Baseado em uma história real, Umbrella, curta-metragem em animação criado, escrito e dirigido por Helena Hilario e Mario Pece, está qualificado para disputar uma vaga no Oscar de 2021 e se tornar a primeira produção brasileira a conseguir uma indicação na categoria que tenta entrar. O filme é um trabalho de quase 10 anos do casal, que antes trabalhava com pós-produção e composição em cinema, mas agora investe em animação.
“É o projeto da minha vida, é o projeto do Oscar”, brincava Helena, entre amigos, quando mencionava o que pretendia fazer depois da finalização de Umbrella. “Uma coisa é brincar que queria entrar no Oscar, outra é ler nas notícias que Umbrella pode ser o primeiro curta em animação nacional a chegar a premiação”, afirma a diretora, sobre até onde este projeto chegou.
Tudo começou quando Helena recebeu uma ligação da irmã, em 2011. A parente trouxe uma história de que tinha visitado um orfanato e abrigo em Palmas, no Paraná, para entregar presentes de Natal às crianças. No entanto, um menino não quis nenhum dos brinquedos. Quando perguntado o que ele queria, ele falou que adoraria um guarda-chuva. O motivo era que as últimas memórias que esta criança tinha do pai eram de um dia chuvoso e, na cabeça dele, ele precisaria de um guarda-chuva para reencontrar a família.
Desta triste história foi criada a delicada narrativa do menino Joseph. “Uma criança que mora em um orfanato e sonha em ter um guarda-chuva amarelo, até que encontra uma menininha que veio doar brinquedos, e ela faz com que ele relembre todas as histórias que viveu no passado”, explica a idealizadora.
“Foi uma história que tocou a gente de uma forma tão pessoal, porque a gente conseguiu ver a inocência de uma criança, a única memória afetiva que ele tinha naquela idade era a lembrança de um guarda-chuva”, conta a diretora, emocionada. Foi desse sentimento de empatia e da esperança desta criança que Helena e Mario decidiram escrever o curta. “Naquela situação um gesto generoso da minha irmã se tornou em uma coisa que transformou as nossas vidas”, completa.
A mudança foi realmente geral, ainda em 2011 eles escreveram o roteiro e começaram a se inteirar de como poderiam executar a história nas telas. Após estudo e experiência, a dupla, que na época morava nos Estados Unidos, voltou para o Brasil, em 2014, e abriu a Stratostorm, estúdio especializado em animação e criação de conteúdo. Todo este movimento foi feito para viabilizar o Umbrella, que viria a ser o primeiro filme assinado pelos dois. Ao todo foram 20 meses de produção contando da ideia em 2011 ao produto final em 2019.
No entanto, agora, todo esforço gerou frutos e as expectativas de serem indicados ao Oscar começam a crescer. “Dá aquele friozinho na barriga, mas nossas expectativas estão boas. A gente quer frisar que o Umbrella pode ser, sim, o primeiro curta-metragem de animação brasileiro a ser indicado ao Oscar na história. Fico até arrepiada em falar”, comenta Helena que aguarda ansiosamente o 9 de fevereiro, quando será divulgada a pré-lista de indicados ao Oscar. “Daqui até fevereiro é a gente indo na raça, fazendo com que as pessoas prestem atenção no filme, assistam, compartilhem e levem a voz do Brasil para todos os cantos”, acrescenta.
Onde Assistir?
Umbrella está disponível até o dia 21 de janeiro para ser assistido
de forma gratuita no canal do YouTube da Stratostorm.
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Os desafios da animação
“Fazer uma animação bem-feita requer muito tempo de trabalho e muitas pessoas”, avalia Helena Hilario. “A escolha por este gênero foi pensada desde o princípio do roteiro por conta da emoção que queriam passar para os personagens. “Desde o início, decidimos que não teriam diálogos. Seria um curta-metragem só com música. Então havia um conjunto muito grande de coisas que teriam que dar certo e sair muito bem-feitas para que, de fato, o filme se tornasse o que é”, lembra a criadora da história.
São personagens em 3D, com olhos grandes e emoções muito bem definidas e que tiveram como base familiares de Helena. “O Joseph é inspirado visualmente no meu sobrinho, a mãe é minha irmã, a senhora do orfanato parece a minha mãe. Cada pedacinho do projeto se relaciona comigo”, pontua a cofundadora da Stratostorm. O curta mistura texturas e faz uma animação cuidadosa de personagens. O projeto passou pela mão de profissionais que trabalharam em grandes produções, como The Mandalorian, O rei leão, Moana, além de outras animações da Pixar e filmes da Marvel.
Por fim, eles precisavam de uma música que desse toda emoção que precisavam. Convidaram então Gabriel Dib, compositor de trilha sonora que trabalhou em séries como Castle e Criminal Minds, que fez toda a música do curta. “Ele fez uma trilha maravilhosa, com referências de coisas que a gente gostava, mas uma música original e muito bonita que eleva a emoção do espectador nos momentos certos do filme, nos momentos que queríamos que as pessoas se emocionassem e que imaginávamos que são os ápices do Umbrella”, analisa a diretora. “E depois da composição, nós tivemos a felicidade de gravar com orquestra em uma sessão de quatro ou cinco horas em que eu chorei do início ao fim. Foi realmente um sonho”, relembra.
Com o curta pronto e rodando festivais pelo mundo o sentimento de Helena Hilario é de orgulho de que esta história pode alcançar o coração de outras pessoas. “As poucas vezes, antes da pandemia, que nós tivemos oportunidades de mostrar o Umbrella, o mais legal era ver que o curta não era só emocionante para mim, que ele fala com todas as idades, todas as nacionalidades. Esse foi o maior reconhecimento até agora”, comemora a criadora.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira