A técnica da animação em stop motion está no cerne da história do cinema. Do longa francês pioneiro de 1902, Viagem à Lua, dirigido pelo cineasta e ilusionista Georges Méliès, a diversos filmes consagrados, como os de Tim Burton, Estranho mundo de Jack (1993), Noiva cadáver (2005), Frankenweenie (2012); e pela famosa Fuga das galinhas, de Nick Park e Peter Lord, dos anos 2000, essa linguagem cinematográfica, que pode ser traduzida de forma literal como “movimento parado”, tem se aprimorado e se diversificado ao longo dos anos, por meio da combinação entre o artesanal e a tecnologia.
No Brasil, o cenário da animação vem crescendo e ganhando destaque. Este ano, o país conta com duas produções em curta-metragem do gênero aptas a concorrer ao Oscar: Umbrella, uma animação em 3D dirigida por Helena Hilário e Mario Pence; e Carne, animação documental que utiliza diferentes técnicas para cada narração sobre o corpo feminino, dirigido por Camila Kater. Entre as técnicas, estão a animação tradicional em aquarela, criada por Giovana Affonso; a animação digital 2D, de Flávia Godoy; intervenções em negativo 35mm feita por Leila Monsegur; stop-motion em argila desenvolvido por Cassandra Reis, e stop-motion com objetos e pintura a óleo em cerâmica, produzido pela própria diretora, Camila Karter.
O primeiro longa-metragem do país utilizando o stop-motion com bonecos, onde se fotografa cada mínimo movimento, quadro a quadro, para em seguida gerar a impressão de continuidade, foi o Minhocas (2013), desenvolvido pelo Animaking e parcerias, com direção de Paolo Conti. O cineasta também foi responsável por fundar a produtora em 2001, em São Paulo, que migrou em seguida para Florianópolis. O filme, desenvolvido a partir do curta premiado de 2006, conta a história de um garoto minhoca chamado Junior, que tem dificuldade para se integrar à turma de minhocas do seu condomínio. Capturado por uma pá de construção, ele vive uma aventura fora do solo que transforma a vida dele para sempre.
Sequência
Em 2021, a Animaking completa 20 anos. Atualmente, além dos trabalhos paralelos para o YouTube e produções publicitárias, o estúdio está em processo de desenvolvimento de um longa-metragem utilizando novamente a técnica. O filme será uma sequência e, portanto, se passa no mesmo universo de Minhocas (2013). Porém, o enredo e personagens serão diferentes e mais focados na comédia e na ação de espionagem. O tema central da trama será a crise de identidade dos personagens, motivada pela tecnologia das redes sociais. A continuação, ainda sem título oficial, tem coprodução com a empresa estadunidense Verité Entertainment, de Los Angeles e traz diversas inovações tecnológicas nos processos.
Em entrevista ao Correio, a animadora e diretora de conteúdos do estúdio, Camila Kauling, falou sobre os complexos processos até a chegada das produções ao público, que têm sido facilitados e se tornado mais elaborados com a tecnologia e o acesso a informações. “Desde o Minhocas, tivemos o contato com várias inovações tecnológicas que possibilitaram a realização das produções nos campos de captura de imagem, com máquinas e softwares de motion control (controle de movimento) em câmeras, melhor articulação e realismo na criação dos bonecos, com animatics (storyboards animados) e prototipadoras 3D (impressoras 3D), que utilizam resina, resina em pó e plástico para criação dos personagens adereços e cenários; e modelagem em 3D para criação em pré e pós-produção”, explica Kauling.
Essa é uma combinação potencializadora entre a arte artesanal e arte digital. E, apesar das inovações que chegam ao país, Camila conta que ainda é difícil fazer a importação de equipamentos e materiais de alta tecnologia lançados no mercado, além do investimento que as produções mais elaboradas exigem em tempo, formação técnica e custos. Enquanto o novo filme não ganha uma data de lançamento, o público pode acompanhar séries animadas, entrevistas, dicas, making of e produção do novo longa, e de outros trabalhos do estúdio, em diversos formatos de animação, por meio do canal do YouTube Animaking e nas redes sociais.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
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