Era verão em Salvador e o ano, 2019, quando Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Mateus Aleluia, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Alcione, Jorge Ben Jor, Nelson Rufino e Zeca Pagodinho se juntaram para dar vozes as canções do disco Obatalá: Uma homenagem a Mãe Carmen. O álbum, composto por 17 músicas sobre orixás, celebra a iyalorixá do terreiro do Gantois que dá nome ao material, destacando a importância do candomblé para a cultura brasileira.
Na época da gravação, que ocorreu no estúdio de Carlinhos Brown, no Candeal, Flora Gil, que foi a produtora artística, a convite de Iuri Pass, do grupo Ofá, e também filho de santo do terreiro de Gantois, e Leticia Muhana, coordenadora do projeto, acompanharam de perto o trabalho do fotógrafo paulista André Sant’Ana, responsável pelos registros para o arquivo do conteúdo. A dupla, então, percebeu que havia mais um braço do projeto, que já havia gerado um CD digital e físico, com encarte ilustrado e traduções das músicas do iorubá para o português, além de um vinil.
“Com o passar dos dias vimos a importância do material filmado e fomos buscar parceiros para captarmos mais imagens fora do estúdio, dentro e fora do terreiro do Gantois, cenas da cidade de Salvador e também depoimentos dos cantores, que não puderam gravar no estúdio de Carlinhos Brown. Como Ivete Sangalo, Gal Costa e Marina Monte”, explica Flora Gil. Assim nasceu a versão documental que estreia em 10 de janeiro (amanhã), às 23h, na Globonews.
Formato do filme
Composto por 55 minutos, o filme traz os bastidores da gravação do álbum, que são conteúdos “emocionantes e raros”, como define Flora, citando “a entrega dos artistas e dos músicos debruçados nos orikis — cantados em iorubá — dos orixás”. “A emoção tomou conta do estúdio. Aqueles dias de gravações no Candeal mostraram o respeito, a consideração, o amor e principalmente a trajetória histórica muito importante de luta do povo vindo da África. A beleza e a força do projeto são decorrentes dessas manifestações”, completa a produtora.
Um dos objetivos do documentário é tentar quebrar as barreiras de um país ainda intolerante com as religiões de origem africana. “O candomblé da Bahia e o do Brasil foram perseguidos ostensivamente. O registro das gravações reforçam a importância da religião de matriz africana. Mãe Carmen e a casa de candomblé do terreiro de Gantois foram extremamente generosas na autorização do projeto do disco e agora do documentário”, destaca Flora. “Nesses tempos de intolerância um documentário como esse pode se contrapor aos ataques políticos e religiosos ao candomblé, mostrando seu valor e sua importância”, acrescenta.