A covid-19 provocou variados impactos na sociedade. Entre eles, a maior busca pela religiosidade. Dados do Google Trends, plataforma que monitora pesquisas na internet, mostraram o aumento das pesquisas de termos como “Deus, fé, oração e meditação”, que atingiram o pico de popularidade em abril, um dos primeiros meses da quarentena em todo o mundo. A literatura também não ficou atrás e valorizou o tema nas obras recém-lançadas no país.
Autor de Jesus, Maria e Aparecida, o jornalista Rodrigo Alvarez lançou o segundo volume da série iniciada em Jesus, o homem mais amado da história. Intitulado Cristo (Editora Sextante), o livro narra os fatos que se seguiram após a crucificação de Jesus Cristo, como a trajetória dos apóstolos no início do cristianismo. “Esse livro começa de onde Jesus terminou. Eu precisava continuar a história que terminei na crucificação. Retornei com Jesus no alto da cruz perguntando a Deus, a quem ele chama de pai, por que foi abandonado. Conto tudo que gerou a partir da ressurreição de Jesus, do aparecimento diante dos apóstolos e como essa mensagem do Cristo ressuscitado foi se expandindo pelo mundo”, explica.
Em mais de 300 páginas, Alvarez compartilha um trabalho extenso de pesquisa histórica feito na última década. “Quanto mais pesquiso, mais descubro documentos importantes, pergaminhos que ficaram perdidos. Estou conseguindo encontrar as peças do quebra-cabeça, porque existem muitos estudiosos e acadêmicos se debruçando nos documentos que nos foram negados nos últimos dois mil anos”, comenta.
Escritos sagrados
A partir desse trabalho, o autor traz uma contestação sobre a criação da Igreja Católica. “Não existe nenhuma dúvida nos documentos históricos que o primeiro líder foi Tiago, irmão de Jesus. A congregação que Jesus conduziu não venceu. Quem conta a história para nós mostra essa linha do cristianismo que nasceu de Paulo, que foi um perseguidor de cristão e que nunca se deu bem com os apóstolos. Isso foi escondido ao longo da história em teses romantizadas de que foram Paulo e Pedro juntos (que criaram a Igreja)”, completa.
O jornalista destaca que, ao relatar isso no livro, não busca questionar o cristianismo. “Tenho um grande respeito pela fé. Não tenho nenhuma intenção de fazer as pessoas sentirem e mudarem a forma de sentir a sua fé. Deixo claro (no livro) o quanto eu vejo que há de positivo e que sobrevive na mensagem cristã. Não se trata de um autor desafiando o cristianismo, mas, sim, a história que foi contada. Você não precisa acreditar numa história errada para ter fé em Jesus Cristo. Você pode conhecer a história mais próxima dos fatos sem que isso desafie sua fé”, revela.
Além do livro, no YouTube (Antimatéria com Rodrigo Alvarez), o autor lançou uma série de três episódios roteirizados a partir de Cristo: Ressurreição, Sucessão e Primeiros cristãos.
Reflexões
Também é a partir do livro sagrado para os cristãos que o holandês Hendrik Willem van Loon (1882-1944) escreveu A história da Bíblia, que foi relançado pela Editora Nova Fronteira com tradução de Monteiro Lobato, prefácio de Mary Del Priore e ilustrações de Lelis. A publicação apresenta como e em quais circunstâncias foram produzidos os escritos da Sagrada Escritura.
No prefácio, a historiadora Mary Del Priore explica a proposta do jornalista: “Ele tenta responder às perguntas que os visitantes ou leitores do “monumento” poderiam lhe fazer. Não quis converter ninguém ou fazer proselitismo. Ele se fixou em um limite: dar seu ponto de vista, resultado de leituras e pesquisar. Revelar a riqueza de informações que existe ao longo deste fabuloso conjunto de documentos e de quem os produziu. Ajudar a compreender um livro que inspirou e inspira grandes filósofos, escritos e artistas”.
Otimismo
Logo no início do isolamento social em todo o mundo, o papa Francisco abençoou católicos da janela do Palácio Apostólico, no Vaticano, numa Praça São Pedro deserta, e proferiu um discurso que só pôde ser acompanhado pelos fiéis de casa. Na ocasião, o pontífice falou sobre como esse momento é um divisor de águas para a humanidade, em que poderemos sair melhores ou, então, retroceder drasticamente. Otimista, o líder da Igreja Católica acredita que a resiliência, a generosidade e a criatividade que brotaram durante a pandemia serão formas de resgatar a sociedade, a economia e o planeta em inúmeras formas.
Essa reflexão é o ponto de partida do livro Vamos sonhar juntos (Editora Intrínseca) escrito pelo jornalista e biógrafo Austen Ivereigh a partir das conversas com o papa Francisco — por isso, a autoria da obra é do próprio pontífice. Em quase 200 páginas, o papa analisa o quanto a crise sanitária global pode servir de ensinamento em relação às turbulências da vida.
O frade Frei Betto também aproveitou o momento da pandemia para compartilhar reflexões espirituais a partir do contexto da covid-19. Assim surgiu Diário de quarentena – 90 dias em fragmentos evocativos, lançamento da Editora Rocco, que é inspirado em Diário da peste de Londres, de Daniel Defoe, publicado em 1722.
Numa mescla de vivências e memórias pessoais que se mistura ao drama coletivo da quarentena, o livro traz o debate de que “nada é mais prejudicial à vida humana e à preservação do nosso planeta do que a própria humanidade”. Ficção e não ficção ainda se misturam para construir um panorama do que foi — e está sendo — a epidemia que fez o mundo parar.
Cristo
De Rodrigo Alvarez. Editora Sextante, 336 páginas. Preço: R$ 69,90 e R$ 39,90 (e-book).
Diário de quarentena — 90 dias em fragmentos evocativos
De Frei Betto. Editora Rocco, 155 páginas. Preço: R$ 44,90.
A história da Bíblia
De Hendrik Willem van Loon. Tradução: Monteiro Lobato. Editora Nova Fronteira, 288 páginas. Preço: R$ 39,90.
Vamos sonhar juntos: O caminho para um futuro melhor
De Papa Francisco. Tradução: Manuel Losa SJ. Editora Intrínseca, 160 páginas. Preço: R$ 34,90 e R$ 22,90 (e-book).