“A literatura é um fetiche porque ela é sagrada”, afirma, em entrevista ao Correio, o crítico literário Italo Moriconi, carioca que cresceu em Brasília. Ele acaba de lançar, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) o livro Literatura, meu fetiche, coletânea de ensaios produzidos durante a penúltima década para sites, publicações acadêmicas e apresentações orais.
Professor universitário, poeta, biógrafo e antologista, Italo é organizador de compilações como Os cem melhores contos brasileiros do século e Os cem melhores poemas brasileiros do século. “Quando digo que a literatura é o meu fetiche, é no sentido de que ela é um objeto de devoção da minha parte, sobre o qual me debruço de maneira ávida, procurando um gozo particular”, conceitua.
A obra é organizada pelas escritoras e professoras de teoria literária Ieda Magri e Paloma Vidal, de quem partiu a ideia de produzir o livro. Os textos foram revistos e atualizados pelas organizadoras, em constante diálogo com Italo, um trabalho a seis mãos. “Foi uma curadoria afetiva conjunta”, pontua Italo.
Fruição
Na primeira parte da publicação, encontram-se ensaios gerais sobre a literatura contemporânea a partir dos anos 2000, analisando mudanças proporcionadas pela cultura digital e novas dinâmicas de circulação e fruição da arte. A segunda parte, tem textos sobre autores como Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Torquato Neto e Michel Foucault. “Um dos meus argumentos, no livro, é que a gente precisa acreditar que a literatura tem valor próprio, a priori, para que a literatura consiga sobreviver. Então eu, na verdade, faço um elogio da literatura como um fetiche”, considera.
Em cada texto, pulsam algumas das preocupações centrais do autor: a defesa de uma nova pedagogia, a via de mão dupla com o mercado e o reconhecimento de novas vozes e atores no campo literário. “A partir dos anos 2000/2010, a vida literária vai assumir uma dimensão mais próxima do mercado e das relações profissionais. Vão surgir circuitos de fabricação de celebridades, a influência da televisão. A relação com as editoras, às vezes no circuito de editoras pequenas, vai ser mais determinante do que a participação no mundo da cultura e da crítica universitárias”, explica. “Esses meus textos são marcados pela defesa de uma pós-graduação em literatura, que seja formadora de profissionais do livro para o mundo editorial e midiático. Estão muito marcados por esse caráter do fetiche como algo positivo.”, conclui.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Literatura, meu fetiche
De Italo Moriconi. Cepe editora. 228 páginas. R$ 45 (impresso) e R$ 18,90
(e-book), à venda pelo site da editora (www.cepe.com.br/lojacepe/) ou nas livrarias. Live de lançamento hoje, às 19h, pelo canal da editora no YouTube, com conversa entre Italo Moriconi, Ieda Magri e Paloma Vidal com mediação de Schneider Carpeggiani.