Premiação

Globo de Ouro: 78ª edição do prêmio ocorre neste domingo em formato diferenciado

Em meio a polêmica, o Globo de Ouro tende a ser histórico, caso valorize artistas negros, mulheres e temas femininos. Confira!

Na 78ª edição, o Globo de Ouro chega ajustado ao momento da pandemia, sem encorajar aglomeração de astros e estrelas, e com duas frentes de entrega: a humorista Amy Poehler será a apresentadora, a partir do tradicional Beverly Hilton Hotel (Los Angeles), enquanto Tina Fey comandará a festa sediada no Rockfeller Center (Nova York). Se há previsão de que os indicados fiquem no conforto de casa, ao menos apresentadores circularão nos palcos, num desfile que promete as presenças de Margot Robbie, Kenan Thompson, Cynthia Erivo, Awkwafina, Joaquin Phoenix e Kristen Wiig. A exibição da festa será no canal TNT, neste domingo (28/2), a partir das 21h30.

Na lista dos quase 90 votantes do Globo de Ouro, a ausência de miscigenação étnica despontou numa inflamada reportagem estrangeira, mas dá para notar que as indicações ao prêmio apontado pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood não comprometeram, de todo, a entidade. Exceto pela gritante falta de reconhecimento para um filme de Spike Lee (Destacamento Blood), os finalistas desenham bom terreno para artistas afro-americanos. Com A voz suprema do blues, o ator Chadwick Boseman pode se tornar o primeiro intérprete negro com prêmio póstumo e a colega de elenco, Viola Davis, acalenta chance de se tornar a mais experiente, aos 55 anos, atriz negra a vencer. Está muito cotada entre as apostas.

Há acenos de que, sim, existem conquistas configuradas em possíveis premiações: tanto Daniel Kaluuya (aclamado, por Judas e o Messias negro) quanto Leslie Odom Jr. (de Uma noite em Miami...) podem estar no quinteto de negros premiados na categoria coadjuvante, numa lista que inclui Denzel Washington e Mahershala Ali. Na categoria de melhor atriz, por Os Estados Unidos vs. Billie Holiday, Andra Day protagonizou o papel de quarta atriz negra candidata na estreia em cinema, mesmos casos de Diana Ross, Whoopie Goldberg e Gabourey Sidibe.

Quase sete anos depois da desbravadora Ava DuVernay cravar a primeira indicação para uma diretora negra, Regina King se afirma como a segunda artista na condição, à frente de Uma noite em Miami... No filme, um encontro capitaneado por figuras como Malcolm X e Muhammad Ali abre frente para exposição das fissuras com o preconceito racial.

Um ajuste de contas também transparece na indicação dos dramas Nomadland (um dos favoritos) e Bela vingança: qualquer um dos dois pode se tornar o primeiro a vencer, sob a direção de uma mulher. Em 1984, Barbra Streisand venceu sustentando o musical Yentl. Contra a possibilidade da valorização feminina, o longa Os 7 de Chicago, que desmembra a personalidade de figuras politicamente atuantes antes dos anos de 1970, nos Estados Unidos, se mostra com potencial para a vitória. Há mais de 40 anos (desde Kramer vs. Kramer) um drama de tribunal não vence o Globo de Ouro e Os 7 de Chicago ainda traz direção e trama de Aaron Sorkin, de A rede social e Steve Jobs, pela oitava vez indicado como roteirista.

Prestigiados

Num Globo de Ouro amenizado pela presença do colorido e do glitter da comédia A festa de formatura, e com valorização de veteranas como Jodie Foster e Glenn Close, ambas indicadas, há também um desfile de talentos ingleses (prestigiados, entre os finalistas), numa lista que inclui Daniel Kaluuya, Anya Taylor-Joy, Carey Mulligan (uma favorita a melhor atriz por Bela vingança), Anthony Hopkins (o mais idoso indicado a melhor ator, por Meu pai), James Corden, Rosamund Pike, Dev Patel e Olivia Colman, não há como prever discursos inflamados.

Com a sacada de trazer para os holofotes Jane Fonda, a celebrada lenda que receberá o troféu Cecil B. DeMille, justo num ano em que o prêmio reconheceu talentos femininos (há três diretoras indicadas), o Globo de Ouro acertou em honrar Norman Lear, com o destaque no troféu Carol Burnett. Lear, aos 98 anos, é um produtor e roteirista de tevê que deu espaço para tramas com hispânicos, negros e idosos, vale a lembrança.

Fazendo troça da iniquidade entre homens e mulheres, ao lado da revelação Maria Bakalova, a estreante com amplas chances de se tornar a mais jovem a vencer na categoria de atriz de comédia. O ator, produtor e roteirista Sacha Baron Cohen tem a chance de passar o rodo nos prêmios, à frente de Borat: fita de cinema seguinte.

As apostas

No campo mais imprevisível, há a estatueta reservada a melhor atriz coadjuvante, ainda que muitos apostem em Amanda Seyfried, na pele da amada do magnata William Randolph Hearst, personagem de Mank, uma celebração em preto e branco de David Fincher que lidera, em número, as indicações (6).

Outras mulheres que têm muito para brilhar são Carey Mulligan, bem cotada como melhor atriz de Bela vingança (filme que quebra o topete de machistas) e as representantes de Nomadland: a possível primeira asiática a vencer o prêmio de melhor direção Chloé Zhao e Frances McDormand (atriz do filme que tem fôlego para ser a quinta mais idosa atriz vencedora de Globo de Ouro). Outros nomes em evidência na premiação são Lin-Manuel Miranda (que, por Hamilton, pode quebrar um jejum de quase 60 anos, depois de Cantinflas, relacionado a atores latinos vencedores) e a dupla Tahar Rahim e Riz Ahmed, presenças de origem muçulmana na festa.

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