Homenagem

'Atenção Creuzebek': Há 25 anos, Brasília recebia último show dos Mamonas Assassinas

Em 2 de março de 1996, após um acidente fatal no auge da carreira, Dinho, Bento Hinoto, Júlio Rasec, Samuel Reoli e Sérgio Reoli deixaram um legado marcado pela brasilidade e humor das letras, performance carismática e ousadia musical

Lisa Veit *
postado em 02/03/2021 18:48 / atualizado em 02/03/2021 18:48
 (crédito: Tina Coelho/CB/D.A Press)
(crédito: Tina Coelho/CB/D.A Press)

Mamonas Assassinas é um clássico atemporal e inédito na história da música brasileira. Em 2 de março de 1996, o grupo composto pelas personalidades irreverentes (e inesquecíveis) de Dinho, Bento Hinoto, Júlio Rasec, Samuel Reoli e Sérgio Reoli, se despedia de Brasília, palco do último show. Devido ao trágico acidente de avião na Serra da Cantareira (Zona Norte da capital paulista), os artistas não puderam chegar até onde estavam destinados. E o país ficou de luto.

Com apenas nove meses de carreira, eles conquistaram o público brasileiro em toda sua diversidade. Foram capazes de conversar com pessoas de diferentes regiões do país, de diferentes nichos musicais e reunir as gerações. Os Mamonas fizeram história nas rádios, nos palcos, e na televisão brasileira, com performances lúdicas, em que vestiam fantasia, e entrevistas hiperativas nos programas de auditório da época. Eles não se levavam a sério e eram elogiados por isso. E, dessa forma, criaram uma imagem muito diferente da que era passada pelo grupo quando ainda se chamava Utopia e tentava produzir um disco de rock & roll oitentista com letras melancólicas.

Homenagens e tributos

O grupo já foi homenageado em diversas produções ao longo dos anos. Entre elas, peças de teatro musical, documentários, programas especiais e shows em tributo. No ano passado, artistas se reuniram para uma mega live beneficente no combate a covid-19 que lembrou a trajetória dos músicos. O projeto mais recente é a produção de um longa-metragem, ainda sem título oficial, com roteiro assinado por Carlos Lombardi e direção de Anita Barbosa e Léo Miranda. O filme deve iniciar as gravações ainda este ano, nas locações em Guarulhos, onde o grupo foi formado. O ator Ruy Brissac, que interpretou Dinho na peça O musical Mamonas, voltará a viver o papel no longa. No entanto, o protagonismo será dedicado à presença da Brasília Amarela, a original do videoclipe de Pelados em Santos, que foi recuperada como sucata em um pátio do Detran e restaurada em 2015.

Mamonas Assassinas - O álbum (1955)

Produzido por Creuzebek, apelido dado ao empresário musical Rick Bonadio, o álbum de estreia autointitulado vendeu mais de 3 milhões de cópias só no Brasil e eternizou canções cheias de humor politicamente incorreto, trocadilhos, brasilidade e, que inusitadamente, misturam gêneros como o heavy metal, rock clássico, o pagode romântico, o repente nordestino, e outros. Surgidas de uma grande brincadeira profissional, Pelados em Santos, Uma Arlinda mulher, Robocop gay e Jumento Celestino, se unem a outras dez composições do único álbum de estúdio da banda. A gravação ocorreu em São Paulo, no estúdio de Bonadio, e a mixagem no The Enterprise, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Mas, antes disso, tiveram que resolver um problema: a gravadora EMI queria no mínimo dez canções para o disco, e o grupo até então só tinha três. Em uma semana, Dinho e os outros músicos escreveram as outras 12 faixas originais que entrariam no trabalho.

Em entrevista recente ao Correio, Rick Bonadio comentou sobre o fenômeno de grupos como o Mamonas.“O que mantém o Mamonas atemporal é a força do artista. Eram artistas muito originais, com canções fortes e personalidades muito divertidas. O conceito artístico era muito interessante e não tinham apenas uma música muito boa. Além de terem diversas músicas boas, era legal ver o show, ver na televisão, ouvir nas rádios...Entregavam o entretenimento completo”, lembra o produtor.

Nos agradecimentos, impressos no encarte que acompanhava o disco, escreveram: “Aos nossos pais, irmãos e familiares; ao Rafael (baba-ovo cósmico); ao Zé Luis (Meteoro); aos nossos amigos (são muitos e não caberiam neste encarte); ao Arnaldo Saccomani; ao Geraldo Celestino; e a todos que ajudaram na realização deste trabalho. Ao pessoal do avião (que serviu um rango da hora na nossa viagem pros USA); ao Santos Dumont (que inventou o avião, senão a gente ainda tava indo mixar o disco a pé); ao Gonzales (mexicano clandestino que arrumava nossos quartos no hotel); ao pessoal do estúdio "The Enterprise” (que ria das nossas piadas mesmo sem entender p*rra nenhuma); ao Charles Miller (por ter trazido o futebol pro Brasil); ao Chaves e Chapolin; ao Billy, Pluck, Mike, Proteus, Dick, Giully e Fluke (nossos cachorros); ao Ultraman (que matou aquele monstro horrível); à tia da escola que dava canjica na hora do recreio; ao pessoal da EMI, que nos encontrou em cima duma ponte com uma bigorna amarrada no pescoço, e num gesto de piedade acolheu nosso trabalho (valeu mesmo, galera!) E a DEUS, que foi quem mais nos ajudou e esteve sempre ao nosso lado”.

Confira vídeos dos principais sucessos: 

Pelados em Santos

Robocop gay

Vira-Vira

Chopis Centis

Sabão crá, crá


*Estagiária sob supervisão de Roberta Pinheiro

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