LITERATURA

Raphael Alberti narra história de agente duplo e do cenário político brasileiro dos anos 1960 em novo livro

'O espião silenciado', do historiador Raphael Alberti, chega às prateleiras pela Cepe Editora, de Pernambuco

Devana Babu*
postado em 10/02/2021 06:00
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Em 13 de março de 1963, um ano antes do golpe militar de 1964, o jornalista José Nogueira morreu após cair da sacada do apartamento em que morava no Rio de Janeiro. A polícia civil encerrou o caso apressadamente, relatando que se tratava de um acidente, baseada apenas em um depoimento do proprietário do imóvel: Nogueira costumava tomar uísque escorado no parapeito, após o expediente.

Na verdade, Nogueira era um espião e agente duplo que trabalhava tanto a serviço da esquerda quanto da direita, em um momento histórico marcado pela guerra fria e pela polarização política no país. Era o principal informante da CPI do Ibad-Ipes, dois órgãos que faziam propaganda anticomunista e, patrocinados pelos Estados Unidos, conspirava pela queda de João Goulart e ajudaram a tramar o golpe militar no Brasil. Nogueira havia feito graves denúncias contra organizações de extrema direita, da qual participava — ou nas quais estava infiltrado.

É deste ponto que o historiador carioca Raphael Alberti parte para esmiuçar o cenário político brasileiro dos anos 1960 e o golpe que estava em gestação, revelando alguns fatos inéditos e perspectivas pouco exploradas pela historiografia do período. Após 10 anos de intensas pesquisas, o livro O espião silenciado chega às prateleiras pela Cepe Editora, de Pernambuco. “Decidi escrever o livro, porque é uma história extremamente fascinante, e é como se fosse uma microesfera do que era a Guerra Fria naquele momento. Você consegue explicar a Guerra Fria e as conspirações para o golpe de 1964 por meio da história particular desse espião”, analisa Alberti, em entrevista ao Correio.

Entre as informações mais chocantes, estão a revelação de uma organização chamada Ordem Suprema dos Mantos Negros, uma versão brasileira dos supremacistas da Ku Klux Klan que usava trajes como os da versão norte-americana e odiava negros e nordestinos.

A história do livro, que tem traços de mistério, suspense, ação e conspiração política, está sendo adaptada por Alberti e Vitor Garcia para o cinema. Os dois historiadores já produziram o roteiro. A história terá adaptações, como a modificação de datas e a inclusão de novos personagens. “Notamos que o livro tem uma predominância de atores sociais homens, então a gente vai criar personagens femininas também”, explica Alberti. O próximo passo é encontrar uma produtora interessada em transpor a história para as telas.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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O espião silenciado
De Raphael Alberti. Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), 2020. 140 páginas. R$ 30 (versão impressa, à venda pelo site da editora — www. cepe.com.br/ lojacepe/
um-espiao-silenciado) ou R$ 8,90 (e-book, pela Amazon, Kobo, Wook, Google Play e Apple).

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