A cada ano da celebração do 8 de março, renova-se o compromisso de reconhecer o papel transformador das mulheres em todos os espaços que têm conquistado. Também vale para a ocupação artística e cultural do Distrito Federal. Elas estão presentes em todas as etapas da cadeia produtiva, usando diferentes linguagens para quebrar barreiras, criar referências, gerar reflexões e fazer história.
Em janeiro deste ano, o nome de Sara Seilert foi registrado no Diário Oficial do DF para a direção do Museu Nacional da República, o que a tornou a primeira mulher a gerir o espaço monumental de Brasília. “Para mim, ser a primeira significa abrir portas e ter um papel representativo do grupo ao qual pertenço. Ser mulher na gestão de um equipamento cultural pode ampliar a discussão de gênero nos ambientes de trabalho, de gestão e de produção de arte. Isso implica responsabilidade, além da chance de compartilhar o lugar de decisão com outras mulheres”, destaca Seilert, que ocupou interinamente o cargo de direção do museu, substituindo Charles Cosac, de quem era assessora desde 2019. Bacharel e licenciada pela Universidade de Brasília (UnB) em artes plásticas, ela foi professora no Centrão de São Sebastião, antes de trabalhar na Secretaria de Cultura.
Por essa mesma secretaria, devido às imensuráveis contribuições no cenário da música e das tradições populares do DF, Martinha do Coco, mulher negra, artista e moradora há mais de 30 anos do Paranoá, foi condecorada com o título de Mestra da Cultura Popular. A pernambucana de Olinda chegou a capital federal com 17 anos, trabalhou como empregada doméstica, gari e só então, teve a oportunidade de iniciar a carreira artística cantando samba de coco. “Você vê uma grande presença de mulheres nesses ritmos, como Lia de Itamaracá, na ciranda, e a Selma do Coco, por exemplo. A mulher também tem esse papel de preservar a tradição”, avalia a mestra.
Para Marina Mara, a poesia é um brinquedo e liberta, na definição que traz a cultura popular. Na bibliografia assinada pela poeta e pesquisadora, está o livro BlasFêmeas, com contos, crônicas e poemas sobre o universo feminino, e o poema Tereza, que, na época do lançamento, mobilizou diversas mulheres em performances com batom vermelho nas redes. “Estar viva e escrevendo é um ato político e a bandeira mais poderosa que uma mulher pode carregar. É importante que possamos falar sem o filtro. Como mulheres, sabemos das delícias e das dores de ser quem somos. No Dia Internacional da Mulher, assim como em todos os outros, não dê flores, dê oportunidades reais, para que ela coloque a própria voz. Quando uma mulher se pronuncia, ela salva mais um monte ao seu redor”, ressalta a artista.
Clipes
Apesar de cantar desde os 13 anos de idade e a compor algum tempo depois, foi só em 2019, cursando comunicação na UnB, que Vix Russel iniciou a carreira artística e se apresentou como o novo nome feminino da cena do rap e hip-hop de Brasília. Aos 22 anos, a artista do Guará tem alguns clipes e canções autorais gravados, que unem a mensagem de empoderamento feminino e identidade negra. O primeiro EP, intitulado BB, foi produzido e lançado em 2020, nos estúdios da Red Bull, em São Paulo, por meio de um concurso. “Ser mulher é sempre precisar ter uma postura impecável, para ninguém te confundir. Mas é bom, é lindo ser preta, me amo. Brasília tem muito a crescer no quesito cultural, mas temos muito potencial escondido”, garante a cantora.
A premiada atriz, diretora e roteirista brasiliense Rosanna Viegas ocupou diversos lugares que a profissão possibilita: teatro, cinema, televisão e internet. Projetou-se nacionalmente, mas, também, ocupou a cidade, com oportunidades surgidas a partir da experiência também na UnB. Oferecendo a versatilidade de quem vai do drama à comédia, virou referência de Brasília. “Descobri que teatro é muita coisa. Voltei para Brasília em 2018 para dirigir um experimento feminista, o Levante-se. Era uma adaptação de Alice Birch e um texto-denúncia sobre o lugar da mulher na sociedade. (...) É difícil ter personagens femininos emblemáticos, especialmente na literatura clássica. Escrevem mais para os homens”, conta Rosanna, que também participou de novelas e séries da TV Globo e filmes de importantes cineastas de Brasília.
Potência
Fernanda Jacob é cria da cena cultural de Brasília, em especial, a de Sobradinho I. Ela aprendeu a falar a língua da arte primeiro com a música, na infância e, algum tempo depois, pelas artes cênicas, com a formação na UnB. Ocupou, então, as rodas de samba da cidade, grupos carnavalescos e criou seu caminho autoral com obras como a peça recém-exibida Pedaço de rua. “Acredito que a nossa cidade é de uma potência feminina muito grande e tenho a honra de fazer parte desse movimento”, destaca.
O encontro das artes da fotógrafa brasiliense, radicada na Chapada dos Veadeiros, Melissa Maurer, e da escritora e professora goianiense Priscila Marília Martins, deu vida ao projeto Beleza interior, com lançamento on-line marcado para hoje (8/3), às 19h, no canal do YouTube da fotógrafa. Com foto e texto, elas contam a história de 28 mulheres diferentes e residentes em Alto Paraíso de Goiás — Chapada dos Veadeiros, que transformam a vida da comunidade.
“A gente trabalhou com a valorização das mulheres do cerrado, com os processos de coletividade e solidariedade. A ideia é mostrar a mulher como um patrimônio imemorial cerratense. Elas se parecem com o próprio cerrado, com muita resistência, resiliência, delicadeza, vulnerabilidade e força”, explica Priscila. “O livro vem para prestar uma homenagem e reverter parte da verba da venda para os projetos sociais que envolvem essas mulheres. Estamos contemplando a cultura, a assistência social, o esporte, o meio ambiente, a saúde, o empoderamento e a equipe técnica inteira é composta por mulheres. É um projeto poético que traz esperança”, completa Melissa. O livro tem 120 páginas e pode ser adquirido por site.
*Estagiários sob supervisão de José Carlos Vieira
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