POESIA

@akapoeta lança quarto livro, dedicado ao fim de uma grande paixão

Escritor João Doederlein, que ficou famoso nas redes sociais, é autor de 'Para ressignificar um grande amor'

Nahima Maciel
postado em 24/03/2021 06:00
João Doederlein:
João Doederlein: "Uma coisa que amo de paixão é a criação de personagens" - (crédito: Alexia Fidalgo/Divulgação)

O fim de um grande amor não acontece em um dia. O tempo é fator fundamental para encerrar grandes paixões e é um pouco isso que o escritor João Doederlein deixa claro em Para ressignificar um grande amor. Conhecido como @akapoeta, o autor começou a escrever os verbetes quando terminou um relacionamento, mas havia decidido deixá-los no Instagram. Foi na rede social que Doederlein começou a ficar conhecido antes de lançar O livro dos ressignificados, em 2017. Depois de uma conversa com a Companhia das Letras, ele decidiu que os verbetes mereciam um novo livro.

O quarto trabalho do autor — que também lançou Coração-Granada e O invisível aos olhos — é fruto de uma experiência pessoal transformada em 124 verbetes que refletem sobre o fim de um relacionamento. “A minha escrita sempre foi autorreflexiva, sempre refleti sobre as coisas da minha vida, e isso foi o pretexto para criação dos primeiros ressignificados”, revela. “O objetivo era retrabalhar palavras e conceitos a partir do meu ponto de vista. Sempre entreguei um conteúdo que falava da minha vida. Eu me sinto satisfeito quando entrego essa parte de mim no meu texto. Não faço algo artificial ou genérico demais, controlado demais.”

A escrita é também uma forma de exposição, mas o autor conta que não se preocupa mais com isso. Ele defende que os verbetes nascem de experiências próprias, mas não as traduzem: são pequenas ficções sobre recortes de momentos vividos e, portanto, não são autobiográficos.

Em Para ressignificar um grande amor, Doederlein retoma a personagem Matilda, para quem escreveu O livro dos ressignificados. A intenção era unir os verbetes por uma narrativa ficcional na qual o eu lírico se debruça sobre o fim do relacionamento com a personagem. “Eu quis trazer a representação de uma personagem em algo que unisse mais os ressignificados com os textos dos capítulos como se fosse contar uma história. Uma coisa que amo de paixão é a criação de personagens”, afirma. Matilda nasceu em 2015 e tomou forma no Instagram, antes de ganhar as páginas do livro impresso.

Para escolher as mais de 100 palavras desse pequeno dicionário pessoal, Doederlein começou por ouvir os próprios sentimentos. “Inicialmente, sempre escolhi sentindo, vendo e pensando, de forma natural”, conta. Depois, passou a fazer a busca de maneira mais metódica. “Comecei a ler dicionário e a falar com outras pessoas. Às vezes, lendo um texto, saltava uma palavra. Outras vezes, estou vivendo algo, e a palavra é chave naquela vivência, daí resolvo escrever sobre ela”, explica.

Os cinco capítulos do livro fazem o trajeto entre o fim de um grande amor e a perspectiva de um novo encontro. O autor preferiu manter o paralelismo com o trabalho de estreia, também dividido em capítulos que, segundo ele, contam uma história. “Quis contar e narrar o que acontece no fim de um amor”, avisa. Em Fantasma, o primeiro capítulo, Doderlein fala das dores da superação. “Ele simboliza a pessoa que não está mais lá, mas que te assombra nas fotos, nos hábitos, na rotina, nos lugares em que iam juntos. Simboliza as marcas que um amor deixa na sua vida e como você vai enxergar essas marcas depois desse amor ter acabado”, diz.

Fantasma é seguido de Solitude.“É o momento em que é você consigo mesmo, que conversa no espelho, se sente sozinho, que outras companhias não preenchem o espaço que aquela companhia deixou”, descreve o autor que, no fim da abertura do capítulo, reflete: “Foi no silêncio do meu próprio peito que eu aprendi a falar de amor outra vez”.

Em Reencontro, há dois sujeitos. O primeiro é o outrora ser amado, enquanto o segundo é o próprio eu lírico e sua existência fora do relacionamento. “É quando você está preparado para encontrar com aquela pessoa, mas também é um reencontro com você mesmo, a pessoa que você era antes de amar”, garante o autor. O capítulo é o mais curto do livro porque, para Doederlein, reencontros são momentos breves, mas bons, sinceros e reais. Relógio traz a noção de tempo com a qual ele brinca desde o prefácio do livro. Tudo que envolve a vida humana é contado no ponteiro ou limitado por ele e, aqui, o autor fala da importância do tempo para a cura de amores perdidos. A perspectiva de uma nova paixão encerra o livro com Para meu futuro grande amor. “É um capítulo de esperança”, avisa o akapoeta, de 24 anos, que ainda quer transformar Matilda no personagem de um romance de ficção.

Confira trechos da obra:

"relógio (s.m.)

é onde o ser humano aprisionou o tempo.
é um trio de ponteiros que guiam a vida
das pessoas. é o que faz a gente ter pressa.
é o trunfo e a ruína do coelho da Alice.

é um fardo para quem sente saudade.
é uma maldição para quem tem
ansiedade. é um lembrete constante da
nossa mortalidade."

 

"supernova (s.f.)

é explosão brilhante de uma estrela de
grande massa que já consumiu toda a
sua energia. é uma luz que passa a do
próprio sol e se intensifica gradualmente
até desaparecer. é quando estrelas
morrem e o universo inteiro assiste.

é o estágio final de um grande amor."

 

Para ressignificar um grande amor
De João Doederlein. Paralela,
182 páginas. R$ 39,90


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