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Podcasts e audiolivros consolidam mercado do áudio como alternativa de entretenimento durante a pandemia

Agora existe a possibilidade de não somente ler um livro, mas também de escutá-lo. Pode ser antes de dormir, enquanto lava louça, durante uma corrida ou em outras atividades. A mesma companhia do áudio é possível com os podcasts, que apresentam episódios com diferentes temáticas. Na pandemia, esses produtos sonoros chamaram atenção do público, que também os levou a se aventurar na produção deles.

Nos últimos anos, o virtual teve um crescimento constante e tende a continuar assim. Segundo a pesquisa realizada pela Nielsen Book, pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o faturamento com livros digitais cresceu 140%, ao comparar 2019 com 2016. Para os podcasts, a empresa Deloitte previu o amadurecimento do mercado em 2020, com a movimentação de U$ 1 bilhão.

Ricardo Camps é diretor e sócio-fundador da Tocalivros, empresa voltada para produção de audiolivros. Segundo dados divulgados pela assessoria, o faturamento da companhia de 2019 para 2020 praticamente quadruplicou. “A pandemia mostrou o quanto o digital é importante e o quanto ele está aqui para ficar. Uma vez que esse novo costume do digital se torna habitual, a previsão é que o crescimento continue”, analisa o diretor.

Em Brasília, André Calgaro fundou a Narratix, produtora de audiolivros e conteúdos falados, em 2018. A demanda pelos produtos e serviços ofertados, segundo ele, aumentou durante a quarentena. “As pessoas passaram a buscar formas alternativas de entretenimento devido às restrições de deslocamento e de convívio, impostas pela pandemia”, compartilha o fundador. “O formato digital é uma tendência inescapável. Audiolivros, podcasts e assistentes de voz são amostras que nossa relação com o áudio está mudando de forma radical”, complementa.

A roteirista Sofia Todd, de 23 anos, utilizou a quarentena para ter o primeiro contato com o formato audiolivro, escutou a obra Drácula e pretende continuar com Os irmãos Karamazov, de Dostoievski. Ela decidiu ir atrás do modelo, após ver uma apresentação da plataforma Audible, empresa voltada para a venda do entretenimento por meio do áudio, feita por uma mulher que acompanha no YouTube. “Eu gostei muito do formato. Geralmente, escutava enquanto limpava a casa, fazia crochê ou jogava videogame”, diz.

Produção

André Calgaro chama atenção ao dizer que o audiolivro não é uma versão do físico. “É uma linguagem própria, riquíssima, complexa, apaixonante e ainda pouco explorada”, explica. Ao descrever os passos, diz que tudo começa com a análise da obra. A partir disso, vem o casting, que é a seleção do narrador. Depois, existe o período de discussão com o diretor, que antecede as gravações. Após registrar o áudio, tem a edição, masterização, revisão e as etapas de controle de qualidade.

O tempo de duração de um audiolivro depende de cada obra. Para exemplificar melhor, Ricardo Camps utilizou o livro Guerra dos tronos, de George R. R. Martin, que tinha um elenco com mais de 30 narradores, levou de quatro a seis meses para finalizarem a produção. “Tem toda uma análise artística de preparação para depois entrar em estúdio, gravar, editar, mixar e masterizar, até deixar o produto pronto”, pontua o diretor.

Programas

Imagine gravar um podcast com uma pessoa que está do outro lado do mundo... É o que ocorre com a jornalista Ana Carolina Alves, de 24 anos, brasiliense que, atualmente, vive na Austrália. No momento em que viveu o lockdown lá, entendeu que seria uma boa oportunidade para criar um podcast e assim surgiu o Epifanias. “Sempre tive em mente começar um (podcast), mas não era prioridade. Vi que era o momento perfeito e também queria um jeito de juntar jornalismo com a vida on-line”, conta.

Antes de criar o podcast Epifanias, Ana Carolina fez todo um planejamento e estudo sobre o formato. “Levou um mês mais ou menos para eu decidir como seriam os episódios, a duração e conseguir o equipamento”, afirma. Segundo ela, decidir os temas foi fácil, uma vez que se considera eclética e é de gêmeos, signo que indica gosto por conversar. Seja sobre sororidade, empreendedorismo, padrão de beleza, ansiedade, entre outros assuntos, o desejo da jornalista é de gerar conhecimento. “Comecei a pensar na sensação de epifania, quando você tem aquele clique e tudo começa a fazer sentido. São temas que eu e meu público-alvo nos interessamos.”

Os irmãos brasilienses Davi Moraes e Rodrigo Moraes, de 21 e 23 anos, criaram o Papo de brother, um podcast descontraído sobre os mais diversos temas. “A ideia inicial era pegar pessoas para falarem sobre temas que não fossem da especialidade delas. Por exemplo, alguém de engenharia falar sobre culinária”, conta Davi sobre os episódios que estão disponíveis nas plataformas digitais.

Para gravar, não precisam de muito. Utilizam o aplicativo Discord, feito inicialmente para ser um meio de bate-papo para jogos, mas que gerou a possibilidade da gravação de voz para o podcast. “No começo, tínhamos um pouco de dificuldade com isso de registrar a voz. O Discord tem uma forma de gravar a sua conversa, o áudio da pessoa e o seu. Aí você junta por um programa no computador e, no caso, eu usava o Garage Band”, relata Davi, que ressalta a facilidade oferecida pela tecnologia e sobre como isso facilita para que cada um possa se aventurar na tendência dos conteúdos de áudio.

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira