Apenas duas semanas após sua estreia, o Big Brother Brasil 21 já despertou inúmeras polêmicas e tem dado muito o que falar. O público vem se posicionando cada vez mais e não perdoa quando o assunto é a casa mais vigiada do Brasil. Mas, nos últimos dias, a postura de alguns dos competidores tem interferido não apenas nas torcidas, mas na vida das famílias dos brothers. Para além das câmeras do programa, como está a saúde mental de quem ficou do lado de fora?
Sem poder se envolver diretamente com as ações do participante, o parente ou amigo pode sofrer com a sensação de impotência, além do linchamento virtual, quando o competidor não é querido pelo público.
No início do mês, a esposa do rapper Projota, Tamy Contro, publicou um vídeo no qual relata as sucessivas situações desconfortáveis vividas por ela e o medo que tem sentido. No vídeo intitulado "Desabafo da minha vida real", a influenciadora conta que a filha do casal, Marieva, de apenas um ano, foi ameaçada de morte. “Eu vinha recebendo xingamentos, ameaças, mas ia me blindando da forma que dava, apagando comentários, bloqueando a pessoa. Até que a Marieva foi jurada de morte e aí eu fiquei muito mexida com isso. Para mim, acabou ali. Porque eu acho que nada que o Projota pudesse ter feito na casa deveria respingar em pessoas que estão aqui fora e que não fizeram nada", disse, em meio às lágrimas.
Jorge Conká, filho adolescente da cantora Karol Conká, também foi vítima de ataques envolvendo o reality show. O rapaz, de 15 anos, usou as redes sociais da mãe para se pronunciar e pedir a empatia do público. "Eu não tenho nada a ver com o que acontece dentro ou fora daquela casa", escreveu o menino nos stories do perfil da rapper no Instagram. “Se coloquem no meu lugar, imaginem se fosse alguém te ameaçando e xingando a sua mãe. A única coisa que peço é empatia da parte de todos", completou.
A namorada da participante Lumena, Fernanda Maia, também se pronunciou em suas redes. “Não tem sido fácil assistir ao programa e não reconhecer a Lumena que eu namoro”, disse.
O médico psiquiatra Anibal Okamoto relata que, na web, as pessoas se sentem mais livres para exporem o que querem, mas se esquecem de que os seus atos podem ter consequências, às vezes graves. “A internet cria algumas condições que favorecem esses atos (de ódio), sobretudo o anonimato e a diluição da culpa na multidão”, explica. “Ataques, ofensas e ameaças podem ser tipificadas como crime, a depender da forma e intensidade”, pontua o profissional.
Angústia
Ainda que o público repudie fortemente alguns jogadores, outros, por outro lado, ganharam apoio e afeição. No entanto, dentro da casa, não é possível saber se a opinião sobre si mesmo é positiva ou negativa aos olhos dos telespectadores. Essa sensação pode ser angustiante, somada aos conflitos que mexem com a cabeça de quem está confinado. Prova disso foi o episódio em que o fazendeiro Caio quase desistiu do jogo após assistir a um vídeo da mulher.
Assistindo a tudo de fora, os familiares, por sua vez, também acabam sentindo o peso carregado por quem está dentro do jogo. Nesta edição, a equipe de um dos participantes fez campanha para a saída do competidor, ao invés de sua permanência no jogo. Arcrebiano, ou Bil, foi o segundo eliminado do programa, a pedido da mãe. “Peço encarecidamente que deixem o meu filho sair daquela casa. Isso é um pedido de uma mãe que está angustiada e triste com tudo o que está acontecendo na vida do filho. Gostem dele, mas gostem dele aqui fora, por favor”, pediu dona Ana Araújo, mãe do ex-participante, no Twitter.
“As famílias dos brothers estão sofrendo tanto ou mais que eles, uma vez que a família tem uma perspectiva externa e muito mais objetiva do que está acontecendo”, afirma Okamoto.
O médico explica ainda que o BBB21 está se configurando de uma forma diferente, se comparado com as edições anteriores. Segundo o profissional, as pessoas têm se posicionado e jogado mais, mas perderam o espírito esportivo da competição. “Acredito que isso foi muito mais intenso nessa edição do que nas passadas. Antes, as coisas eram bem mais simples. Agora, as pessoas estão jogando um pouco mais pesado, se mostrando muito mais e, inclusive, passando dos limites”, arremata.
*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão