O mundo da música está em período de mudança. Com as novas demandas do mercado e a modificação no padrão de consumo, alguns nomes diversificaram as atividades e se jogaram na moda.
Grandes artistas estão se aventurando no setor e alterando a forma como as pessoas veem as marcas. Seja no Brasil, seja no exterior, os cantores têm agregado novo valor às roupas que ultrapassa a ideia básica de grife ou qualidade dos produtos.
Uma das maiores expoentes do pop nacional, IZA pensou em prestar vestibular para moda, mas acabou ficando com publicidade, curso em que se formou. “Tenho muitos desenhos que fiz quando era mais nova. Alguns postei durante a pandemia e até voltei a desenhar também nesse período”, conta IZA em entrevista ao Correio.
A fim de expandir os horizontes e dar vida a um sonho antigo, a cantora e compositora assumiu, em outubro passado, a direção criativa da Olympikus, marca brasileira de artigos esportivos. A carioca está à frente da campanha de dois modelos de tênis da marca, CS1 e OLY 001, e, em março, deve lançar uma coleção cocriada e assinada por ela.
“Sempre curti me montar com aquilo que tinha ao meu alcance. Estar à frente de uma coleção de uma marca tão importante é a realização de um sonho pra mim. Quero trazer minha personalidade para a Olympikus, quero que as pessoas me conheçam cada vez mais, reconheçam a marca em mim e vice-versa”, declara a dona dos hits Pesadão, Dona de mim e Brisa.
A coleção beberá da tendência Athleisure, com peças híbridas que podem ser usadas tanto em atividades físicas quanto no dia a dia. “A moda é um jeito importante de se expressar, de passar o que pensamos por meio das roupas. Acho que o esporte é conforto, é acesso, é conseguir se mexer, se sentir confortável fazendo o que mais gosta de fazer”, pontua.
Muito dos cantores que estão assumindo novos papéis e mergulhando no mundo da moda são negros, como Emicida, Beyoncé, Kanye West, entre outros. O momento reverbera representatividade e diversidade em um meio homogêneo. “Gosto da ideia de me relacionar com uma marca 100% brasileira, que caminha há tanto tempo ao nosso lado. Somos um povo muito diverso e acho importante falarmos da representatividade e da diversidade na moda. Todos nós temos formas diferentes e é importante que uma marca pense nas peculiaridades de cada um”, afirma a cantora.
Movimento no Brasil
O rapper Emicida, ao lado do irmão Evandro Fióti, usou o poder da música para dar vez ao coletivo Laboratório Fantasma. Criada em 2009 com foco em coletividade e cultura urbana, a loja virtual conta com produtos próprios desenvolvidos pela empresa em parceria com outros artistas. A marca se define como “um coletivo de amantes da arte urbana” e já ocupou diversas vezes o palco do São Paulo Fashion Week. Na passarela, a Laboratório Fantasma apresenta empoderamento e representatividade por meio de modelos fora do padrão. A escolha vai no mesmo rumo da proposta implementada por Rihanna na Fenty.
“A gente sempre entendeu que a Laboratório Fantasma é um ponto de encontro em muitas visões de mundo e muitos sonhos diferentes. O que acontece agora é que a gente consegue realmente exercitar e colocar de pé cada um desses sonhos, montando um time sempre bem seleto, bem apaixonado pelo que está fazendo e que, às vezes, não tem a oportunidade de exercer esse potencial em outros lugares. A gente está muito feliz com isso”, conta Emicida ao Correio.
Cena internacional
Grandes astros da música internacional estão na linha de frente da empreitada que mistura música e moda. Nomes como Kanye West, com a Yeezy; Pharrell Williams, com a Billionaire Boy’s Club; Beyoncé, com a Ivy Park; e Rihanna com a Fenty, já têm carreira e marcas consolidadas na moda. Em outubro, Pharrell e Beyoncé lançaram coleções em parceria com Adidas e Rihanna fez o segundo desfile Savage X Fenty.
“A publicidade sempre usou pessoas famosas para vender os produtos de determinada marca. Antes do Pharrell fazer sequer um tênis com a Adidas, ele já era modelo”, explica Maria Clara Abreu, cofundadora, ao lado de Iago Góes e Luiz Felipe Veleci, da Ablu Mag, plataforma de compartilhamento de conhecimento e discussão sobre pessoas negras na moda. “Quando eles entram como criativos, as pessoas entendem que não é só mais legal consumir aquilo porque a pessoa está usando, mas porque eles fazem parte do processo. Adiciona valores que pessoas acreditam a estas roupas e marcas”, completa.
Um bom exemplo está na cantora Rihanna que, na Fenty, começou a fazer maquiagens que contemplam uma variedade de tons de pele, e passou a colocar todos os tipos de corpos para desfilar na passarela. “Outras pessoas que não tinham espaço na moda foram incluídas pela Rihanna e estão sendo protagonistas neste novo movimento”, analisa Maria Clara. “E ainda virou uma coisa tão importante que ela parou de cantar pra fazer só isso”, brinca.
Outro aspecto importante é a mudança na forma de os cantores fazerem merchandising. “Não é só aquela coisa antiga de que o merchandising é uma camisa que você compra quando vai no show, com a capa do álbum na frente e as cidades da turnê atrás. É uma coisa muito mais elaborada”, pontua Iago Góes, levantando o exemplo do rapper Aminé, que pensou em conjunto um conceito que servisse para o novo álbum, Limbo, assim como para uma linha de roupas.
Relação artistas marcas
“As marcas destes artistas já têm um nome a ponto de a relação entre elas e as grandes marcas virar de codependência. Se a Beyoncé decidir virar as costas para a Adidas e vender a Ivy Park sozinha, ela vai continuar vendendo muito, lucrando e movimentando o mercado. Isso serve para os outros artistas também”, comenta Luiz Felipe Veleci. Para os especialistas, ao se relacionarem com marcas, as grandes estrelas vendem, mas também fortalecem o outro lado, blindando grandes empresas.
Os artistas negros estão presentes nestas relações e, segundo os criadores da Ablu Mag, isso é resultado da forma como a arte é tratada pela comunidade negra. “A galera da música participa de filme, escreve roteiro. Tem essa coisa na comunidade negra de já ter essa veia de ‘a gente faz arte’, não só música. A indústria da moda pegou isso”, conta Luiz.
“Os músicos abriram muitas portas também para pessoas não conhecidas ou conhecidas em outros meios se tornaram importantes no street wear”, adiciona Iago mencionando os casos de Virgil Abloh, atual chefe criativo da Louis Vuitton, e Mowalola Ogunlesi, estilista da próxima coleção Yeezy Gap, ambos introduzidos ao mundo da moda por Kanye West.
Colaborou Adriana Izel
* Estagiários sob a supervisão de Vinicius Nader
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