ENTREVISTA

Juliano Cazarré fala ao Correio sobre novo filme: 'Dente por dente'

Ator fala com exclusividade sobre o novo trabalho e também analisa o momento difícil da pandemia

Ricardo Daehn
postado em 28/01/2021 06:00
 (crédito: Vitrine Filmes/Divulgação)
(crédito: Vitrine Filmes/Divulgação)

Mais uma vez, o audiovisual une os talentos de Juliano Cazarré e de Paolla Oliveira: com o filme Dente por dente, que chega aos cinemas do país, o casal na ficção da novela Amor à vida (2014) se reúne, mas em outra tonalidade: uma trama de suspense e acerto de contas incrementa o longa-metragem assinado pela dupla de cineastas Pedro Arantes e Júlio Taubkin.

O encontro com Paolla novamente é feliz, e desperta a gratidão de Juliano Cazarré, um quarentão bem família, gaúcho de Pelotas, mas com ampla influência de Brasília, a cidade na qual foi acolhido por anos. “Nossa profissão é um privilégio: de ser algo divertido e, em alguns casos como os nossos, ainda remunera bem a pessoa. Eu aprendi muito com a Paolla a ser grato com a nossa profissão”.

Estar nas telas do cinema deixa Juliano Cazarré, dono de opiniões fervorosas, exposto nos holofotes, mas igualmente suscetível a críticas. “Muitas vezes, eu vejo que eu posso não estar falando o que a maioria dos meus colegas acha, mas, é aquilo que a maioria dos brasileiros acha e isso me dá força para continuar. O que normalmente eu faço é colocar na roda o senso comum, e é o que falta nas discussões. Mas, confesso que eu deveria e gostaria de ficar mais em silêncio, às vezes”, comenta.

Falar de cinema com Juliano não necessariamente desperta consenso. Ele, por exemplo, reforça que a cultura brasileira é riquíssima, e que não aconteceu por causa do Ministério da Cultura (atualmente inativo). “Não foi por ele que criamos a capoeira, o forró, o chamamé, o vanerão, a umbigada, a ciranda, o carnaval, a festa de Parintins. Tudo isso nasceu da alma do povo brasileiro. E eu sinto que, com o cinema, é a mesma coisa: nós temos excelentes profissionais, temos gente criativa, técnica, mas de alguma maneira está tudo atrelado à política. Eu acho que se conseguirmos nos desvencilhar disso e fazer um cinema em que a relação seja mais direta entre o público consumidor e a pessoa que está fazendo, vamos conseguir ganhar com isso. Acredito que grandes empresas podem investir no cinema de arte para ele sobreviver”, avalia.

O Dente por dente fala de sonho. Quais são teus sonhos na vida e os de momento, aqueles mais imediatos?

Meu sonho na vida é conseguir criar bem os meus filhos para um mundo complexo. Meu sonho é criar pessoas legais para um mundo que está carente de pessoas legais. Esse é aquele a longo prazo. E a curto prazo, eu peço muito a Deus que eu consiga terminar a obra aqui que eu estou fazendo com a minha esposa. Estamos fazendo uma casinha nossa, e eu espero que a gente possa morar nela e ser feliz por bastante tempo.

Quais são as grandes qualidades de Paolla Oliveira, sua parceira em Dente por dente, e que química desenvolveram na carreira concomitante?

A Paolla tem o mérito de ser uma pessoa bem acessível. Ela não é a estrela difícil de você conversar. Não é aquela pessoa que chega atrasada, que demora para se arrumar. Muito pelo contrário, ela chega e quer conversar sobre o trabalho. É uma atriz que gosta muito de trabalhar. Em Amor à vida, eu aprendi com ela a ver a gratidão que ela tinha em trabalhar com aquilo. Ela via tudo como um privilégio.

Onde anda o cinema brasileiro e qual o futuro para ele?

O cinema brasileiro está em uma encruzilhada política e acho que isso é consequência de a gente ter deixado o cinema se envolver muito com a política. Eu acho que a arte brasileira, de modo geral, tem que aprender a caminhar afastada da política. O problema é que a política brasileira se envolveu em todos os aspectos da nossa vida. Tudo no Brasil é regularizado, tudo precisa de um imposto e tem uma burocracia e precisa de um carimbo e, com o cinema, isso não é diferente. E eu acho que o que tem que acontecer é a gente tentar se libertar e trazer isso para a nossa vida. Temos que começar a pensar o cinema sem o Estado. A gente vê isso no mundo inteiro com casas de ópera, museus, balés que são mantidos pela iniciativa privada, e acho que temos que ir por esse caminho, invés de ficar realmente dependendo de Brasília para fazer cinema. Isso é a morte.

O que o Juliano consome, como espectador, ouvinte e leitor?

Eu acho que para todo mundo que falava que dava para viver sem arte, sem filme, e que artista é uma coisa supérflua, percebeu, com a pandemia, que essa visão é rasa e equivocada. A vida sem arte é uma mera sobrevivência. O que faz a gente diferente de tudo é ter a arte, a busca pela beleza. É o que faz a gente humano. É a cultura que nos diferencia dos animais. E, na pandemia, ficou claro que, por mais que a gente esteja confinado, através de um livro, de um filme, você consegue escapar do quarto em que esteja trancado. A pandemia mostrou que a vida sem a arte é um erro; não um desperdício.

Em que Brasília te aperfeiçoou? Quando sente que carrega uma herança candanga?

Eu peguei coisa das duas terras: tanto do Sul quanto do Planalto Central. Peguei muito de Brasília o amor ao ar livre. Amo fazer esporte ao ar livre, amo a natureza, a cachoeira, a praia. Lembro-me muito da minha juventude indo para a Chapada dos Veadeiros, com certeza isso me influenciou muito. E fora isso, toda a minha formação artística aconteceu na Universidade de Brasília (UnB). Eu sou muito grato à cidade e a universidade que fiz aí. O curso era muito bom e tive excelentes professores como Fernando Villar, Hugo Rodas, Marcio Duarte, Sônia Paiva e Rita Castro. Eu trago eles no meu trabalho, tudo que eu faço de alguma maneira.

Você é casado com uma bióloga e jornalista. O fluxo de informações da covid-19 deve estar intenso no seu cotidiano... O que tem aprendido acerca de ciência e de pandemia?

Estou um pouco saturado de tanta informação da pandemia. Procuro respeitar os protocolos quando eu saio de casa, mas, quando eu estou dentro de casa, eu tento não pensar em pandemia. Então, eu fico lendo sobre poesia brasileira, a história da igreja e estou estudando latim. E a Letícia (a esposa) está estudando história, eu acho que a paixão dela nos últimos anos é estudar sobre história do mundo. A gente tenta sair um pouco em pensar 24h no vírus.

Como você encara polêmicas e exposição pela mídia? Você é reservado?

Eu gostaria de ser mais reservado ainda, mas sinto que tem alguns assuntos que ainda preciso me posicionar. Principalmente porque eu tendo a não enxergar as coisas pelo ponto de vista hegemônico, tanto da mídia quanto de vários colegas meus, então eu sinto que preciso dar esse contraponto e aí é inevitável, às vezes, se meter em alguma polêmica. É ruim porque temos uma patrulha muito forte, então, quando você discorda da patrulha, você recebe essa carga negativa de volta, mas, ao mesmo tempo, sei que eu estou falando algo em que eu acredito e que é verdade, e que esse ponto de vista precisa ser defendido.

Qual o ideal de um cara antenado com o século 21? Em que momentos percebe que amadureceu, agora quarentão?

Sinto que os meus desafios não são mais os desafios do Juliano jovem, são os desafios de um homem adulto, de um pai de família. Penso na educação dos meus filhos e olho para o mundo com mais preocupação. Vejo as coisas acontecendo e fico preocupado, porque meu filho vai viver naquele mundo daquele jeito. E continuo rezando para que essa maturidade chegue trazendo sabedoria. Acho que algumas pessoas têm a graça de nascerem sábias, mas nem todas — e eu não sou uma delas. Então, peço sempre que Deus me ajude a ver as coisas com mais clareza e que Ele, através da graça, me conceda as coisas que eu mesmo não soube desenvolver.

Como ficou tua participação na novela Amor de mãe, que teve a questão da descontinuidade? E quais teus planos?

Amor de mãe começou e parou. Voltamos às gravações no final do ano passado e acabamos a novela. A segunda parte acabou ficando um pouco menor, e provei do gostinho do quero mais. Vontade de voltar para a telinha e fazer outra novela. Estou reservado para uma, mas sem o convite oficial. Gosto muito de fazer novela. No cinema, futuramente, estarei em Pluft, o Fantasminha. É um filme com pós-produção grande, por ser 3D. Há muitas cenas com os fantasmas. Estou muito ansioso que ele saia. Nele, fiz o Pirata da Perna de Pau. Quero que ele saia antes dos meus filhos ficarem adolescentes. Quero tê-los como público.

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