A banda Carne Doce lançará nesta sexta-feira (29/1) o primeiro remix da carreira da banda. A caçada, penúltima faixa do recém-lançado álbum Interior, inspirada em conto homônimo de Lygia Fagundes Telles, foi a escolhida para ganhar uma versão dub produzida pelo norte-americano Victor Rice.
Nascido em Nova York e radicado no Brasil desde 2002, o músico, produtor e engenheiro de mixagem trabalhou com nomes internacionais como The Slackers, Chris Murray, e, no Brasil, trabalhou com nomes como Marcelo Camelo, Mallu Magalhães, Curumim, Anelis Assumpção, Tulipa Ruiz e Elza Soares. As duas últimas parcerias lhe renderam o Grammy Latino pelas mixagens dos álbuns Dancê, de Tulipa, e A Mulher do Fim do Mundo, de Elza.
Rice é bastante conhecido também pelos álbuns Dub side of the Moon, Radiodread e Easy Star's Lonely Hearts Dub Band, que se debruçam sobre obras das bandas Pink Floyd, Radiohead e Beatles, respectivamente. Formado pela Manhattan School of Music, ele começou a carreira no final dos anos 1980 na cena de ska e música jamaicana, como baixista e produtor. Atualmente, mantém um estúdio no Edifício Copan, no centro de São Paulo.
Analógico
Quando contratado para fazer remixes de diversos artistas, como no caso da Carne Doce, Rice tem um processo peculiar de trabalho: ele faz as mixagens todas em tempo real, utilizando a mesa e equipamentos de som. Para que não haja dúvidas, os vídeos originais são todos postados no canal dele no YouTube.
Na sexta-feira, além das plataformas digitais de música, A caçada dub chega com um vídeo da performance na íntegra, postado no canal da Carne Doce no YouTube, mas com o áudio já masterizado. A mixagem, no entanto, é exatamente a mesma. Na terça-feira, a banda publicará ainda uma entrevista em que o produtor fala sobre o processo criativo. “Isso é parte da defesa dele do dub. Na entrevista que fiz com ele, no final de semana passado, quando pergunto o que ele entendia por dub, ele fala que, para ele, é uma performance ao vivo do engenheiro de som. Então, para ele, é muito importante mostrar o que está fazendo ali, em uma mesa analógica, que ele não está utilizando plugins ou programas de computador para fazer a mix”, comenta Macloys, guitarrista da banda.
A produção, originalmente, estava destinada a um material bônus, e exclusivo, que seria lançado pela banda junto ao vinil do álbum Interior. Além da versão principal, Rice entregou outros cinco diferentes remixes. "Do (remix) um até o cinco, é um processo crescente de desconstrução da música. O dub um é mais tranquilo, e o dub cinco é completamente desconstruído e bem frito”, conta Macloys. Os planos para lançar o vinil com material bônus ainda estão em suspenso.
Raízes
Macloys e Salma, vocalista da Carne Doce e companheira de Mac, como os colegas o chamam, não são propriamente aficionados por dub. Mas João Victor (guitarrista), Anderson Maia (baixo) e Fred Valle (bateria) são grandes fãs do gênero.
Fred, que entrou na banda em 2019 trazendo uma gama de novas influências, foi baterista do guitarrista Junior Marvin, fundador da banda The Wailers ao lado de Bob Marley. Fred acompanhou o lendário regueiro em turnê no final dos anos 1990. "Eu não sei como o Fred chegou nele, ou ele no Fred, mas ele (Marvin) estava no Brasil e viu o Fred tocando e falou: esse cara consegue tocar reggae. Imagine! O guitarrista original do The Wailers, que tocou com Bob, chegou no Brasil e escolheu o Fred para tocar na banda dele!”, empolga-se Mac.
*Estagiário sob a supervisão de Roberta Pinheiro