Ao comandar um filme que, apenas nos cinemas, teve mais de 2 milhões de espectadores, o diretor Daniel Rezende, do sucesso Turma da Mônica — Laços, optou por estratégias simples para prender a atenção das crianças. “Escolhemos o caminho de não subestimar a inteligência, a sagacidade e o entendimento do público infantil. Cinema pode ser feito com verdade e carinho que imprimem na tela. As crianças, muito mais do que os adultos, conseguem se conectar com isso”, explica. Personagens cativantes e a exploração do amado universo de Mauricio de Sousa estreitaram a chance do acerto nos cinemas. Agora, com a pandemia, o longa migra para o streaming, num evento gratuito batizado de Férias Brasileiras e que agrupa 23 filmes, além de sessões de contação de histórias.
Turma da Mônica — Laços, a ser exibido no projeto pelo streaming da Looke, se valeu dos olhos do criador Mauricio de Sousa como um termômetro de produção. “Enquanto eles brilhassem, estávamos no caminho certo”, sublinha o cineasta Daniel Rezende. A identificação junto ao público parece intensificada, agora que o contato com a natureza e as brincadeiras em grupo da garotada se tornaram um desejo fortalecido, quase idealizado.
Editor brasileiro indicado até pelo Oscar (na equipe de Cidade de Deus), Rezende conta da velocidade demarcada em Laços: “Deixamos o ritmo do filme um pouquinho mais lento do que a vida atual (corrida, nas filmagens), para que as crianças se conectassem com uma vida sem apetrechos eletrônicos e para despertar uma nostalgia sem fim nos pais”.
O Festival Férias Animadas traz em si aspectos que cutucam as saudades de ser criança nos pais, tios e tias. Exemplo está em Menino Maluquinho, clássico da literatura infantil de Ziraldo que, nos cinemas, contou com a adaptação em 1998 assinada pela dupla Fernando Meirelles e Fabrízia Pinto, e chamada Menino Maluquinho 2 — A aventura. Diretor também do celebrado Dois Papas, Meirelles pontua: “Creio que o menino seja um personagem com que a maioria das crianças e pais se identificam. Um moleque inteligente, aventureiro, muito criativo e com bom coração. Não é o bonzinho chato, é um bonzinho safo”.
Com o distanciamento de 22 anos, a investida no universo do personagem que, nos livros, rendeu mais de 120 edições, num total de vendas superior a 4 milhões de exemplares, Fernando Meirelles não deixa de observar lacunas. “Talvez as meninas precisassem de algum papel na história: pensar que aventuras são só para garotos parece que deixa alguma coisa faltando”, comenta, destacando que, hoje em dia, certamente incluiria uma ou duas garotas na turma destacada no filme.
Só sucesso
Derivado de uma série de tevê muito acolhida pelo gosto da criançada, Detetives do prédio azul traz, no trio central de protagonistas, a esperta personagem Sol (Letícia Braga), que completa com os amigos Pippo e Bento, o manejo de artifícios encantados no combate a maldades e momentos críticos da turminha. Responsável pelo estouro de bilheteria que foi o segundo filme de maior público em 2017, o diretor André Pellenz é nome ressaltado nesta edição do Festival Férias Brasileiras. Ele comandou a atração homônima para o canal Gloob da tevê a cabo.
“Quando se leva um sucesso da tevê para o cinema, é fundamental que o filme seja tratado como um filme, e não um ‘episódio esticado’ do programa. É preciso trabalhar tanto para o público que conhece os personagens, trazendo elementos novos que não existem na série, como também é preciso pensar em quem não conhece nada daquele universo”, explica, caçando fatores que tenham levado ao sucesso junto à criançada. Criar para cinema e tevê, como ele explica, culmina em processos “primos”. “Mas, quando se trata de cinema, tela grande, tudo é muito mais cuidado, pensado e repensado. Até porque o público, mesmo o infantil, cria uma expectativa maior quando vai ‘ver um filme’”, conclui.
» Estreias nos cinemas
Depois a louca sou eu
Baseado em livro de sucesso de Tati Bernardi, Julia Rezende dirige Débora Falabella na comédia em que a ansiedade se prova a maior inimiga de uma escritora.
Monster Hunter
Inspirado em jogo de videogame, Paul W. S. Anderson comanda o filme de ação em que Milla Jovovich protagoniza junto a um esquadrão que enfrenta monstros assustadores.
Judas e o Messias negro
O mesmo ator de Corra! Daniel Kaluuya dá vida ao revolucionário líder do partido Panteras Negras, Fred Hampton, neste longa a cargo do cineasta Shaka King.
Christabel
De Alex Levy-Heller, o filme mostra uma mulher libertária invadindo o seio de uma tradicional família interiorana.
PJ Harvey: Um cão chamado dinheiro
Seamus Murphy acompanha o processo criativo do novo álbum da cantora e compositora britânica PJ Harvey, nesse documentário.
Mais que especiais
Dois homens se unem em prol de autistas e demais pessoas marginalizadas. Vincent Cassel protagoniza o longa dos codiretores de Intocáveis (2011).
O mundo de Gloria
De Robert Guédiguian, revela as mazelas e todos os artifícios de superação de uma família francesa consumida pelo capitalismo.
» Três perguntas / Stela Barbieri, contadora de histórias do projeto
Qual o segredo para prender as crianças numa live?
Atenção é algo fugidio, você que lê agora um texto, lê o texto e pensa em algumas outras coisas, ao longo dele. Seus pensamentos podem ter a ver com o que está lendo ou não. Quando um assunto nos interessa vamos para outros pensamentos, mas voltamos ao texto, história, filme. Sendo assim, com as crianças não é diferente, ao ouvirem uma história que as mobiliza, assistirem a um filme, fazem relações dessa história com aspectos de sua vida, pensando em outras coisas e se estiverem envolvidos, voltam a história.
O que de mais genuíno estimula tua comunicação com as crianças?
Estar a serviço da história e entregue ao encontro com os públicos, com presença. Com qualidade da presença! Há uma atmosfera que instaura, desde o início do encontro, a real criação de ligação entre nós.
Crianças têm fácil entretenimento?
As crianças são um público exigente e só ficam atentas ao que lhes interessa. Para escolher uma história para narrar que gere engajamento, primeiro precisamos nos envolver com ela, vivê-la internamente, imaginando cada detalhe e então, na hora que acontece a partilha da narrativa vivida, vamos criando diferentes atmosferas e nuances. Alteramos os ritmos, intensidades, respirações, e nos deleitamos com a força das palavras e a qualidade da presença. As surpresas e guinadas de caminhos nas narrativas são aspectos estruturantes de uma sequência narrativa mobilizadora.
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