LITERATURA

Raphael Alberti narra história de agente duplo e do cenário político brasileiro dos anos 1960 em novo livro

'O espião silenciado', do historiador Raphael Alberti, chega às prateleiras pela Cepe Editora, de Pernambuco

Em 13 de março de 1963, um ano antes do golpe militar de 1964, o jornalista José Nogueira morreu após cair da sacada do apartamento em que morava no Rio de Janeiro. A polícia civil encerrou o caso apressadamente, relatando que se tratava de um acidente, baseada apenas em um depoimento do proprietário do imóvel: Nogueira costumava tomar uísque escorado no parapeito, após o expediente.

Na verdade, Nogueira era um espião e agente duplo que trabalhava tanto a serviço da esquerda quanto da direita, em um momento histórico marcado pela guerra fria e pela polarização política no país. Era o principal informante da CPI do Ibad-Ipes, dois órgãos que faziam propaganda anticomunista e, patrocinados pelos Estados Unidos, conspirava pela queda de João Goulart e ajudaram a tramar o golpe militar no Brasil. Nogueira havia feito graves denúncias contra organizações de extrema direita, da qual participava — ou nas quais estava infiltrado.

É deste ponto que o historiador carioca Raphael Alberti parte para esmiuçar o cenário político brasileiro dos anos 1960 e o golpe que estava em gestação, revelando alguns fatos inéditos e perspectivas pouco exploradas pela historiografia do período. Após 10 anos de intensas pesquisas, o livro O espião silenciado chega às prateleiras pela Cepe Editora, de Pernambuco. “Decidi escrever o livro, porque é uma história extremamente fascinante, e é como se fosse uma microesfera do que era a Guerra Fria naquele momento. Você consegue explicar a Guerra Fria e as conspirações para o golpe de 1964 por meio da história particular desse espião”, analisa Alberti, em entrevista ao Correio.

Entre as informações mais chocantes, estão a revelação de uma organização chamada Ordem Suprema dos Mantos Negros, uma versão brasileira dos supremacistas da Ku Klux Klan que usava trajes como os da versão norte-americana e odiava negros e nordestinos.

A história do livro, que tem traços de mistério, suspense, ação e conspiração política, está sendo adaptada por Alberti e Vitor Garcia para o cinema. Os dois historiadores já produziram o roteiro. A história terá adaptações, como a modificação de datas e a inclusão de novos personagens. “Notamos que o livro tem uma predominância de atores sociais homens, então a gente vai criar personagens femininas também”, explica Alberti. O próximo passo é encontrar uma produtora interessada em transpor a história para as telas.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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O espião silenciado
De Raphael Alberti. Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), 2020. 140 páginas. R$ 30 (versão impressa, à venda pelo site da editora — www. cepe.com.br/ lojacepe/
um-espiao-silenciado) ou R$ 8,90 (e-book, pela Amazon, Kobo, Wook, Google Play e Apple).