aprendi que o samba é mais que um gênero, é uma religião e, na receita de samba, é fundamental as parcerias. Meu parceiro mais constante é o Dudu 7 Cordas.