Inspiração na fotografia e no fotojornalismo, Luis Humberto, morto ontem (12/02) na capital, foi enterrado no Campo da Esperança, em cerimônia restrita. Primeiro professor titular de fotografia, numa universidade nacional, Luis Humberto teve obra integrada a Brasília, na chegada em 1961, vindo do Rio de Janeiro. Também arquiteto, conjugou imagens à analise política do Distrito Federal. Ele morreu em decorrência de linfoma no sistema nervoso central, depois de quase dois meses de internação no DF Star. No enterro, reverberou a paixão pelo Fluminense, time do coração: Luis Humberto estava vestido com a camisa de torcedor e junto a ele estava uma bandeira do Fluminense.
Consolidada quase como "irmandade", a proximidade de Luis Humberto e o arquiteto e professor da UnB José Carlos Coutinho motiva sucessivas memórias e celebrações. "Luis Humberto, para mim, foi como um irmão: nós convivemos, lutamos juntos dentro da mesma trincheira, à época da resistência à ditadura. Tínhamos uma afinidade muito grande, ele era uma pessoa espirituosa; de muita vivacidade de muita energia. Como arquiteto, Luis fez parte da equipe do professor Alcides Rocha Miranda, que foi representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, antes de ser chamado assim. Havia, na equipe dos arquitetos, ainda o Elvin Dubugras. Tinha o outro grupo liderado pelo Niemeyer, que conduzia o Centro de Planejamento. Um dos projetos do Alcides, e do qual Luis Humberto integrava a equipe, foi o Dois Candangos (auditório da UnB), em que funcionava o Clube de Cinema da UnB", explica Coutinho.
Luis Humberto sobreviveu, após a célebre diáspora na UnB, em 1965, fazendo fotografia para órgãos de imprensa. "Ele tinha um olhar politizado, e num conhecido registro, há o enfoque para um tapete vermelho, com imagens apenas de pernas e pés dos
membros do governo em fila, numa espécie de beija mão. Eles esperavam a vez de cumprimentar um dos mandantes militares da época. Há um retrato da subserviência ali", pontua o amigo. Reconsiderando a carreira do amigo, Coutinho lembra de uma série de
fotografias sobre Brasília também onde o mestre consegue transmitir a sensação de espaço, por muitos encorajante de solidão.
"Acho que ele transmite o espaço imenso de Brasília e a figura humana presente neste espaço. São imagens que ficaram célebres.
Há uma série de fotografias feitas no apartamento dele em que mostra uma imaginação enorme", sublinha professor Coutinho.
As composições perfeitas, ainda que a serviço de momentos banais, pelo efeito de luz, são recondicionadas. "Mesmo nas fotografias feitas da janela de casa, com registro de crianças brincando, há extremo lirismo e senso poético. Além da qualidade técnica, com efeito de luz e sombra, as fotografias do Luis Humberto se destacam pelo componente humano", enfatiza.
Influente
No cinema, Luis Humberto tomou parte do documentário Barra 68 -- Sem perder a ternura, com participação central, ao recapitular perseguição política. Autor do filme, Vladimir Carvalho comenta: "A cidade deve muito a Luis Humberto, pelo papel de inserção da fotografia entre a cultura de modo geral. Milton Guran e André Dusek, por exemplo, foram pessoas marcadas pela inspiração dele".
"Luis Humberto tornou-se um mestre da fotografia. Ele tinha uma facilidade de comunicação com os alunos e um espírito muito sarcástico, muito crítico; sempre muito bem humorado. Trazia piadas hilariantes dos cenários acadêmico e político. Dados já traduzidos nas fotografias. Ele tem uma fotografia do Mário Henrique Simonsen (ministro da Fazenda) que é notável. Ele captou o ar de enfado, a cara meio ébria. Uma imagem que dispensava legenda (risos). Há sempre recompilações da obra dele, que
sempre será muito homenageado"
José Carlos Coutinho, arquiteto e professor
Outra personalidade sempre impressionada por Luis Humberto é o fotógrafo e galerista Kazuo Okubo, ainda que nunca tenha sido aluno do mestre, nem tenha atuado no fotojornalismo. "Tenho, no talento do Luis Humberto uma referência nacional muito acima da curva. Na promoção, anos atrás, de um festival de leitura de portfólio, entre muitas figuras da fotografia brasileira, Luis pairou
como unanimidade. Iatã Canabrava, Eugênio Sávio e Carlos Carvalho foram referências nacionais que queriam muito estar perto dele, até para reverenciá-lo", conta Kazuo. Ele destaca haver traços personalísticos e de sensibilidade contagiantes em Luis Humberto. "Como professor da UnB, ele formou uma leva de profissionais maravilhosos. É um ícone da nossa cidade para a
fotografia brasileira. A forma como ele mostrou Brasília nas suas imagens é algo fantástico", ressalta. Entre registros escritos da carreira de Luis Humberto, destaque para o ensaio de autoria dele Fotografia: universo e arrabaldes e o livro que traça um perfil do mestre A luz e a fúria (coleção Brasilienses), de autoria da repórter Nahima Maciel, do Correio.
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