Documentário

Jovem trans filma transição: 'Queria mostrar a outros jovens que as coisas podem melhorar'

Documentário mostra os desafios de crescer pelo olhar de de Lily, bem como o impacto que família e internet provocam no processo

BBC - Britânica Lily, de 20 anos, cresceu em uma cidade pequena, onde enfrentou mal-entendidos e preconceitos


Crescer em um lugar pequeno pode ser desafiador para qualquer adolescente — muitas vezes, não há muito o que fazer e qualquer tipo de desvio do que é considerado a norma chama atenção.

Para uma adolescente trans, isso é amplificado — como a britânica Lily, de 20 anos, explica em um novo documentário da BBC Three, Lily: A Transgender Story ("Lily: A História de uma Pessoa Trans", em tradução livre), sobre sua vida e experiência em transição.

"Foi difícil crescer em um lugar pequeno", diz ela. "Acho que sabia, desde quando era muito mais jovem, que realmente não me encaixava, mesmo antes de começar a transição."

"Não tinha muitos amigos. Por estar em uma cidade muito pequena há muita ignorância, infelizmente — e isso se aplica a qualquer minoria. Quando comecei a transição, tinha um grupo muito bom de amigos ao meu redor e isso me ajudou muito, porque parei de pensar em todas as pessoas negativas."

Os pais de Lily também foram uma grande fonte de apoio — e aparecem no documentário ao lado dela —, mas outro elemento importante para ela perceber quem era foi a internet.

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Lily quer mostrar a jovens trans como ela que as coisas podem mudar

'Vi uma pessoa trans pela primeira vez no YouTube'

"Quando tinha cerca de dez anos, descobri a primeira pessoa trans no YouTube", diz Lily, natural de Aberystwyth, uma cidade de 18 mil habitantes no País de Gales. Ela também tem seu próprio canal, onde fala abertamente sobre sua transição (mas admite que não posta vídeos há um tempo e prefere o Instagram atualmente).

"Acho que foi um YouTuber que eu já estava acompanhando que se revelou trans", explica. "Realmente não dei muita atenção de início, porque minha mãe e meu pai sempre me criaram de uma maneira muito inclusiva e sou uma pessoa muito aberta, mas acho que talvez algumas semanas depois, não conseguia parar de pensar sobre a ideia."

"Foi como, 'isso faz muito sentido, tive esses sentimentos toda a minha vida que não conseguia processar, agora aprendi que nem todo mundo se sente assim, e isso pode significar algo'. Foi assim que basicamente descobri uma grande parte de mim."

Ela começou a transição social — contando às pessoas sobre seu gênero, usando pronomes femininos e se vestindo de acordo — enquanto estava na escola, e diz que, embora tenha sofrido alguns "comentários sarcásticos", seu grupo de amigos novamente foi uma fonte de apoio.

Uma das razões dela para fazer o documentário foi mostrar a outros adolescentes trans que existem pessoas como eles por aí — e, com sorte, mostrar àqueles que não estão informados, ou mesmo que praticam discriminação contra pessoas trans, que ela é apenas uma garota vivendo uma vida normal.

"Espero e oro pelo dia em que uma criança possa fazer uma transição suave e facilmente sem julgamento, especialmente de colegas na escola. Mas essa é a realidade", diz ela.

Embora as pessoas trans estejam se tornando mais visíveis e aceitas em muitas áreas — o ator Elliot Page foi elogiado por muitos na comunidade LGBT ao se declarar trans, e o Estado americano de Delaware recentemente elegeu o primeiro senador estadual trans dos EUA — também há muito discurso de ódio e debate sobre se os direitos básicos de pessoas trans afetam as mulheres cisgênero.

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Lily diz que teve apoio da família

Claro, a história de Lily é singular, e a experiência de cada pessoa trans pode ser diferente, mas ela diz que, às vezes, se sente compelida a defender a si mesma e outras pessoas trans online.

"Como uma pessoa trans, apenas acordar todos os dias e sair de casa já é um ato político", diz Lily.

"Mas não importa se você tem uma plataforma grande ou pequena e seguidores, você tem que falar e lutar por aquilo em que acredita."

"Sempre defenderei a mim mesma e minha comunidade e nunca poderia deixar outro membro de minha comunidade ser diminuído por outra pessoa. Não acho que a luta pelas pessoas trans acabará tão cedo."

Discriminação

"É difícil alguns dias, você acorda e vê outra pessoa na TV ou na internet discriminando as pessoas trans e é cansativo", diz.

"Eu e meu namorado conversamos muito sobre isso, e ele sempre diz: 'Se essas pessoas pudessem conhecê-la e ver o quanto você é uma pessoa normal, apenas tentando viver sua vida, você não está afetando ninguém ...' acho que eles mudariam muitos de seus pontos de vista. É como se eu tivesse apenas 20 anos! "

O namorado de Lily, Adam, também aparece no documentário — o casal se mudou para a casa dos pais de Lily durante o lockdown, e ele estava lá para apoiá-la ao lado de seus pais quando sua cirurgia de redesignação de gênero foi adiada devido à pandemia de covid-19.

Os dois se conheceram em Birmingham, na Inglaterra, para onde Lily se mudou antes de o vírus se alastrar pelo mundo, e ela ri quando se lembra de como foi a conversa em que contou a ele que era trans.

"Acho que ele descobriu sozinho!", lembra. "Ele encontrou um vídeo anterior online e assistiu sem me avisar. Foi engraçado, acho que sentei com ele um dia e disse, 'Adam, preciso te contar uma coisa, e ele disse, 'sim, eu já sei'."

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Cirurgia de redesignação sexual de Lily teve que ser adiada devido à pandemia de covid-19

"Tenho muita sorte de ter um parceiro tão solidário e de mente aberta. Às vezes uma conversa dessas pode colocar tudo a perder. É assustador ter essa conversa quando você conhece alguém de quem realmente gosta, você não quer que isso mude a forma como alguém vê você. "

"Algumas pessoas começam a pensar, oh, ela é trans, isso significa que eu sou gay? E não havia nada disso com Adam, ele só queria me conhecer como eu sou".

Esse é o tipo de resposta que ela diz esperar das pessoas que assistem ao documentário.

"O principal motivo pelo qual eu disse sim a tudo isso e me inscrevi para tudo isso foi que eu só queria mostrar a alguém lidando com algo assim que estou vivendo minha vida, está melhorando."

"Adoraria a ideia de alguém assistindo isso que talvez não tivesse a mente tão aberta em relação à comunidade trans e talvez tenha terminado o documentário com uma perspectiva diferente. Estou muito animada para que as pessoas o vejam."


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